Phil, um americano defendendo o Brasil
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 24 de abril de 1985
Durante os 60 dias que passou em Daytona Beach, Flórida, acompanhando 15 estudantes de Curitiba que fizeram cursos de verão na Embry - Riddle Aeronautica ! University, o professor Phil Young foi noticia de destaque nos dois principais jornais daquela cidade - o "Daytona Beach Morning Journal" e o " The Daytone Beach Free Press", ambos com grande circulação em toda a área. O trabalho que Phil Young vem desenvolvendo há 3 anos na organização de cursos de Inglês, com estudantes brasileiros que vão aos Estados Unidos, e, especialmente, suas opiniões corajosas e independentes, justificaram um destaque na imparcial impresa americana.
Enquanto a jornalista Dayana Dupler, no "Daytone Beach Morning Journal ", abordou mais o trabalho de Phil como educador, o "The Daytona Beach Free Press "dedicou um quarto de sua primeira página da edição de 5 de março às afirmações que Phil fez durante um almoço palestra no grupo local da United Nations Associations, juntamente com outro membro de sua equipe, Kennedy Schisler, médico e professor de inglês.
Phil compareceu a uma reunião em que havia natural interesse pelo Brasil - sua politica, à violência nas ruas e as perspectivas com a abertura democrática. Falando francamente, Schisler e Young esclareceram pontos importante, que tiveram natural repercussão, Por exemplo, Kennedy Schisler começou afirmando que " o Brasil é hoje - 163 anos depois de sua independência de Portugal - uma colônia econômica dos Estados Unidos". Phil não deixou por menos em sua sinceridade : falou da inflação, que se aaproxima dos 300%, e que "infelizmente os salários não acompanham o custo de vida, atingindo, especialmente, mais de 70% da população que ganha o salário minio, aproximadamente 50 dólares por mês ". Young, 45 anos, há 20 no Brasil, ficou a carreira de professor universitário por uma escola alternativa de inglês, justificando, inclusive em termos financeiros :
- " Meu salário havia caído do equivalente de US$ 1.500 para 500 dólares mensais. Aliás, o poder aquísitivo das familias da classe média vem diminuindo a cada mês ".
Houve muitas perguntas sobre a situação social violência nas ruas, saques de supermercados, ação dos "trombadinhas " etc. - e Phil Young foi sincero nas respostas, mas mostrou, também, outros aspectos da realidade brasileira. Em suma, não deixou uma imagem negativa do Brasil. Ao contrário, após palestra, muitos americanos demonstraram interesse, inclusive, em vir conhecer o Brasil "especialmente o sul, que é um Brasil diferente, de caracteristicas européias" explicou o professor.
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" The Daytone Beach Morning Jornal " destacou a seguinte afirmação de Phil Young : uma das razões principais da distância cada vez maior entre custo de vida e salário é a divida externa do País. E demonstrando que hoje é muito mais brasileiro do que muita gente que aqui nasceu, Young foi corajoso em sua crítica.
- " Empréstimos por bancos defendidos pelo Fundo Monetário Internacional têm beneficiado companhias multinacionais no Brasil às custas do trabalhador médio brasileiro. E muitas dessas empresas estão sediadas aqui nos EUA. A pressão para pagar os empréstimos força o custo de vida e provoca a inflação".
Raciocinando claramente acrescentou :
- " Os bancos internacionais e o FMI não estão fazendo nenhum favor emprestando dinheiro ao Brasil.
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A eleição de Tancredo Neves para presidente da República também foi explicada pelo professor Phil Young, frisando que ela representava " uma transição politica para as eleições diretas ". Otimista com o futuro, mas realista em termos presentes, Young e Kennedy Schisler também abordaram a questão da produção de alimentos :
- " É necessário um maior estímulo do governo para a agricultura. Chega a ser ridículo que o Brasil tenha que importar alimentos, possuindo regiões com tanta riqueza natural ".
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Quem conhece Phil Young que além de professor de Inglês é, também, excelente cantor, embora de bissextas apresentações- sabe que ele caracteriza suas aatividades por uma absoluta sinceridade. Aliás, por isso mesmo seu curso é, hoje, um dos mais disputados da cidade, já que em turmas pequenas,com um grande aproveitamento didáticos, as aulas são dadas em torno de temas da atualidade, discutindo-se política, analisando-se aspectos da realidade internacionais - e sempre entremeado de cultura, música e cinema, este em concorridas exibições de video- cassetes inéditos, projetados nas noites de sexta-feira.
Apesar das propostas para aumentar suas turmas, Phil mantém uma escala reduzida. À jornalista Dayna Dupler, do "Daytona Beach Morning Journal ", explicou porque não quer crescer :
- " Sou péssimo administrador.Gosto mesmo é de ensinar para grupos pequenos. E com bons resultados ".
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