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Hermínio, amor e poesia, 50 anos

Lindolfo Gaya e Stelinha Egg, dois artistas do maior respeito, terão, hoje, uma especial alegria: vão reencontrar um de seus maiores amigos, o poeta, compositor, produtor e animador cultural Hermínio Bello de Carvalho, diretor da Divisão de Música Popular do Instituto Nacional de Música/Funarte. Hermínio está em Curitiba há 3 dias. Veio apenas rever amigos e descansar após sua participação no I Congresso Nacional de Música Popular (5 a 7 de março), em Araxá, no qual foi um dos mais atuantes expositores. Para Gaya, está reservado uma surpresa, no encontro de hoje: vai receber um dos primeiros exemplares do simplesmente emocionante "Lira do Povo", álbum duplo que Hermínio acaba de concluir, comemorando seus 50 anos - no próximo dia 28 de março -, véspera do aniversário desta nossa Curitiba. O álbum duplo de Hermínio - que é ainda completado com um compacto no qual há um dueto antológico entre José Renato e Paulo Tapajós, numa inédita "Modinha" (e que sairá como brinde do livro de poesias ainda em fase de impressão) está destinado a ter a maior repercussão, nas próximas semanas, junto à imprensa nacional, quando os primeiros exemplares forem distribuídos. Afinal, não é só a síntese da carreira de um dos mais sensíveis poetas e compositores brasileiros - mas o próprio significado da resistência cultural em favor das coisas brasileiras desde 1965, quando Hermínio, idealizando, escrevendo a dirigindo "Rosa de Ouro", reuniu num palco as figuras maravilhosas de Aracy Cortes e Clementina de Jesus, ao lado dos Cinco Crioulos - que eram nada mais, nada menos que Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Anescazinho, Jair do Cavaquinho e Nelson Sargento. Do álbum duplo, há que se falar em outra ocasião, com mais espaço, tal sua importância para nossa música e nossa poesia, neste 1985. Basta dizer que, com arranjos maravilhosos de Maurício Carrilho (e, em duas faixas, João de Aquino e Cláudio Jorge), em novas músicas ali estão Elizeth Cardoso, Tetê Espíndola, Nana Caymmi, Alaíde Costa, Zezé Gonzaga (que residiu algum tempo em Curitiba, cuidando aqui de uma creche), Elza Soares, Marlene, Clementina de Jesus, Nara Leão, Ademilde Fonseca e Nora Ney. Um elepê vem com músicas inéditas, em gravações especialmente produzidas. O segundo reedita seus tantos sucessos ("Alvorado", parceria com Carlos Cachaça/Cartola; "Sei lá, Mangueira", com Paulinho da Viola; "Mudando de conversa", com Maurício Tapajós, etc.) e há um desfilar de belas vozes brasileiras (muitas das quais já se foram): Altemar Dutra, Clara Nunes, Dalva de Oliveira e Ciro Monteiro, ao lado de superstars; Bethânia, Gal Costa, Simone, etc. xxx Na semana passada, em Araxá, Hermínio foi um dos coordenadores do Congresso Nacional de Música Popular, integrou a comissão que redigiu o documento "Carta de Araxá", entregue na sexta-feira, ao presidente Tancredo Neves, e fez a abertura do importante encontro que discutiu os problemas da nossa MPB. O resultado do encontro foi um documento de quatro laudas, numa linguagem objetiva, que analisou problemas relativos a direitos autorais, industriais fonográficos, mercado de trabalho, exportação da MPB, incentivo à música ao vivo, formação musical para crianças, fiscalização da execução pública, importação de instrumentos e até a proposta para regulamentação da profissão de repentista ou cantador violeiro. Apesar da vitalidade do "Carta de Araxá", seus signatários - entre os quais alguns dos mais importantes nomes da MPB - não o colocaram como um documento conclusivo, muito pelo contrário: agora ele está sendo entregue aos órgãos de classe que lutam pelas nossas aspirações - "órgãos de classe que, diz Herminio, mais do que nunca necessitam do nosso respaldo para fazer valer sua representação". Na próxima semana, divulgaremos a íntegra deste documento que em termos locais também está a disposição de nossos músicos, compositores, intérpretes - enfim todos que lutam pela nossa música, e que hoje a noite, o próprio Hermínio, estará lendo no Paiol, na reabertura deste teatro e que não poderia ser de forma mais significativa. Idealizado pelo coordenador Marinho Gallera, um espetáculo de confraternização com artistas de vários estilos e tendências de Nhá Gabriela, e seu filho, Ivan Graciano, até a vanguarda de Paulo Leminski, numa espontânea e sincera participação de cada um. E, em destaque, a presença de um casal dos mais admiráveis e merecedores de todo o respeito: Stelinha e Gaya. Ela, curitibana, primeira artista do Paraná a se projetar nacionalmente ainda nos anos 40, muitas gravações e viagens pelo mundo. Gaya, maestro, pianista, compositor e sobretudo arranjador identificado profundamente com a nossa MPB e que, há alguns anos, vem colaborando decisivamente com a vida cultural em Curitiba.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
16/03/1985

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