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Aramis

"Baleias de Agosto", o adeus de Bette Davis

Dispondo de grandes acervos, com títulos dos mais importantes - mas que nem sempre são comercialmente convenientes - as chamadas majors (as grandes produtoras do cinema americano) ao ingressarem em novos territórios na área do vídeo, como é o caso do Brasil, mostram-se cautelosas na escolha de seus lançamentos mensais. Afinal, com um vídeo chegando a quase NCz$ 400,00 - e restrito, portanto as distribuidoras com maior cacife - há necessidade dos pacotes oferecerem retornos garantidos do investimento feito por cada empresário. São poucos os donos de locadoras da região Sul, como Luiz Renato Ribas, que dispondo de sólidas reservas se dão ao luxo de adquirir várias cópias de um mesmo título e buscarem ter ao menos um exemplar de cada lançamento feito no mercado. Na maioria, os donos de locadoras são amadores inexperientes, que recorrem aos chamados consultores de cinema - cinemaníacos bem informados, mas que nem sempre possuem condições de videntes e também podem incorrer em erros. Isto explica porque as pequenas distribuidoras recorrem a títulos inexpressivos, produções baratas - e quase sempre inéditas no circuito comercial justamente pelo desinteresse do mercado em 35mm em sua produção. Quem acompanha o cinema através de publicações up to date como Variety e Studio, editadas em Nova York e Paris, respectivamente, sabe a diferença entre o cinema-de-empulhação e o cinema-arte. Mensalmente, são centenas de títulos descarregados num mercado mundial que absorve até 60 mil unidades diversas - para exibição em circuitos 35mm, TV, TV a cabo, vídeo etc - e que não prima, naturalmente, pela qualidade. Portanto, o público não se deve influenciar pela quantidade de títulos colocados nas locadoras - pois, em sua grande maioria, são produções classe "D" a "Z" que, normalmente, nem chegaria aos circuitos comerciais mesmo na época de ouro do cinema. Em compensação, para quem tem a mínima alfabetização cinematográfica é preciso estar atento para filmes de ótimo nível que permaneceriam inéditos se não fosse a opção do vídeo. Um exemplo disto é "Baleias de Agosto" (The Whales of August), que o diretor inglês Lindsay Anderson realizou há dois anos, com um elenco que somados suas idades passaria dos 300 anos, a começar pelo trio central: Lilian Gish, 93 anos; Vicente Price, 78 anos e Bette Davis (Ruth Elizabeth Davis), falecida há duas semanas, em Paris (7/10) aos 82 anos completados no último dia 5 de abril. Por certo, o fato de "A Malvada" (título de um de seus mais famosos filmes) ter morrido está fazendo com que dezenas de videomaníacos que até agora não se haviam interessado por "The Whales of August" passassem a procurar este lançamento, colocado no Brasil pela Mundial Filmes já há alguns meses - e que não teve distribuição em 35mm. Mas não é apenas pela digna presença dos veteraníssimos Price, Lilian Gish e Bette Davis que o filme merece ser visto. Lindsay Anderson, um inglês de 66 anos, o diretor, é um dos nomes importantes do cinema britânico, embora pouquíssimo conhecido no Brasil. Vindo do movimento Free Cinema, dividido entre as câmeras e o teatro, sua obra é compacta mas competente. Estreou no longa metragem com "This Sporting Life" (63), nunca visto no Brasil e só com "Se..." (If, 1968), premiado em Cannes há 21 anos, obtendo um lançamento mundial. Seu filme seguinte, "Um Homem de Sorte" (Oh! Lucky Man, 73), existe em vídeo (pirata) e está entre os mais irreverentes musicais dos anos 70. Após uma sátira brilhante ("Britannia Hospital", 82, também inédito no Brasil), retornou com o lírico e simbólico "Baleias de Agosto", que conta o outono da vida de duas irmãs, Sarah e Libby que passaram mais de 60 verões na costa de uma ilha em Maine. Seus maridos morreram e a romântica Sarah (Gish) e a objetiva Lilibby (Davis) tem somente uma a outra. Relembram o passado e, simbolicamente, as Baleias de Agosto volta a emergir. No elenco está também uma atriz inglesa excelente, igualmente pouco conhecida entre nós: Ana Soethern. Lançamento: a CIC Vídeo lançando "Luar sobre Parador" (Moon over Parador), que Paul Mazursky ("Harry, o amigo de Tonto", "Próxima Parada: Bairro Boêmio", "Uma Mulher Descasada", "Tempestade" etc.) rodou em Ouro Preto e Rio de Janeiro. No elenco, ao lado de nomes internacionais (Raul Julia, Richard Dreyfuss, Sônia Braga), um curitibano conhecido: Ariel Coelho. Ora viva!
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
8
19/10/1989

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