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Aramis

Tese de Cezar agora é livro

Em novembro do ano passado, logo após o encerramento do l Festival Internacional de Cinema, Televisão e Vídeo do Rio de Janeiro, no qual "Cabra Marcado Para Morrer", de Eduardo Coutinho, foi o grande premiado, aqui registramos um fato especial : o professor Cezar Benevides, em Curitiba, trabalhava numa tese sobre o mesmo tema que Coutinho tratava no filme - o assassinato do líder João Pedro Teixeira, em 1962, a mando de usineiros da Paraíba, e a criação das Ligas Camponesas naquele Estado. Em março do corrente ano, quando "Cabra Marcado Para Morrer" inaugurou o Cine Ritz e, logo depois, Benevides defendia sua dissertação de mestrado no Curso de Pós Graduação em História, da Universidade Federal do Paraná, voltamos a comentar o assunto, inclusive divulgando os trechos mais interessantes do trabalho um resgate de aspectos até hoje pouquíssimo estudados da história contemporânea em nosso País. Hoje, com prazer, completamos as informações anteriores: a Paz e Terra acaba de lançar "Camponeses em Marcha" (140 páginas, setembro/85), que é uma adaptação feita pelo próprio Benevides em cima daquela tese, suprimindo trechos muito acadêmicos e dando-lhe uma agilidade que lhe confere linguagem dinâmica e agradável. Sociólogo e professor, Benevides, paraibano de João Pessoa, 32 anos, foi secretário particular do ex-deputado federal José Joffily (cassado em 1964, hoje presidente da Herbitec, em Londrina), o que lhe permitiu acompanhar importantes acontecimentos históricos contemporâneos. Professor de sociologia da Faculdade Católica de Administração e Economia em Curitiba, e assessor da presidência do Banco do Estado do Paraná (atualmente coordena as operações de marketing do projeto Gralha Azul), há mais de 10 anos Cezar vem reunindo material a respeito das Ligas Camponesas da Paraíba. Fez inúmeras viagens a esse Estado, gravou dezenas de horas com personagens ligados aos movimentos camponeses no Nordeste e ampla pesquisa em jornais e documentos para consolidar aquela tese aliás, numa escola que aprendeu com o tio, amigo e conselheiro, o escritor José Joffily, cujos explosivos livros sobre fatos obscuros da história do Brasil (Anayde Beiriz, O Porto Político, Londres/ Londrina etc.) são sempre solidificados em exaustiva documentação que chega a ocupar quase 50% das páginas de cada volume. O prefácio de "Camponeses em Marcha" é de Fernando Antônio Azevedo (professor da Universidade Federal de Pernambuco), que integrou a banca examinadora na dissertação da tese de Benevides e, anos atrás, fez, também, uma tese sobre as Ligas Camponesas de Pernambuco (editada pela Paz e Terra, 1982 ). Na introdução, Antônio Azevedo lembra que Cezar Benevides conseguiu, ao longo de 5 capítulos, que o leitor se defronte "com uma história de violências e impunidade de uma das mais reacionárias facções da nossa elite agrária, a dos usineiros que compõem o que se chama, na Paraíba, o "Grupo da Várzea". Esse grupo, que combateu na década de 60, a ferro e fogo, toda e qualquer forma de organização e reivindicação dos trabalhadores rurais em suas terras, ainda hoje controla politicamente aquele Estado, decidindo eleições e influenciando decisões governamentais. E, por isso mesmo, continua, como há duas décadas, a lançar mão do recurso brutal e primitivo do assassinato como método político para liquidar seus inimigos de classe. A última vítima foi Margarida Maria Alves, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, assassinada com um tiro no rosto, em agosto de 1983, pelos capangas desse mesmo latifúndio, que, após o golpe de 64, também foi responsabilizado pelo "desaparecimento" de Nego Fubá e Pedro Fazendeiro, ex-líderes das Ligas de Sapé ". xxx Embora voltado para um episódio acontecido no início dos anos 60, na Paraíba, "Camponeses em Marcha" não deixa de ser uma análise da maior atualidade. Além da situação no Nordeste ainda apresentar os mesmos problemas, no Sul a questão de terras também é séria. Por exemplo, a luta dos expropriados pelo Lago de Itaipu, os sem-terras em busca de um local para fixar-se e tantos milhares de agricultores expulsos de pequenas propriedades, nos últimos anos, demonstram que a violência contra o homem, contraditoriamente num país tão grande e rico, é uma das vergonhas da nossa época. No futuro, o drama dos sem-terras no Paraná talvez venha a justificar teses de mestrado como a que Benevides fez agora sobre os camponeses paraibanos liderados por João Pedro Teixeira e sua mulher Elizabete (que após o lançamento do filme "Cabra Marcado para Morrer" se tornou figura nacionalmente conhecida). Mas seria mais justo que fossem encontradas soluções para esses dramas. E teses como essas não tivessem razão de ser escritas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
20
18/09/1985
Ainda bem que existe pessoa como Cezar Benevides, desempenhada em divulgar situações como esta, formou e deu continuidade à vida Acadêmica, muitos formam e não se interessam, não podemos calar em situações como essas. Como diz, Violência contra o homem num país tão grande e rico como o nosso?!

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