Uma ajuda para o cinema brasileiro
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 21 de dezembro de 1990
A missão francesa que se encontra no Brasil, marcando o lançamento do circuito Belas Artes, não veio apenas oficialmente para reaproximar o cinema francês. Ao contrário, significa mais uma tentativa de Jean Gabriel Albicoco em estimular acordos que possam, realmente, fazerem com que a parceria de realizadores brasileiros e franceses se efetive. Para tanto, a missão veio em termos oficiais: sob auspícios do Ministério Francês dos Negócios Estrangeiros, através da France Cinema Diffusion e Unifrance Film International, dentro de uma política atuante em fazer com que o lado da presença maior do cinema francês em vários países se agilizem projetos de co-produção.
Para tanto vieram ao lado de cineastas (Jean Claude Brisseau, Michel Deville), atrizes (Miou-Miou, Anne Parillaud), atores (Hippolyte Girardot, Tcheky Karayo) e seis jornalistas de publicações como "Le Monde", "Liberation" e da revista "Première", também executivos do primeiro nível, a começar por Philip Lenglet, diretor geral da France Cinema Diffusion e Philippe Maynial, diretor internacional da Gaummont.
Como resultado prático, quatro filmes em fase de pré-produção serão beneficiados: "A Terceira Margem do Rio", de Nelson Pereira dos Santos (adaptado de original de Guimarães Rosa); "Capitalismo Selvagem", comédia de André Klotzel (diretor de "Marvada Carne"); "De Sangue e de Ferro", drama passado no deserto chileno, de Jorge Duran ("A Cor de seu Destino") e "Morte na Companhia Ullen", de José Joffily Filho, baseado no livro de seu pai, o historiador Joffily, presidente da Herbitécnica, de Londrina. A ajuda da França será parcial, mas na pobreza de nosso cinema, já ajudará bastante: garantirá a revelação, montagem e mixagem dos filmes, com um custo aproximado em US$ 120.000 por projeto. Evidentemente, isto representa só 30% de um projeto, mas é uma proposta de fato, capaz de ser executada - e não repetir o que havia sido anunciado anos atrás, numa das viagens do presidente Sarney a Paris, mas que ficou apenas em dois projetos: "A Ópera do Malandro", de Ruy Guerra (e que saiu especialmente pelo empenho do ministro da cultura francês, Jack Lang, admirador de Chico Buarque) e "Natal da Portela", de Paulo César Sarraceni - mas que teve problemas com os associados franceses, de forma que só há um ano Sarraceni conseguiu recuperar os negativos e exibir o filme - até agora inédito comercialmente (foi projetado no FestRio Fortaleza-89 e no recente FestRio-90). Para lançar no circuito, Sarraceni não tem hoje nenhuma estrutura, já que a Embrafilme acabou e outras distribuidoras não se interessam. Em casos como estes, é que o novo circuito que começa a ser implantado cumprirá uma importante função, como diz Albicoco:
- "Além de trazer os melhores filmes de outros países e aproximar co-produções, queremos dar espaço nas nossas salas ao cinema brasileiro, especialmente aos realizadores mais jovens - que são os descamisados culturais".
Apesar de produzir atualmente de 150 a 180 filmes por ano, o cinema francês também enfrenta problemas. Jean Claude Brisseau, 46 anos, que ganhou destaque internacional com "Clamor e Fúria" (De Bruit et de Fureur, 1987) e em seu último filme, "Boda Branca" lança como atriz uma das cantoras mais populares da França, Vanessa Paradis, deu um exemplo concreto:
- "Nos três filmes que realizei tive orçamentos reduzidos e procurei usar a maior criatividade. Além do mais, existe hoje na França uma consciência muito grande entre a comunidade artística - e quando se anunciaram, há 2 anos, medidas que poderiam prejudicar o cinema nacional, as manifestações foram tão intensas que o governo teve que voltar atrás".
(Só depois é que o cineasta José Joffily, filho, esclareceu, particularmente, ao seu colega francês, o que aconteceu este ano no Brasil - com a produção caindo a menos de 10 longa-metragens (e, nos anos 70, chegando a ter mais de 100 filmes anualmente - e o fim da Embrafilme).
Tanto "Clamor e Fúria" como "Boda Branca" chegarão às nossas telas, dentro da ampla mostra-apresentação da Belas Artes. "Noce Blanche", focalizando os problemas que um professor de 49 anos enfrenta ao tentar auxiliar Mathilde, 17, problemática adolescente, deu à cantora Vanessa Paradis - até então conhecida apenas como uma cantora adolescente - foi quem lançou o original "Joe Le Taxi" (Ettiene Roda / Gil / Frank Langolff), que na versão de Biafra e Aloysio Reis, com o nome de "Vou de Táxi" foi catapultada às paradas de sucesso com Angélica, em 1988 - oportunidade de se revelar uma atriz de méritos. A exemplo de muitos outros filmes dessa nova safra do cinema francês, "Boda Branca" tem elementos para conquistar o grande público, pois como disse o irreverente Marcelo Avelar, 32, de "O Estado de Minas", após assisti-lo: "é uma mistura bem dosada de "Atração Fatal" com "A Menina do Lado", referindo-se aos filmes do inglês Adrian Lyne - com Michael Douglas e Glen Close - e de Alberto Salvá (com Reginaldo Farias e Flávia Monteiro) - ambos, sucesso de bilheteria no Brasil há dois anos.
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