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Um festival temático acontece em São Paulo

São Paulo - O Festival de Inverno de Campos Jordão vai comemorar em julho sua 20ª edição consecutiva. Em Teresópolis, a Pró-Arte promove desde os anos 50 os cursos de música de verão. Londrina, em julho terá seu 9º Festival de Música - que após uma interrupção de 3 anos voltou com boa reciclagem, no ano passado. Outros eventos - conjugados a cursos de música, como a 10ª edição da Oficina de Música de Curitiba (600 alunos, 18 professores, 3 concertos da Camerata Antiqua, desde segunda-feira, 16, movimentam o calendário musical em diferentes concepções. Nunca é demais lembrar que se não fosse a viseira cultural-política dos governos que se sucederam a Paulo Pimentel, o Paraná teria hoje o mais antigo de todos os festivais internacionais de música, criado no penúltimo ano de administração Ney Braga (primeiro governo), e valorizado por Paulo Pimentel, especialmente graças ao empenho do então secretário Cândido Manoel Martins de Oliveira (hoje conselheiro do Tribunal de Contas), o entusiasmo do Pró-Música e, feita justiça agora, 20 anos depois, à competência do maestro Roberto Schnorremberg (1929-1983). Considerações necessárias quando se fala em festivais de música clássicas que acontecem no Brasil. São Paulo, com um dos calendários musicais mais ativos do país - com uma programação que inclui regulares apresentações de orquestras, conjuntos de câmara, solistas, etc., em vários espaços (mesmo nestes 5 anos em que ficou sem o Teatro Municipal, só agora reaberto) não deixava de ser um desafio para sediar, em janeiro, um novo festival. Entretanto, quando há competência e vontade de fazer, as coisas acontecem e a prova está no extraordinário êxito em que se transformou o II Festival Vulcan Internacional de Música, iniciado no dia 8 e que se prolongará até o próximo dia 29 de janeiro. A ideologia de um festival - No ano passado, quando generosamente a Vulcan do Brasil S/A, poderoso grupo multinacional que há 40 anos atua no Brasil, com uma linha de fabricação de mais de 2.500 produtos e cinco grandes empresas coligadas, decidiu investir na cultura optou pelo Curso e Festival de Teresópolis. Mais de US$ 150 mil foram aplicados para levar nomes internacionais no promoção da Pró-Arte, na cidade serrana, dando, assim, condições da mesma ter um público maior e com grandes resultados culturais. Infelizmente, não houve condições da experiência repetir-se naquela cidade, mas a Vulcan continua a acreditar na importância de um projeto cultural. Assim ampliou a verba para US$ 350 mil e apoiou a proposta que o pianista Sérgio Melardi, 34 anos, e o violoncelista Roberto Ring, 35, da Inter Arte, souberam desenvolver: um festival com uma temática central, dentro de uma linha clara, chegando quase ao didatismo, numa experiência pioneira no Brasil. Nada de concertos individuais de grandes nomes, mas, sim, "a valorização da música antes de tudo", conforme explicação de Melardi, que, no ano passado já havia coordenado artisticamente a programação de Teresópolis - e, através de sua original empresa promoveu mais de 10 importantes concertos em São Paulo e outras cidades. Roberto Ring, diretor artístico do Festival Vulcan, explica: - "Uma pesquisa junto aos músicos que desenvolvem carreiras internacionais como solistas e recitalistas certamente revelaria, em qualquer região do planeta, uma lamentação unânime: a falta de oportunidade para a prática de música de câmara. O isolamento a que tem sido relegados tais músicos vem propiciando, nos últimos anos, um movimento de excelente ressonância junto não apenas aos músicos, mas também ao público em geral. Trata-se de juntar um grupo de grandes solistas em festivais, que se unem para tocarem juntos, confraternizarem, trocarem idéias. Enfim, para um enriquecimento individual e coletivo que resulta, sem dúvida, em música da melhor qualidade ainda para o público". Este novo conceito musical é o que vem sendo utilizado em festivais como de Lokenhaus, na Alemanha - dirigido pelo violinista Gidon Kremer; no Festival Yehudi Menuhim, em Gstaad, Suíça e no New-Port, nos EUA. -"Assim - diz Ring - a Inglaterra montou uma estrutura artística para o II Festival Vulcan Internacional de Música semelhante a esta nova fórmula. Existem, é claro, alguns diferenciais. O primeiro deles é a união de uma programação artística pública a uma Academia de Música de estudos concentrados que beneficia a quase 200 músicos vindos não só do Brasil mas mesmo do exterior. O segundo é a organicidade de toda a programação, concebida para recordes em doze concertos a súmula do estilo clássico - a matriz forjada por Mozart e Beethoven, espinha dorsal efetiva da música ocidental, que periodicamente aflora decisiva nas grandes transformações pelas quais vem passando a música de concerto nos dois últimos séculos. A fórmula funcionou: desde o concerto de abertura, dia 8, o acolhedor Teatro Arthur Rubeinstein (na sede da Hebraica, SP), tem estado superlotado 800/900 espectadores por sessão (dispõe de 750 poltronas). Jovens interessadíssimos ao lado de nomes famosos - como o maestro e compositor Camargo Guarnieri, 82 anos (uma das presenças mais entusiasmadas no Concerto da Nova Sinfonieta, no domingo à noite) ali aplaudem programas especiais, concebidos dentro de uma verdadeira ideologia musical que faz com que esta promoção, dentro de uma metrópole com tantos eventos culturais como São Paulo, se destaque e se consolide. LEGENDA FOTO 1 - Michael Haran, spalla da Filarmônica de Israel, pela segunda vez participa do Festival Vulcan de Música Internacional. Depois do clássico, a descontração com solo em cello de "Samba de uma Nota Só". LEGENDA FOTO 2 - Hu Kun, 25 anos, um violinista chinês que Yehudu Menurin escolheu para ser o seu herdeiro artístico, mostrou seu talento em concertos no Festival Vulcan.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
18/01/1989

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