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Quem não tem Brubeck ouve Bacharach

Até o diretor artístico da Fundação Teatro Guaíra, J. D. Baggio só teve confirmação da reviravolta na programação artística na tarde de segunda-feira: temerosa da tradicional impremeabilidade do público curitibano em relação espetáculos de maior nível cultural, a empresária Gaby Leib preferiu cancelar o concerto que o quarteto de Dave Brubeck, programado para o próximo dia 3 de abril. Ao invés de Curitiba, o pianista e compositor, que aos 58 anos, mais de 100 lps gravados, está entre os maiores nomes da música criativa, irá a Belo Horizonte, onde parece existir uma faixa de público mais receptivas a concertos de alto nível. Para Curitiba, virá um regente e compositor que, mesmo tendo muito méritos (e inclusive uma obra já respeitável), está mais de acordo com as preferencias adocicadas do badalativo tipo de espectador que adora shows ao estilo Rey Conniff: Burt Bacharach. Foi confirmada para a próxima sexta-feira, dia 6, duas apresentações de Bacharach e orquestra, com um programa onde estará reunido seus maiores sucessos. O crítico Tarik de Souza escreveu, há 4 anos ("Jornal do Brasil", 22.3.74) uma definição um pouco acida, mas bastante lúcida, em relação ao maestro-compositor americano. 50 anos, e que esteve pela primeira vez no Brasil, na década de 50, quando era o anônimo pianista-acompanhante de Marlene Dietrich, então em plena forma como cantora: "Montado numa espécie de balãozinho lento de batida fixa que lembra a bossa nova tocada por bateristas americanos. Bacharach desenvolveu um estilo intimista onde as flautas, o piano e outros instrumentos da orquestra tocam sozinhos boas parte da música, criando a impressão de um pequeno conjunto acessível e nada perturbador". *** Filho de um jornalista da cadeira Hearst e de uma pintora, Bacgarach, nascido em Kansas City, Missouri, em 1928, cursou música desde pequeno até rebelar-se contra o "ridículo" ensino das escolas, "que obrigam a gente copiar partituras mortas até cansar". Seus mestres estiveram entre os eruditos mais decisivos dos últimos anos: ele estudou com Eric Simon, Bohuslau Martins. Darius Milhaud e Henry Cowell. O último aliás, morreu em 65, quando o discípulo já escalava as paradas, entre outras com "Magic Moments", "Any Old Time of the Day". "Reach out for Me", "Anyone Who Had a Heard" e "Walk on By". Nessas canções - e nas que se seguiram - ficara uma lição de Cowell, o chamado "sound cluster", cacho de notas que consistia em acordes compactos que o erudito começou a obter pressionando ao mesmo tempo várias teclas de piano. Um dos criadores do movimento experimentalista que chegaria ao anárquico vanguardista John Cage, Cowell certamente não esperava ver estratificadas suas experiências num resultado tão comerciável - ironicamente, o "cacho de notas" é a marca registrada mais indelével da obra de Bacharach. *** Além dos múltiplos sucessos que, com letras de Hal David (New York, 1921) criou para a cantora Dionne Warwick (New Jersey, 1941), Bacharacj ficou conhecido por algumas trilhas sonoras, bastante agradável. Um delas - e seu melhor trabalho - "Butch Cassidy and Sundance Kid" (1968. De George Roy Hill), lhe valeu dois Oscars: trilha e pela belíssima canção, "Raindrops Keep Falling On My Head". Mas nem com isso. Bacharach ganhou mais do que uma estação de 2 linhas do pesquisador Tony Thomas no seu volumoso "Music For The Movies" (South Brunswick Company, Londres, 223 páginas, 1975. (") 6,00). I assim mesmo, com uma certa ironia. *** Mas a apresentação de Bacharach não deixa de se constituir num programa interessante. E que por certo atraíra um público elegante, em suas duas sessões.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
30/03/1978

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