Toquinho faz canção para Elis e grava com Watanabe
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 12 de março de 1988
Primeira mão, nacional: nestes últimos dias, Toquinho trabalha numa canção muito especial. Uma música que fala com imenso carinho de uma das pessoas que mais o marcaram em sua vida - e a própria MPB: Elis Regina (Carvalho da Costa, Porto Alegre - 17/3/1945 - São Paulo, 19/1/1981). Toquinho foi um dos primeiros grandes amigos de Elis, desde quando a Pimentinha chegou em São Paulo, em 1961, para gravar seu primeiro elepê ("Viva a Brotolândia", Continental). Poucos sabem que Toquinho em seu primeiro elepê ("A Bossa de Toquinho", Fermata, 1965) gravou também uma das raras composições de Elis, "Triste Amor Que Vai Morrer", parceria com Walter Silva, o "Pica Pau", famoso produtor de shows da Bossa Nova, no teatro Paramount.
Numa feliz coincidência - homenagem - afinal, no próximo dia 17, Elis completaria 43 anos - Toquinho esmera-se na criação da canção em que compara a cantora gaúcha a uma imagem iluminada. Durante horas, em seu apartamento no Maksoud Plaza Hotel, onde reside atualmente (no "150" faz temporada com "Toquinho in Concert", até o dia 19, 22 horas, ingressos entre Cz$ 1.200,00 a Cz$ 2.000,00), o compositor faz esta canção de grande significado pessoal - e que por certo deverá ser uma das mais belas músicas do ano.
A gravação desta - e outras canções inéditas - começa no próximo dia 17, quarta-feira, no estúdio Som da Gente, numa produção muito especial: um disco dividido com Sadao Watanabe, saxofonista japonês, hoje um nome internacional e que acaba de ter seu novo elepê lançado agora no Brasil ("Birds of Passage", WEA).
Toquinho não fala, naturalmente, uma única palavra de japonês. O inglês de Sadao é limitado. Isto não impediu, entretanto, que tivesse nascido uma grande amizade entre os dois, já consolidada num álbum instrumental lançado no ano passado no Japão (e que não terá edição no Brasil), algumas parcerias e, agora, a presença vigorosa do sax de Watanabe em pelo menos 7 das 10 faixas do novo disco de Toquinho, inclusive na canção-título do disco - "Minha Profissão".
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A identificação entre Sadao e Toquinho é ampla e total. O músico japonês apaixonou-se pela musicalidade de Toquinho (Antônio Pecci Filho, 42 anos), ganhando inclusive uma canção em sua homenagem: "Made in Coração", no qual Toquinho, com aquela sensibilidade aprimorada em uma década de parcerias com Vinícius de Moraes (1913-1980), fala da emoção que foi em encontrar no japonês uma pessoa de tanta sensibilidade sonora.
Linda também é "Minha Profissão", na qual Toquinho fala de seu ofício de cantador, empregando palavras belíssimas. Esta canção já vem apresentando na abertura de "Toquinho in Concert", espetáculo que desde sua estréia dia 5, tem lotado o luxuosos "150", o melhor night-club do Brasil, no Maksoud Plaza Hotel, em São Paulo, todas as noites.
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Fred Rossi, produtor de Toquinho há 15 anos, mais uma vez realizou um espetáculo perfeito, na qual a descontração não elimina a competência e apuro musical. Trabalhando com o amigo de muitos anos, baterista Mutinho (Lupicínio Rodrigues Sobrinho), mais o pianista Luís Lopes e o baixista Ivani Sabrino, Toquinho tem também um excelente backing vocal. É formado pelas vozes harmoniosas de Adis Santos (sergipana de Aracaju, há 4 anos trabalhando com Toquinho), Concília La Torre e, a mais nova do grupo, Bernardete Laranjeiras - com quem faz um dos momentos mais belos do show: a vocalização do choro "Odeon" (Ernesto Nazareth).
Toquinho é, dentro da música brasileira, um dos artistas mais queridos. Mantendo a simplicidade dos verdadeiros talentos, sabe sempre montar um repertório agradável e profundo - o que faz com que este seu novo espetáculo mereça aplausos entusiásticos do público. Todas as noites, é obrigado a apresentar duas a quatro canções extras, tal o calor dos aplausos.
Devido a uma agenda que inclui viagens a Europa, e, talvez, ao Japão, Toquinho ainda não marcou espetáculos no Brasil, fora de São Paulo. De momento, quer concluir a gravação do elepê - a ser lançado pela Polygram ainda neste semestre - e o único compromisso de show, terminada a temporada no Maksoud Plaza, será justamente já no dia 20, em Campinas: uma apresentação com a Orquestra Sinfônica de Campinas, sob a regência do maestro Benito Juarez, cujos detalhes ainda estão sendo tratados.
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As gravações do disco, no Nosso Estúdio - estão tendo a participação, em teclados e arranjos, do pianista e maestro Amilson Godoy, 41 anos - irmão dos também pianistas Amilton, 48 (integrante há 24 anos do Zimbo Trio) e Adylson, 45, ex-presidente da Sicam. Amilson está também gravando um elepê instrumental, com 10 temas próprios e uma regravação da belíssima valsa "Eu Sonhei Que Tu Estavas Tão Linda" (Francisco Matoso/Lamartine Babo). Sadao Watanabe gostou tanto de seu estilo, que o convidou para, em maio, acompanhá-lo numa longa temporada pela Ásia. Amilson vai nos teclados e leva junto o baterista William Karam, o baixista Arismar do Espírito Santo (músico dos mais conhecidos em Curitiba, cidade à qual tem vindo constantemente) e mais um guitarrista carioca, indicado pelo próprio Sadao - e que até sábado passado Amilson ainda não conhecia. No Rio de Janeiro, Watanabe acaba de gravar um outro elepê, este dividido com o tecladista César Camargo Mariano e a participação de outros músicos. Mas para a excursão por vários países da Ásia preferiu convidar Amilson Godoy, com cujo estilo se identificou mais.
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