Baijamiacanos dos anos 90
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 04 de novembro de 1989
A Bahia, com toda sua influência musical, se voltou aos ritmos caribenhos nos últimos anos, numa fusão com o afro-carnavalesco da boa terra, musicalmente teve um boom de solistas, grupos e compositores através da Continental, sempre viva em termos de aproveitamento de ciclos regionalistas. Entretanto, o astuto André Midani não dorme de touca e assim a WEA também entra na mesma linha, reunindo seis nomes do que se pode chamar de nova safra no álbum "Bahia". Alguns dos selecionados para esta produção que tem o dedo do sempre atento Roberto Sant'Ana (que, entre outras revelações no mercado, fez as de Elomar, Quinteto Violado, Zizi Possi, etc.) estão Lazzo (que, por sinal, o mesmo Sant'Ana trouxe para a Polygram, anos atrás, mas sem maior sucesso) e Missinho, cada um com direito a duas faixas. Os outros baianos, com toda sua ginga neste álbum-apresentação, selo Nosso Som, são Jorge Zarath, Marcionílio, Roberto Mendes e Zelito Miranda. Mesmo que voltado, basicamente, para o mercado nordestino, o fato é que neste disco pau-de-sebo estão artistas que, dentro das regras nem sempre explicáveis do show business, em breve poderão estar em veredas pavimentadas de prosperidade.
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Da Bahia também vem Rei Zulu (?), apresentado como "um dos mais criativos músicos baianos", autor de "Madagáscar Oludum" (sucesso nas bandas Oludum e Reflexu's), que com a mão firme do radialista Cristóvão Rodrigues (em Salvador, as emissoras prestigiam mesmo os talentos locais) catapultou seus primeiros sucessos ("Liberte Mandela", "Alfabeto do Negão" e "Uma História"). No ano passado, Rei Zulu saiu com um disco, mas apenas liderando a sua banda Tomalira. Agora, Rei Zulu (desconhece-se seu nome verdadeiro, idade, etc.), ganha seu álbum solo ("Minhas Origens", Polygram), que abre com um merengue jovial (?), "Rhu e Rha", segue com "Venha me Amar", samba reggae com percussão de blocos afro e tem dois sambas duro arrastão (?) - "Tia Núbia" e "Cambalacho". Encerra o lado dois "Odará" - não é o sucesso do Caetano, mas do próprio Rei Zulu - autor, aliás, de todas as faixas, com músicas que falam do dia-a-dia na beira da praia ("História de Pescador"), ironiza os vudus ("Galera do Bem e do Mal"), mas traz também misticismo e religiosidade em "Maré do Goro", além de homenagear ao "meu pai e todos os amantes da birita".
Dois baianos em ascensão - Carlinhos Brown, autor de "Meia Lua Inteira" (incluída por Caetano em seu disco e show "O Estrangeiro", e a afinada cantora Margareth Menezes (que dividiu alguns shows com Gilberto Gil), estão presentes, dando uma força especial neste elepê que traz mais um baiano para a praça.
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