Uma superintendência com muitos problemas
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 18 de fevereiro de 1987
Qual o fascínio do cargo de diretor superintendente da Fundação Teatro Guaíra? Salário, não é. Afinal, mesmo com todas as vantagens, o vencimento do superintendente não ultrapassa a Cz$ 15 mil - menos do que um executivo junior recebe em qualquer empresa bem estruturada.
É um cargo ingrato. Sofre críticas de todos os lados. Pela falta de uma boa programação artística, por falta de ajuda aos grupos locais, até por deficiências físicas do teatro. Se estimula a vinda de grandes nomes do teatro, capazes de oferecerem bons espetáculos ao público da cidade, é crucificado pela "classe" local. Esta, por sua vez quer sempre subsídios e financiamentos. O próprio Basso, que até outrubro de 1985 era produtor artístico, queixa-se "da baixa ajuda dada às montagens paranaenses", acrescentando:
- Cz$ 15 mil de ajuda para uma peça que custa Cz$ 200 mil é ridículo.
Mas só a Associação dos Produtores de Artes Cênicas tem hoje 33 produtores associados. Muitos deles, só montam um espetáculo quando há verbas oficiais a serem requeridas. Poucos têm mostrado espetáculos de nível. Já o movimento amadorístico cresceu bastante: hoje há quase 170 grupos no Estado. Em Londrina, por exemplo, há companhias - como o Proteu e o Delta - que graças à qualidade dos espetáculos encenados têm hoje respeito nacional. "Toda Nudez Será Castigada", montagem que começou amadorísticamente em Londrina, representou, há poucos meses, o Brasil num festival de teatro em Nova Iorque. Permaneceu semanas em cartaz em São Paulo e Rio de Janeiro, com os melhores elogios e teve premiações da crítica paulista.
De uma discreta superintendência ligada antigamente à Casa Civil, ainda no segundo governo Moysés Lupion, o Guaíra transformou-se em Fundação há 19 anos, quando o governador Paulo Pimentel entendeu a sua importância cultural. Um advogado, Otávio Ferreira do Amaral Netto, hoje com 49 anos, funcionário do Guaíra desde sua adolescência, foi o superintendente que implantou a Fundação e hoje, a luz da história, é reconhecido como o melhor dos administradores que a casa teve. Em quase oito anos, Otávio implantou o TCP, dinamizou o Curso de Danças Clássicas, estruturou o Curso de Arte Dramática e fez o Guaíra transformar-se numa grande unidade cultural. Peças produzidas naquela época - "Um Elefante no Caos", de Millôr Fernandes, "A Vida Impressa em Dólares", de Clifford Oddts, "A Megera Domada", de Shakespeare, "Escola de Mulheres", de Moliére, "O Livro de Cristóvão Colombo", de Paul Claudel, entre outras, profissionalizaram atores e técnicos. Diretores do nível de Cláudio Correa e Castro (que aqui residiu por 7 anos), José Renato, Ivan Albuquerque e outros deixaram uma grande contribuição profissional, ajudando a formar toda uma geração de artistas e mesmo encenadores.
O declínio do TCP - a partir do fim do governo Paulo Pimentel - marcou o esvaziamento do teatro paranaense, crônica dolorosa a espera de análises mais demoradas (e necessárias).
Passaram muitos superintendentes pelo Guaíra. Tanto pessoas vindas de outros setores - como o intelectual Helio Fileno de Freitas Puglielli; o empresário Aldo Almeida e o engenheiro Luis Esmanhotto (ator e crítico de teatro em sua juventude), como elementos da classe - Sale Wolokita, Maurício Távora, Oracy Gemba e, atualmente, José Basso. Todos bem intencionados, com muitos projetos, mas que sofreram os desgastes da função - embora cada um se empenhando na execução daquilo que acreditava.
Agora a questão é novamente discutida. Só com um detalhe: pela primeira vez o Paraná terá um secretário da Cultura realmente identificado com a cultura, ex-ator, ex-diretor de teatro e ex-crítico atuante. Portanto, mais do que nunca, há esperança para o teatro. Se Renê Dotti colocar nos postos chaves as pessoas de sua confiança. E acima deles, ele próprio, com seu amor pelo teatro, será, por certo, o grande comandante da área.
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