Werneck, Nery e "Bife Sujo"
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 24 de maio de 1986
Mais uma vez, o bar - este território livre, amigo, sem preconceitos e regras definidas - motiva um delicioso livro de observações do quotidiano: "Bife Sujo & Cia", das tiras diárias da dupla Werneck/Neri, ganha a perenidade de um volume na minidimensão de 7x24 centímetros, e que a Cz$ 30,00 o exemplar está a venda na livraria Dario Velloso, da Fundação Cultural.
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A exemplo de outros caricaturistas do quotidiano e dos bares da vida - de Jaguar a Luís Gê - Werneck, 37 anos, que se autodefine como "artista prático, publicitário e peladeiro", juntando seu talento gráfico ao humor e imaginação do publicitário Neri, 24 anos, oferecem tiras que partem de uma visão crítica do mundo contemporâneo - mas com um sabor curitibano e que usam apenas uma ilustração-piada. Ou seja, não há técnica dos quadrinhos divididos, mas a piada panorâmica, o que não deixa de ser uma proposta original.
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Na introdução, Werneck publica sua "Declaração Universal dos Direitos do Homem". Eis alguns de seus pensamentos a respeito:
1) Moeda ou papel, dinheiro palavra mais doce, bem sonante, abençoada. Rima rica e solução: dinheiro, não. DINHEIRÃO.
2) Brilho nos olhos, no fundo do bolso, na bolsa, no baú. Apertadinho na mão, na poupança, no colchão. Na Suiça. Dinheiro de montão pra mandar todo mundo tomar por conta. No over, no open. Ação.
3) Dinheiro Seduz. Aplica, acalma, colabora, ativa, aviva. A verba inventa o verbo, move o homem e por magia o transforma, aqui ou Transilvania, em Vampiro ou Lobisomem.
4) Dinheiro do fundo monetário, banco, dinheiro interplanetário, dinheiro que te quero ver. Dinheiro sempre ao meu lado, na saúde ou na doença, na alegria ou na tristeza, não faz diferença, até que a morte nos se(am)pare com um enterro de luxo.
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Editando "Bife Sujo & Cia", Werneck explica: "Uma tentativa nossa (Nery e eu) de sair do ostracismo. Tentemo, fizemo, não ganhemo nem perdemo: impatemo".
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O Bife Sujo existe. É aquele botequim-restaurante, com um público fiel - artistas, jornalistas, publicitários, boêmios - numa travessa ao lado da praça Osório. E apesar do nome, não é tão sujo assim. Ao contrário, é animado e alegre com os fregueses que ali se reúnem todas as noites. Entre os quais, naturalmente, Werneck & Neri.
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