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Aramis

Grandes Instrumentistas (I) - Chiquinho do Acordeon

Carlos de Andrade - o Carlão. Anotem este nome! Graças a sua competência profissional, a indústria fonográfica alcançou alguns de seus melhores momentos nos últimos anos. Se tecnicamente, como engenheiro de som, Carlão já cumpriu a sua parte, como produtor fonográfico, através da Vison, vem realizando os mais belos álbuns instrumentais. Rafael Rabello e Sebastião Tapajós, para só citar dois exemplos, tem feito esplêndidas gravações através da pequena (grande) etiqueta de Carlão (Rua Soares Cabral 41, Laranjeiras, CEP 22240, a qual podem ser solicitados os discos caso não se encontrem nas lojas). Agora, a Vison traz uma nova obra-prima - justamente de um virtuose que, salvo engano (alô, alô, professor Schwaab), embora tenha participado de centenas de gravações e integrado a partir de 1954 o histórico Sexteto de Radamés Gnatalli, nunca havia feito um elepê solo à altura de seu imenso talento: Chiquinho do Acordeon. Romeu Seibel - seu nome verdadeiro, gaúcho de Santa Cruz do Sul, 61 anos a serem completados em 7 de novembro, há 52 anos já estudava acordeão com a professora Marieta Heuser. Há 38 anos, com o regional de Claudionor Cruz, no estúdio Star, participava de gravações. Com outros virtuoses - Garoto (Aníbal Augusto Sardinha, 1915-1955) e Fafá Lemos (violino), trabalhou no programa "Música em Surdina", na Rádio Nacional, do qual nasceu, em 1952, o Trio Surdina (que faria 3 pioneiros elepês na Musidisc). Na Rádio Nacional, a partir de 1953, se integraria a orquestra e depois ao Sexteto de Radamés Gnatalli. Teve o seu próprio conjunto, participou de trilhas sonoras para muitos filmes, acompanhou dezenas de grandes nomes da MPB e mereceu uma das últimas homenagens de seu amigo Gnatalli: uma sinfonia para orquestra e acordeão, que, em momento de inspiração, o maestro Alceo Bocchino incluiu na programação de nossa Sinfônica, com o próprio Chiquinho como solista. Uma amostragem maior de toda genialidade de Chiquinho e as imensas potencialidades do acordeão - um instrumento que vai do erudito ao (mais) popular - estão nas nove faixas deste elepê belíssimo, que merece, sem duvida, ganhar sua versão em CD. Produção carinhosa, na qual se uniram os melhores instrumentistas - e antes de tudo grandes amigos e admiradores de Chiquinho - o resultado é perfeito, com uma música emocionante e ao mesmo tempo moderna, capaz de tocar na profundidade de qualquer ouvinte de sensibilidade. Por exemplo, as duas faixas de abertura são do tecladista Aércio Flávio ("Frevendo" e "Amo"), com participações de Luizão Maia (baixo) e Cláudio Jorge (guitarra). De Roberto Menescal, presente no violão, temos a seguir "Nem pra Voz nem pra Sopro", "Sue Ann", da mesma dimensão de "Ligia" e outras musas de Tom, ganhou um arranjo especial, no qual ao acordeão de Chiquinho se unem os teclados de Eduardo Souto Neto, o fluguel horn de Márcio Montaroyos, o baixo de Luizão Maia, o violão de Zé Menezes, aos modernos teclados de Ricardo Leão e a bateria de César Machado. Já formações menores, mas igualmente emotivas em outras faixas: "Barroquinho", com o autor Sebastião Tapajós no violão e o piano de Gilson Peranzetta; "Velho Arvoredo", com a guitarra de Hélio Delmiro e o baixo de Luizão; "Alfa e Ômega", de Rildo Hora na harmônica de boca e seu filho, Misael, no piano. "Catedral", uma mostra do Marcos Valle (ao piano) dos bons tempos, com Ricardo Leão e César Machado. Outro grande acordeonista (e compositor), Dominguinhos, homenageia o mestre em "Sapoti", enquanto "Sax em Branco e Preto" (Jota Moraes), traz Mauro Senise no solo que dá título a esta gravação antológica. Um disco maravilhoso, seguramente entre os dez melhores álbuns instrumentais do ano e com temas para serem ouvidos inúmeras vezes. Um elepê à altura do talento de Chiquinho do Acordeon que provoca a maior emoção e alegria.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
16
10/09/1989

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