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Aramis

À beira do "mar doce", nasce uma cidade linear

Entre as propostas concretas que o plano Diretrizes de Desenvolvimento Regional traz para os 8 municípios lindeiros do lago de 1.300 quilômetros de Itaipu, sem dúvida que a idéia de se estimular o nascimento de uma verdadeira cidade linear, voltada basicamente ao lazer e ao turismo, ao longo de uma extensão de 50 dos 1.200 quilômetros de margens fronteiriças do lago, é a mais audaciosa - e mesmo polêmica, embora viável a médio e longo prazo. Como expusemos ontem, a idéia básica proposta pelo arquiteto Rafael Dely, consultor físico territorial para o grande estudo realizado pelo Instituto Ambiental, foi de utilizar uma faixa lindeira do lago, de 200 a 250 metros de largura, para ser utilizada por lotes de lazer e uma estrutura básica de serviços e atividades econômicas que, mesmo sem uma continuidade física específica (ou seja, em núcleos que poderão estarem separados por variáveis distâncias e diferentes razões) formará, no conjunto, a cidade linear do lago de Itaipu - o novo Litoral paranaense. A faixa prevista, inicialmente de 200/150 metros, poderá ir variando em profundidade quando o uso do solo for correlato ao existente na região. Por exemplo, uma chácara para plantio de flores, frutas etc, poderá extrapolar a medida definida, já que em nada contraria os pontos básicos da proposta. Para atividades de lazer e turismo, no entanto, o empreendimento ficará contido no máximo em 250 metros, para não interferir na estrutura da região (especialmente em sua vocação agrícola) e criar uma aderência ao lago - já que o fato de estar de frente para este novo mar (de água doce) é que constitui a tônica do projeto. xxx O arquiteto Rafael Dely ao desenvolver a idéia de uma cidade linear às margens de Itaipu raciocinou que existe sempre em cada um dos municípios lindeiros, algum distrito povoado junto (ou bem próximo) ao lago. "Esse pequeno conglomerado - diz Rafael - dispõe de determinado grau de serviços e equipamentos, principalmente comércio e está ligado através de estrada vicinal à sede do município que, por sua vez, liga-se, por rodovia federal ou estadual, ao resto do Estado". Assim, se terá através destes distritos e povoados condições de atingir o lago em qualquer lugar que seja. A proposta é agora desenvolver estes pontos (distritos ou povoados), justamente por serem básicos no acesso ao lago - e que mesmo, muitas vezes precariamente, já dispõe de vias de acesso (que poderão serem melhoradas). Há, obviamente, possibilidades de se fazerem outros acessos ao lago, o que trará desenvolvimento indireto a toda a região - inclusive no atendimento de serviços (postos de saúde, escolas, comércio etc.). xxx Obviamente que dentro da proposta de desenvolvimento linear das atividades pensadas para a implantação, em etapas, da cidade linear do lago (que será multimunicipal sem as fronteiras legais existentes) é um dos fatores mais importantes do projeto. Torna-se, assim, imprescindível uma via margeando o lago de tal modo que permita o acesso para a implantação e uso dos empreendimentos. - Desse modo - diz Rafael - propusemos a criação de uma avenida beira-lago contatando-se através dos distritos e povoados já existentes. Essa via partindo exatamente destes povoados poderá, de início, ter definida somente sua faixa que, liberada, possibilitará já a circulação para posteriormente, dependendo dos recursos de origem dos mesmos, receber pavimentação. Quando da implantação da hidrelétrica e no que diz respeito ao imenso reservatório - ou seja o lago - Itaipu adquiriu áreas não somente para conter a água do lago em seu estado normal, mas também as necessárias para possíveis acréscimos de superfície lacustre em função de fenômenos climáticos (chuvas intensas com recorrência de 20 a 50 anos, por exemplo). Além dessa última parcela de terra que atingiu até a cota 225 (nível este previsto como possível de ser atingido pela água em função dos fenômenos climáticos), outras áreas contíguas também foram adquiridas dentro do que se convencionou chamar de poligonal envolvente. As larguras de ambas as faixas variam, mas situam-se geralmente em torno de 100 metros cada e circulam praticamente todo o perímetro do lago. Ambas as faixas atualmente estão livres. A primeira somente é coberta pela água por ocasião de chuvas extraordinárias e a segunda é destinada a programas de reflorestamento. A proposta da avenida beira-lago exatamente no limite da poligonal envolvente, marcará fisicamente uma separação Itaipu restante do município. O fato dela ser contínua favorece para que empreendimentos possam surgir em qualquer lugar em solução de continuidade. O que também contempla custos, já que a mesma existe não havendo necessidade de dispêndios para sua implantação (desapropriações, indenizações etc.). será a contribuição da própria Itaipu Binacional, dona da área, para o projeto. Esta preocupação elimina, a princípio, outro ponto que será bastante discutido: os riscos de enchentes virem atingir a futura cidade linear. Tecnicamente, com base em estudos rigorosos, isso nunca deverá acontecer. xxx A partir da Beira lago surgirão os empreendimentos através da iniciativa privada em áreas a serem adquiridas dos atuais proprietários (que obviamente poderão também ser os próprios empreendedores). O desenho urbanístico proposto a partir da avenida beira lago é o mais livre possível, isto é, não haverá imposição quanto o sistema viário, tamanho de lotes etc. "O sentido pois é o de liberalizar o desenho urbano, já que desse modo a importância maior recairá sempre sobre a via junto ao lago" explica o idealizador Rafael Dely. Na verdade sempre existirá um sistema viário paralelo ou perpendicular ao lago, dada a condição de acesso e apoio viário as prioridades, mas na tentativa de deixar mais livre e orgânico o traçado, não se exigindo paralelismo ou continuidade das vias. Outra característica será a de dotar toda a faixa de intensa arborização, seja as ruas e as propriedades. Aliado as áreas de reflorestamento, e proteção biológica, a intenção é criar-se uma verdadeira cidade ecológica, onde a faixa ocupada funcione como uma espécie de mata ciliar do lago. A estrada vinda da sede ou do distrito, quando atingir a área do projeto, se fará através de uma praça onde se buscará localizar os equipamentos mais importantes, pois será passagem quase obrigatória para quem chegar. Esse modelo marcará também as entradas da cidade linear. xxx Não se trata de sonho ou projeto faraônico. A própria envergadura de uma usina e um lago como o de Itaipu, justifica um projeto de uma grande magnitude como o que agora se propõe. Aliada a posição geográfica extremamente favorável, e idealização da cidade linear, seguiu essa diretriz, levando-se em conta a oportunidade de servir a uma série de municípios. O projeto é uma abertura em termos de investimentos para a classe empresarial, através de caminhos diversos aos até agora existentes. A questão de viabilidade para cada uso deverá ser aprofundada no caso de interesse em participação, mas é quase evidente as potencialidades, tendo em vista a formidável infra-estrutura existente e os caminhos para acrescentar vocações às já existentes nos municípios. LEGENDA FOTO - Dely: projeto de uma cidade linear às margens do Lago de Itaipu.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
01/02/1990

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