Bichos do Paraná levam transa teatral ao Rio
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 19 de julho de 1986
Durante quase dois meses um dos três espetáculos de melhor público teatral do Rio de Janeiro foi "Vamos Transar!", encenada inicialmente no teatro Glauce Rocha e, posteriormente no Casagrande. Sem nomes famosos no elenco e com um texto coletivo, desenvolvido pelo grupo Rotte-Gautz, em Berlim, "Vamos Transar!" causou polêmicas, teve casas lotadas e deu condições aos seus intérpretes em se fixarem no Rio de Janeiro, ensaiando agora a peça "Aumento de Salário", de Jean Poirot, com direção de Paulo Afonso Grisoli.
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Durante a longa temporada carioca, mesmo sem negar suas orígens, o grupo também não fez questão de identificar como ponto de origem do espetáculo a montagem semi-amadorística que havia sido feita em Curitiba de "Vamos Transar!", uma proposta de fazer educação sexual para os adolescentes através de um texto estrangeiro. A idéia de montar esta peça, para cuja direção veio a Curitiba o dinamarquês Volker Quandt - foi a inquieta Joana Lopes, que havia se apaixonado pela peça durante uma viagem a Alemanha. A Fundação Teatro Guaíra bancou a produção e a Secretaria de Educação, de princípio, iria participar do espetáculo, levando-o às escolas do 2° grau. Entretanto quando "tia" Gilda Poli soube da maneira como o sexo era discutido pelos intérpretes acabou se assustando e boicotando o projeto. Joana Lopes ficou furiosa ainda mais quando a Censura proibiu o espetáculo para menores de 18 anos - já que a intenção era atingir os adolescentes. Só com muita luta é que a censura reduziu o veto para 16 anos.
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A polêmica ajudou a que "Vamos Transar!" tivesse bom público em duas longas temporadas no miniauditório Glauco Flores de Sá Brito. Entusiasmados com a possibilidade de a peça funcionar em outras cidades, seus intérpretes propuseram ao Guaíra a compra dos direitos e assim, por sua conta e risco, a levaram a Cascavel, Florianópolis e, voltando a Curitiba, em nova temporada no Teatro da Classe. Em São Paulo tiveram duas semanas de boa casa no Teatro Eugênio Kusnet mas o êxito maior foi mesmo no Rio de Janeiro.
Sem identificar-se como grupo - apenas usando a razão social de "Pois É - companhia de Teatro S/C" - a produção possibilitou que cinco formandos pelo Curso de Artes Cênicas da TFG se profissionalizassem. Assim o engenheiro Paulo Sergio Ramos, o administrador de empresas Edson Rocha, a socióloga Marli Gottechefski, o músico Rafael Veiga de Camargo e a modelo Cristiane de Macedo abandonaram, em definitivo, outras atividades para se dedicarem apenas ao teatro. Alugaram um apartamento confortável no Jardim Botânico e encerrada a temporada de "Vamos Transar!", estão ensaiando agora a peça de Poirot, a estrear nas próximas semanas
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Quem ajudou muito ao grupo se profissionalizar, acompanhando-os há mais de seis meses como fact-totum da companhia foi o poeta, escritor e hoje executivo teatral Aldo Schmitz, 30 anos, catarinense de Joinville, há seis anos em Curitiba. Para se dedicar a esta produção, Aldo vendeu para Rosemary Schulmann a publicação que havia fundado em 1984 (hoje com 30 mil exemplares semanais) e passou três meses no Rio de Janeiro. Conseguiu, inclusive, montar um lobby para reduzir a censura de 16 para 14 anos, ampliando assim o público que pode assistir "Vamos Transar!".
Agora, retornando a Curitiba, Aldo Schmitz está decidido a ficar apenas na área teatral: assessora nesta semana a produção local de "Toda Nudez Será Castigada", está ajustando a comédia "Zé Maria procura Sir Ney Para Se Coçar" (do qual é um dos autores) e enquanto não acerta a produção de sua versão de "O Analista de Bagé" (com direitos oficialmente dados por Luís Fernando Veríssimo) vai ajudar Edson Bueno a fazer sua primeira montagem profissional: uma peça baseada no conto "O Pescador e Sua Alma", de Oscar Wilde - e que terá o nome de "A Sedução". Estréia previsto para setembro, em algum dos palcos da cidade.
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