Visconde Souto e os ossos de sua família
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 12 de julho de 1986
Talvez em breve o advogado Francisco Souto Neto, colecionador de artes plásticas e que vem procurando desenvolver vários projetos culturais (Salão de Novos; Museu do Banestado etc.), possa acrescentar em seu bem cuidado cartão-de-visitas o título de Visconde de Souto. Para tanto, um envelope foi encaminhado ao sr. Manuel Sebastião Dauen e Lorena, Marquês de Pombal, presidente do Conselho de Nobreza, em Lisboa, Portugal - com elementos informativos sobre sua árvore genealógica e, também, denúncias sobre "os descalabros que envolvem a memória de alguns dos mais fiéis súditos de Suas Altezas Reais, os antigos soberanos portugueses" - no Cemitério de Catumbí, no Rio de Janeiro. Inclusive, cópia desta documentação foi enviada também a Dom Duarte-Pio-João-Miguel-Gabriel-Rafael de Bragança, Duque de Bragança, herdeiro do trono de Portugal.
xxx
Tudo começou quando Francisco Souto Neto visitando o Cemitério de Catumbí, em janeiro de 1985, deparou com os túmulos de seus ancestrais - incluindo o Visconde de Souto (o banqueiro português Antonio José Alves Souto, 1813-1880) e os seus trisavós, Visconde de Souto e a Viscondessa Maria Jacinta de Freitas Souto 91810-1885), num "quadro de horror" - como descreve. O cemitério coberto por denso matagal, túmulos destruídos, lixo jogado no local etc. - tudo próximo a favela do Catumbí, "que avançara com barracos erguidos sobre os túmulos mais antigos".
Organizado e disposto a denunciar à opinião pública o abandono do cemitério do Catumbí - onde repousam os restos de muitos vultos da história de Portugal e do Brasil - Francisco Souto Neto iniciou uma série de contatos com autoridades - dando, ao mesmo tempo divulgação inclusive através de publicações nacionais) do abandono do cemitério. Até ao então ministro da Cultura, Aluízio Pimenta, Souto Neto fez chegar os seus protestos - apelando para a restauração do cemitério. Mas, apesar de sua luta, nada foi feito e, em dezembro último, verificou que o túmulo da família Souto havia desabado inteiramente, "transformando-se em escombros de mármore".
xxx
Embrenhando-se no cipoal nobiliárquico histórico para fundamentar suas preocupações com o abandono dos túmulos de seus antepassados, Francisco Souto Neto acabou tornando-se amigo do arqueólogo Roberto de Aquinotordy (que há anos busca tesouros de um navio pirata, afundado na baía de Paranaguá), presidente da Sociedade Brasileira de Heráldica e Medalística - que o animou em suas pesquisas. Reforçado pelo apoio do sr. Augusto Benedito Galvão Bueno Trigueirinho, presidente do Instituto Genealógico Brasileiro, Souto Neto dirigiu-se agora ao Marquês de Pombal (o sétimo, descendente direto daquele que expulsou os Jesuítas do Brasil), que preside o Conselho de Nobreza de Portugal.
Como o pai de Francisco, o jornalista Arary Souto (1908-1963), era primogênito de sua geração, descendente, numa linhagem direta de primogênitos varões, do Visconde de Souto, e sendo Francisco o filho mais velho, tornou-se legítima sua aspiração a herdar o título de Visconde.
Um título que - diz o pretendente - é valioso, já que em Portugal, ao contrário do que ocorre em outros países (Alemanha, Itália etc.), os mesmos não podem serem comprados - e só são concedidos aos legítimos herdeiros, através de muitas provas e registros no Arquivo Nacional da Torre do Tombo.
Assim, ao mesmo tempo que deseja regularizar a cessão do título de Visconde, Francisco Souto Neto busca, também, idealisticamente, com esta distinção, tornar mais fácil o trabalho na área cultural, ao qual pretende se dedicar, em tempo integral, tão logo aposente-se de suas funções bancárias.
Enviar novo comentário