Uma ópera com muito batuque (sonorífero...)
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 17 de janeiro de 1975
Programada há menos de dez dias, a única apresentação da ópera "Shangô - Oba Koso" ( O Rei não se Enforca, auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, quarta-feira, 21 horas) teve um público razoável. Afinal, lotar as 2.300 poltronas do maior auditório do Brasil não é fácil e para uma apresentação de um espetáculo estranho, sem qualquer promoção maior, só o fato de cerca de mil atenciosos espectadores espalharem-se pela platéia, primeiro e segundo balcão, confere a esta iniciativa coordenada pelo ativo Francisco Norberto Fernandez, assessor de relações públicas da Fundação Teatro Guaíra, um grande mérito.
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Vindo ao Brasil em decorrência de um programa de intercâmbio comercial e cultural iniciado em fins de 1973, quando a I Missão Comercial Brasileira a Países da África, visitou a Nigéria, a companhia de Duro Lapido teve alguns imprevistos ao desembarcar em São Paulo, há vinte dias. A Programação oficial não havia sido confirmada com a devida antecedência e foi graças então aos esforços da Internacional Consultoria e Palnejamento e do maestro Jácomo Bisaglia, que se montou um roteiro para que o grupo deixasse de mostrar a sua arte ao nosso público. Após uma estreia em Porto Alegre e a apresentação em Curitiba, "Oba Koso" será levada a São Paulo (sábado, Ibirapuera), Guanabara, Belo Horizonte e Brasília.
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Há dez anos percorrendo diversos países, o espetáculo escrito, dirigido e interpretado por Duro Lapido, 48 anos, 6 esposas (três das quais no elenco) falando um inglês oxfordeado que surpreendeu todos que com ele palestravam, não é fácil de ser digerido pelo público exceto talvez na Bahia - sem uma integração maior com a cultura africana. O ritmado som dos tambores age como um sonorífero sobre a platéia - e durante o espetáculo de quarta-feira não foram poucos os espectadores que adormeceram - e o fato do espetáculo ser narrado em dialeto africano, incompreensível e até assustador em seus sons guturais, contribui para torná-lo cansativo. Merece, entretanto, a atenção dos que se interessam pela cultura africana, em suas formas de canto e dança - cuja influencia sente-se em algumas partes de nosso País.
LEGENDA FOTO 1 - Ópera sonorífera.
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