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Sinfonieta, a música feita em cooperativa

São Paulo - Se existisse na imprensa nacional críticos de música erudita de influência semelhantes aos que atuam em jornais de Nova Iorque ou Londres, por certo que após o concerto da Orquestra Nova Sinfonieta (Teatro Arthur Rubeinstein, São Paulo, domingo, 15) o nome do maestro Aylton Escobar teria um peso ainda maior junto aos que, com toda razão, defendem sua indicação para redimensionar a Orquestra do Teatro Municipal de São Paulo. Pois, sua condução do concerto que deu seqüência ao II Festival Vulcan de Música Internacional mereceu aplausos em pé, insistentes solicitações de bis e elogios unânimes, inclusive do maestro Camargo Guarnieri, 82 anos, um dos que mais aplaudia a apresentação. Compositor e maestro, Escobar, quando ainda dava seus primeiros passos na criação musical teve uma ligação com o teatro de Comédia do Paraná, em sua fase de ouro. Em 1968, quando aqui foi montado "O Livro de Cristóvão Colombo", de Paul Claudel, direção de Ivan Albuquerque, foi Escobar quem criou uma belíssima trilha sonora original - que, infelizmente se perdeu sem nenhum registro. Nestas duas décadas, Escobar viajou por vários países, regeu diferentes orquestras e agora está novamente se fixando em São Paulo. E uma prova de sua competência foi o belíssimo concerto que preparou para a Nova Sinfonieta, recém-organizada (apenas um semestre) como uma cooperativa de músicos profissionais de alto nível - "e que concretiza o sonho brasileiro de uma orquestra clássica, incluindo cordas, sopros e tímpanos" - como diz o Sr. Nicolau Bina Machado, diretor da Vulcan e um dos maiores entusiastas desta nova orquestra. - "Trata-se, em suma, de um trabalho em mutirão: a união de profissionais brasileiros de excelente nível que, além do amor ao seu trabalho e à sua vocação, também possuem o espírito empreendedor que caracteriza as melhores orquestras da atualidade". O regente titular da Nova Sinfonieta é Roberto Tibiriçá, que dirigiu o concerto de abertura do II Festival Vulcan. Entretanto na apresentação de domingo passado, foi Escobar quem regeu o programa - com a abertura da ópera "O Barbeiro de Sevilha", de Rossini, seguindo-se ao concerto para violoncelo e orquestra nº 2 de Haydn - com Michael Haran como solista; "Romanza" de Beethoven, com solo de violino de Hu Kun e o encerramento com a sinfonia "Italiana" de Mendelssohn. Dentro da filosofia com que a Interarte (leia-se os músicos Sérgio Melardi e Roberto Ring) conceberam artisticamente os concertos para os 18 dias do II Festival Vulcan Internacional de Música, a Nova Sinfonieta foi uma das presenças mais fortes do evento. Ao todo, até o próximo dia 29 (quando haverá o encerramento no Teatro Municipal) serão executadas 16 obras de Beethoven - núcleo central do estilo clássico - doze delas de câmara e cinco orquestrais; quatro de Mozart e duas de Haydn; três das mais belas peças de câmara de Franz Schubert e o primeiro trio e a Sinfonieta Italiana de Mendelssohn. Completam a programação de câmara duas sonatas para violoncelo e piano de Bach e Shostakovich e um único recital de violão, por Rafael Rabelo, com peças de Fernando Sor, Granados, Bach e dos brasileiros Villa-Lobos, Radamés Gnatalli, João Pernambuco e Garoto, programado para este fim-de-semana (dia 22, Teatro Arthur Rubeinstein). xxx A fórmula moderna com que o II Festival Vulcan de Música Internacional foi estruturado - aparentando-se assim ao Festival de Prados - que o lendário Pablo Casals (1876-1973) liderava nos anos 50 e aos contemporâneos festivais de Newport, Yehudi Menuhin (Gstaad, Suíça) e Locknhaus (Alemanha, dirigido pelo violinista Gidon Kremer), representa uma nova abertura. Como explica o crítico (e pianista) João Marcos Coelho, os convidados internacionais - como o violonista chinês Hu Kun, quarteto de cordas inglês Navarra, o violoncelista israelense Michael Haran e o pianista brasileiro radicado em Londres, Jean-Louis Steuerman - não fizeram concertos recitais nem concertos próprios. Juntaram-se em oito concertos nas duas primeiras semanas do festival, atraindo um público impressionante. No domingo, o Sr. Nicolau Bina Machado, diretor da Vulcan - e pessoalmente um entusiasta pela música erudita, comentava com Marino Anselmo, da M.K.T. Imprensa e Marketing - responsável pela área de comunicação do evento, os números de espectadores nos concertos realizados no Teatro Arthur Rubeinstein. - "Nas primeiras semanas já tivemos quase 5 mil espectadores, ou seja mais que o total dos que foram a todos os eventos realizados em Teresópolis, no ano passado" - referindo-se ao I Festival, também patrocinado pela Vulcan e que em janeiro de 1988 realizou-se naquela cidade fluminense. xxx Alguns jovens estudantes de Curitiba estão entre os 200 beneficiados com os cursos que se realizam na Academia de Música de Verão, com um corpo docente de 18 professores do mais alto nível, dirigido pelo professor Alberto Jaffé. Sua esposa, Daisy Luca, orienta a classe de piano - juntamente com Fernando Lopes e Gilberto Tinetti; o próprio Jaffé, mais Ayrton Pinto e Maria Vischinia são os professores de violino, enquanto Marcelo Jaffé - concertista que começa a se destacar internacionalmente - é o professor de viola. Um instrumentista com muitas ligações com Curitiba, Antônio Lauro del Claro, é o professor de violoncelo, os outros mestres são Henrique Autran Dourado (contrabaixo), Antônio Carlos Dias Carrasqueira (flauta); Arcádio Minczuk (oboé); Sérgio Lima Gonçalves (fagote); Mário Rocha (trompa); Carlos Tarcha (percussão), Edmar Ferreti (canto) e Henrique Pinto (violão). LEGENDA FOTO: A Orquestra Nova Sinfonieta, em São Paulo: músicos em cooperativa fazendo trabalho de primeiríssimo nível.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
19/01/1989

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