A mostra de talento na criação coletiva
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 17 de janeiro de 1989
São Paulo - Apesar do nome francês, Jean-Louis Steuerman é carioca. Aos 39 anos, 17 fora do Brasil e desde 1978 residindo em Londres, é considerado um dos maiores especialistas na obra de Bach. Hu Kun, violinista chinês de 25 anos, é uma das maiores revelações dos últimos anos. Estudou inicialmente com seu pai, Hu Wei Min, professor no Conservatório de Szechuan, e aos 14 anos entrou para o Conservatório de Pequim. Há 7 anos foi solista de orquestras chinesas e em 1984 ganhou uma bolsa de estudos na Academia Menuhin Internacional de Música, na Suíça, onde estudou com Alberto Lysy. De lá para cá Hu Kun vem obtendo reputação internacional. Foi quarto lugar no Concurso Rainha Elisabeth em Bruxelas, e primeiro prêmio da Rádio Televisão Belga (1985). No mesmo ano, obteve o primeiro prêmio no Concurso Menuhin Cidade de Paris e o título Grande Laureado da Cidade de Paris com prêmios específicos na categoria de música de câmara. Estreou em 1986 com a Orquestra Philarmonica em Londres e em seguida no Wigmore Hall e no Concert-gebown com recitais. Foi solista, em maio de 1988, do Concerto Duplo de Bach com orquestra Tonhalle em Zurique, e toca em duo com o pianista francês Michel Béroff. Seu talento é tão grande que Menuhin pessoalmente lhe dá aulas especiais, apostando nele como seu herdeiro artístico.
Michael Haran, israelense, 44 anos, spalla dos violoncelos da Orquestra Philarmonica de Israel e também membro do corpo docente da Temple University, vem ganhando prêmios internacionais e atuando como solista de alguns dos maiores regentes do mundo (Leonard Bernstein, Zubin Mehta, Christoph Eschebach e Pinchas Zuckerman). Professor de violoncelo em várias universidades e academias do mundo.
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Steuerman, Hu Kun e Michael Haran - apesar de suas carreiras internacionais, não se conheciam. Vieram a se encontrar na semana passada, nos acolhedores espaços do Hotel Transamerica, que distante do centro da paulicéia desvairada, às margens do poluído Tietê, oferece, entretanto, condições para a tranqüilidade dos convidados do II Festival Vulcan de Música Internacional. Foi uma empatia imediata: o talento maior de cada um, o bom astral do evento e a disposição de fazerem uma experiência nova em suas (movimentadíssimas) agendas, transformaram o concerto no sábado, 14, no teatro Arthur Rubeinstein, num espetáculo único.
- "É como se estivessem trabalhando junto há anos"- sentenciava, com seu conhecimento de 25 anos de estudos musicais, o pianista, jornalista e crítico João Marcos Coelho, 40 anos.
Na platéia, apreciadores rigorosos de música erudita, aplaudindo os dois trios apresentados por Kun, Haran e Steuerman - o Trio Hb 25, de F. J. Haydn e o Trio em dó menor, opus 1, nº 3 de Ludwig Beethoven. Entre estas duas peças, outra programação mostrada por artistas internacionais: o Quarteto Opus 59 ("Razumovsky", de Beethoven) e o "Quartetaz", de Schubert, pelo Quarteto de Cordas Navarra, um dos mais jovens quartetos de cordas da Inglaterra, com idade média de 25 anos. Formado por Richard Stamper, Wendy Giles, Anne-Isabel Meyer e Nicholas Barr, o Navarra também veio, pela primeira vez ao Brasil, especialmente para o Festival Vulcan.
O principal responsável pela concretização do Festival, Sr. Nicolau K. Bina Machado, diretor de relações externas da Vulcan, após o concerto, não escondia seu entusiasmo pelo nível do evento e, sobretudo, a integração perfeita que os músicos conseguiram tão rapidamente. Um clima musical que não ficou apenas no erudito mas, poucas horas depois, no jantar no Blooming Restaurant, Hotel Transamerica, mostrava a genialidade musical do violoncelista Michel Haran, um apaixonado pela MPB desde o ano passado (quando veio participar do I Festival Vulcan): sem nunca ter ouvido antes um choro, fez improvisos ao longo de "Odeon" (Ernesto Nazareth) - por Steuerman, ao piano - e, em solo, arrancou aplausos, com uma originalíssima interpretação de "Samba de Uma Noite Só" (Tom).
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