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Aramis

Traditional a velha guarda do melhor jazz

San Francisco, Califórnia. Julho de 1967. Local: "Dixieland", um dos mais incrementados clubes de jazz da velha Frisco. Numa mesa, um grupo de jornalistas brasileiros em visita aos Estados Unidos aplaude um excelente grupo de jazz tradicional. Um deles, Mussa José Assis - então em sua primeira viagem aos EUA - preenche um papel oferecido aos clientes para que peçam sua música favorita. Mussa escreve: - Battle Hymn of Republic. A banda ignora o pedido. Outro jornalista da roda, também apaixonado por jazz, Enio Malheiros, insiste: - Battle Hymn of Republic. Nada. Dois outros companheiros unem-se à solicitação: Hugo Santana e Nery Babtista. Ante tantas solicitações, o band-leader acaba atendendo. Só que a canção dixie, lembrando a guerra da sucessão, provoca protestos de uma ala. Outros aplaudem. Enfim, entre vaias e gritos entusiasmados, a música contagia a todos. Depois, para amenizar os mais exaltados, o grupo executa o Stars and Streps Forever - como uma espécie de conciliação. xxx New Orleans, Louisiana. Qualquer noite, qualquer época. Ao longo da Bourbon Street inúmeras casas de jazz. Mas é um velho edifício de madeira, sem qualquer conforto - ar refrigerado nem pensar apesar do clima senegalesco - que se houve a melhor música: O Preservation Hall a Velha Guarda do jazz tradicional. Ali, revezando-se, apresentam-se os melhores instrumentistas. Dentre eles, foram formados grupos que fazem esporádicas excursões - um deles já com três passagens pelo Brasil, uma delas tendo chegado ao auditório Bento Munhoz da Rocha Neto. . xxx São Paulo, Opus 2020 - Avenida Augusta. Ali, durante muito tempo, a atração maior era o Tradicional Jazz Band. Criado em meados dos anos 60, da paixão comum de um grupo de profissionais liberais e estudantes pelo estilo tradicional, o TJB é um exemplo de resistência musical. Em duas décadas, mudou inúmeras vezes de integrantes, tocou em diferentes espaços, gravou quase uma dezena de discos e chegou até a fazer uma tournée pelos EUA, naturalmente com longa parada em New Orleans. Hoje a noite,15 anos após ter vindo pela primeira vez a Curitiba, o Traditional Jazz Band volta aqui se apresentar (auditório Salvador de Ferrante, 21 horas, convites distribuídos pelo Banco Francês-Brasileiro). xxx Eduardo Vydosich, ex-músico, autor de "Jazz na Terra da Garoa", hoje vivendo anonimamente em Blumenau, foi o biógrafo do Traditional Jazz Band - que chegou a integrar numa época. Durante anos, a figura polêmica e discutível do engenheiro Tito Martino, baixinho, briguento mas apaixonado pelo jazz, com seu clarinete, era identificado com a liderança do TJB. Hoje, o grupo é formado por outros instrumentistas - restando da formação original poucos, entre eles Dudu Bugni, banjo e violão. Cidão (Alcides de Oliveira Lima) executa bateria e washboard; Edo Callia está no piano; Alexandre Arruda no trombone; Gil Silva na clarineta; Carlos Lima no pistão; Carlos Chaim no baixo. Este grupo, com repertório de hits do jazz em suas origens, às margens do Rio Mississipi estará hoje, deslumbrando o público - que tal como naquela noite de 12 de agosto de 1972, no Paiol, chegou ao maior entusiasmo ao ouvir o repertório tradicional do jazz. Dentre as várias correntes do jazz, o estilo tradicional é aquela que mais facilmente estabelece uma comunicação com o público. Não é preciso conhecer jazz, saber os nomes dos grandes autores e instrumentalistas para se integrar ao espírito alegre, vibrante deste estilo - e o Traditional Jazz Band, ao longo dos anos, sempre soube manter um repertório capaz de conquistar qualquer público. Motivo do sucesso do conjunto e dos convites para apresentações nos mais diferentes locais. Com o TJB se tem uma verdadeira introdução ao jazz - trazendo seus integrantes o mesmo calor e vibração de um conjunto de um clube de San Francisco, dos grupos que se revezam no Preservation Hall ou de inúmeras outras bandas que, mundo afora, fazem com que a velha guarda do jazz seja sempre ouvida com imensa alegria.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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04/11/1987

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