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Aramis

Jazz não jaz. Vive, hoje, no Guaíra

Um raro espetáculo de jazz poderá ser aplaudido na noite de hoje, no Auditório Bento Munhoz da Rocha Neto: o saxofonista e pianista Victor Assis Brasil - único jazzman profissional do Brasil - acompanhado pelo seu trio. A promoção é de Gady Leib, que, anteriormente, já trouxe a Curitiba outros grandes nomes do jazz internacional: Charles Tolliver, Horace Silver e Art Blakey e seus jazz Messengers. Victor Assis Brasil não é o único music de jazz no Brasil. Mas, sem dúvida, é o único que não faz concessões e (tenta) viver exclusivamente de jazz. Outros excelentes instrumentistas jazzisticos - do pianista (e cantor) Dick Farney ao clarinetista Paulo Moura, passando por Raulzinho e Guimorvan (que residiram em Curitiba, e hoje estão nos EUA) sempre ganharam a vida com outros gêneros, fazendo jazz apenas nas horas de folga. Em São Paulo, os grupos do jazz tradicional - Brazilian Jazz Stompers, e Traditional Jazz Band, entre outros, reúnem músicos semi-profissionais, que não dependem exclusivamente da música para sobreviver. Por isso, o esforço que Victor Assis Brasil faz é admirável. O próprio Victor já disse que tocar jazz profissionalmente no Brasil é uma piada. -"Disse e continuo dizendo. Só que agora, depois de ter passado muitas temporadas nos Estados Unidos estou disposto ser aquela água que tanto bate na pedra até furá-la, perfurá-la. Evidente que a coisa não é fácil, mas a vontade de sair por aí, tocando em mil lugares e, verdade seja dita, até que não posse me queixar. Sempre tem gente querendo assistir. Agora é fazer com que isto vingue de vez". A CARREIRA No jardim de infância, Victor tocava acordeão nas festas juninas da Escola Pública de Laranjeiras, ao lado do irmão João Carlos, hoje pianista clássico. O primeiro instrumento de Victor foi uma gaita de boca. Aos 13 anos, nos arrasta-pés da vizinhança, punha discos na vitrola e acompanhava com sua bateria. Mas foi com a gatinha de boca que tocou, ainda menino, num concerto na ABI, com o conjunto de percussão da professora Dorinha Pinto, do Conservatório Brasileiro de Música. Estudo musical não tinha nenhum, por isso teve de decorar um trecho. Mais tarde, uma tia lhe deu de presente um saxofone para principiantes. Sempre ouvindo muita música - o que considera essencial a qualquer instrumentista - e após tomar aulas de saxofone com Paulo Moura, em 1966 e aos 19 anos, foi enviado pelo Itamarati à Viena, onde participuo de um concurso internacional de jazz. Neste concurso, Victor foi às finais, competindo com famosos saxofonistas europeus e norte-americanos. Classificado como melhor solista de um concurso instrumental de jazz em Berlim, voltou ao Brasil no ano seguinte. Em 1969, ganhou uma bolsa-de-estudo para a Berkely School of Music, de Boston. Hoje, porém tocando vários instrumentos, principalmente saxofone e piano, afirma que não pode ser considerado um músico só de jazz: -"Esse rótulo de jazz não tem nada mais a ver comigo. Estudo música há algum tempo, escrevi um concerto para piano e orquestra, uma suite para quarteto de cordas e gostaria que o público soubesse dessa minha faceta". Victor tem passado longas temporadas no Exterior, sendo um nome respeitado em vários círculos. Há 2 anos, chegou a tocar no The Jazz Workshop, um dos melhores clubes de jazz dos Estados Unidos. Quando voltou cerca de 300 composições inéditas, algumas das quais vem mostrando em seus concertos. Victor considera John Coltrane o maior saxofonista de todos os temas: -"Coltrane já morreu, mas irei encontrá-lo um dia. Ela mudou muita coisa em mim, que me influência demais pelo seu trabalho". Entre os melhores pianistas, cita Albert e seu irmão, João Carlos Assis Brasil. Até agora, Victor não pode concretir um sonho que revelava há 2 anos (23/7/75) aos jornalistas Simon Khouri e Ana Maria Machado, da Rádio Jornal do Brasil: instalar um café-concerto dentro de um edifício cultural, semelhante ao que existe em Boston, cidade em que vivei alguns meses. -"Esse edifício tem um cinema de arte chamado Orson Welles, um restaurante baratíssimo e o café-concerto cuja programação é a seguinte: segunda e terça-feira, uma harpista toca peças de compositores antigos ou contemporâneos; quartas, quintas e sextas-feiras, há o quarteto de cordas da Universidade de Boston; sábado e domingo fazia o meu show de jazz. E que continuam, outros músicos, a fazerem até hoje". O CONJUNTO Além de Victor três excelentes instrumentistas participarão do concerto esta noite no auditório Bento Munhoz da Rocha Neto: o guitarrista Hélio Delmiro, o baixista Paulo Russo e o bateirista Paulo Lajão. Delmiro, carioca toca guitarra e violão e ganhou, entre mais de mil músicas, no programa Flávio Cavalcanti, a bolsa "Sérgio Mendes" de um ano em Berkelee School of Music de Boston. Trabalha muito em gravações, é produtor e, sempre que pode, um músico de jazz, tendo participado dos três discos que Victor gravou no Brasil. Paulo Russo, carioca, extensa bagagem, já fez dezenas de gravações , incluindo discos de Victor, Ray Armando e Nana Caymmi. Lajão, integrou o quinteto de Assis Brasil em 1975, esteve depois com a Orquestra Georges André, tocou com Ray Armando e o Jazz Trio. Agora volta a aprsentar-se com Victor Assis Brasil.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
03/06/1977

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