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Aramis

A trilha perfeita que revela um outro Harry

Bobby Shorter é hoje um pianista-cantor conhecido no Brasil. Privilégio até os anos 80 dos sofisticados piano-bares nova-iorquinos - o do hotel Alconguim - a música canção americana - Richard Rogers, Gershwin, Jerome Kern, Cole Porter e Irving Berlin - ganhou maior popularidade a partir do momento em que esteve no Brasil, no "150" do Maksoud Plaza Hotel. Popularidade que ampliou-se com sua participação numa seqüência especial de "Hannah e suas Irmãs", de Woody Allen. A linha romântica de Shorter tem outros seguidores: desde 1988, Michael Feinstein é reconhecido como a grande revelação neste estilo de intérprete suave, pianista de raízes jazzísticas e que também canta afinadamente. "Harry e Sally - Feitos um para o Outro" trouxe ao Brasil um terceiro pianista-cantor na mesma linha - Harry Connick, junior, no lp com a sound track (CBS, 1989) que lhe valeu seu destaque entre os melhores do ano passado - estimulando a mesma CBS aqui lançar outro de seus álbuns "Twenty" e programar para maio um novo disco. Pianista e cantor, na linha introspectivamente suave, trabalhando com poucos músicos - Benjamin Jonah Wolf no baixo, Jeff "Tain" Watts na bateria, eventualmente metais (Frank Wess, sax) ou guitarra (Joy Berliner). Connick Jr., entre os dias 6 a 19 de junho de 1989, gravou as 11 faixas que fazem de "When Harry Meet Sally" um filme perfeito em termos sonoros. Isto porque além destas interpretações originais, a trilha incluiu standards com Louis Armstrong e Ella Fitzgerald, entre outros, e até o ator Billy Crystal cantando "Call Me", aquele antigo sucesso revivido por Chriz Montez há 20 anos passados. A trilha é basicamente a revelação - aos brasileiros - de Harry Connick, Jr., que dá novos coloridos a temas de Gershwin ("But not for Me", "Let's Call the Whole Thing off", "Love is Here to Stay", Jones/Kahn ("It Had to be You", em duas diferentes versões); Benny Goodman / Chick Webb / Demson ("Stopin' At the Savoy"), "Don't Get Around Much Anymore" e especialmente dois standards magníficos de Richard Rodgers: "I Could Write a Book" e "Where or When" (Rodgers, ganha ainda mais uma citação, quando Harry, numa loja de departamentos, divide com Sally uma interpretação de karaokê, de um dos temas de "Oklahoma", não incluída no lp). Se nos temas acima mencionados, Harry Connick utiliza pequenos conjuntos ou mesmo arranjos para orquestras (como em "But Not For Me" e "It Had to Be You"), em dois momentos há a presença solo: no brevíssimo encontro com Harry e Sally no Central Park ao som de "Autumm in York" (Vernon Duke), somente ao piano, e em "Where or When" (Rodgers). Uma trilha sonora como de "Harry e Sally - Feitos um para o Outro" (pode ser conseguida com Clecius Aquino, na "Raridade Discos", especializada em sound tracks) é altamente significativa, pois mostra como se pode produzir uma trilha de temas não originais - mas perfeitamente identificados a um filme - ao contrário do que vem ocorrendo com tantas mediocridades, nos quais barulhentos grupos de rock, com descartáveis hits das paradas prejudicam a força das imagens. Só ouvir Connick, Jr., "When Harry Meet Sally" já é um programa indispensável. A trilha está no mercado mas o filme ainda não saiu em vídeo. Nem Woody Allen, cujo bom gosto musical faz com que o trabalho de Dick Hyman na montagem das trilhas de seus filmes, se torne fácil, faria uma seleção tão maravilhosa como a conseguida para este belo filme em exibição no Cine Astor.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
01/05/1990

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