Login do usuário

Aramis

Reminiscências do cinema dourado no "Minas Texas"

Brasília O cinema do Centro Oeste/Sudeste não poderia faltar nesta 22ª edição do Festival de Cinema, ao lado dos filmes abordando aspectos da realidade brasileira - como "Uma Avenida Chamada Brasil", de Octávio Bezerra - exibido na noite de quarta-feira - e "Que bom te ver viva", de Lúcia Murat, que emocionou aos espectadores na sexta-feira. Assim, enquanto o recém-concluído "Minas Texas", programado para a noite de amanhã, é aguardado com muita expectativa pelo bom curriculum de seu realizador, o mineiro José Prates, a exibição hor concours, de "Brasília, a Última Utopia", terça-feira, antecedendo a entrega das premiações - representa uma experiência que há muito não se fazia no Brasil: a reunião de seis episódios curtos, com uma mesma temática - no caso a própria Brasília, onde vivem seus realizadores. Desde sua estréia no longa-metragem, com "Crioulo Doido", José Prates foi sempre um inovador, premiado e aplaudido em festivais e circuitos especiais, mas sem conquistar o sucesso popular. "Perdida" teve lançamento regular e apesar das origens literárias de seus dois longas seguintes - "Cabaré Mineiro" (a partir de um poema de Carlos Drummond de Andrade) e o belíssimo "Noites do Sertão" (de um conto de Guimarães Rosa), Prates está naquela categoria dos talentos não devidamente reconhecidos em nosso cinema. Agora, numa reviravolta em sua linha temática, traz a Brasília um filme que define como "uma viagem humorística e efetiva aos anos 50, quando o cinema americano exercia poderosa influência cultural, não apenas no Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte, mas até mesmo nos mais distantes povoados de sertão onde houvesse um cineminha funcionando". Assim, seu "Minas-Texas" - numa linha de nostalgia que atinge inclusive o cinema italiano ("Splendore", o filme de Ettore Scolla, 1988, sobre os últimos dias de um cinema numa cidadezinha italiana, premiado em Cannes no ano passado), tem por temática a mitologia dos heróis e heroínas da tela, dos astros e estrelas de Hollywood, que dominavam a imaginação popular e incendiavam os corações de adultos e crianças. Com a sensibilidade de quem aprendeu a amar o mundo das imagens nas projeções em pequenos cinemas do Interior - a partir de Montes Claros, onde nasceu - Carlos Prates embora faça a narrativa de seu filme começar nos anos 80, retrocede aos tempos do segundo governo de Getúlio Vargas e termina de novo no presente. Explica: - "Neste período de trinta e poucos anos, tudo mudou naquelas terras, como o Texas depois do petróleo - o caminhão substituiu o carro de bois, a indústria chegou à fazenda de gado, a televisão reduziu as proporções do cinema. Só uma coisa não mudou ali e resiste à passagem do tempo: a fantasia romântica de Januária pelo peão do rodeio Roy, a imagem do herói americano como que saída da tela". Adotando o pseudônimo de Charles Stone - para assinar o roteiro, direção e produção, Prates cercou-se de uma equipe de colaboradores identificados com o seu trabalho. Por exemplo, a música é do excelente Tavinho Moura, premiado já por duas vezes em Gramado pelas trilhas de "Cabaré Mineiro" (editado em lp pela Odeon) e "Noites do Sertão" (edição independente). Mineiro até a medula, Tavinho captura a beleza da música mineira e deve repetir isto na trilha deste "Minas Texas". No elenco, estão Andréa Beltrão, José Dumont, Tony Ramos, Aida Lerner, Elke Maravilha e Saul Laranjeira - este um cantor-compositor, na linha picaresca, um talento em sua mineirice-cabocla que apesar de já ter feito temporada em Curitiba (inclusive no Teatro do Paiol) é ainda pouco conhecido. Dos filmes inéditos, que estão tendo sua primeira exibição em Brasília, "Minas Texas", programado para manhã - e sem data de lançamento - está sendo aguardado naturalmente, como uma das esperanças de se (re)encontrar aquela linha brasileira, inteligente e com a simplicidade tão gostosa das obras de arte, como Prates mostrou, há três anos em "Noites do Sertão" - que saiu coberto de prêmios do festival de Gramado. LEGENDA FOTO - Pedro Jorge de Castro - na foto ao lado da TV-woman Lea Kissenberg - é o diretor do episódio "O Sinal da Cruz", em "Brasília: a última utopia", filme realizado por seis cineastas sobre o Distrito Federal, que terá sua primeira exibição na noite de terça-feira, encerrando o festival.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
05/11/1989

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br