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Aramis

Botoneiro Hélio, cheio de graça, imortal alternativo

Há muito que a figura de Hélio Lettes, 40 anos, deixou de ser apenas folclórica dentro do badalativo mundo cultural curitibano para adquirir contornos de um afetivo patrimônio humano. Para este bancário (Banespa) que gasta suas horas livres numa multiplicidade de atividades não lucrativas, a vida deve ser voltada à graça e ao humor. Assim seu original curriculum inclui títulos tão originais como o de secretário geral da ASSINTÃO - Associação Internacional dos Colecionadores de Botão; coordenador doutrinário da Igreja da Salvação pela Graça e também a coordenação da Campanha Mundial Antitaxidermista, curadoria do Museu da Casado Botão e, além de tudo, a figura do palhaço Botão. Hélio Lettes já ganhou um elogio do saudoso Paulo Leminski - um dos primeiros intelectuais a saber ver a dimensão maior em suas performances - mereceu um vídeo-clip ("O Significador de Insignificância") realizado por João Alcará com fotografia de Tiomkim, esteve numa bienal de arte alternativa na Cidade do México e há alguns meses deixou embasbacado até o sempre ágil Jô Soares em seu "Onze e Meia". Nascido na Lapa, infância em Apucarana, vivência em São Paulo, Hélio é um curitibano de plena adoção. Difícil a vernissage em que não comparece para distribuir seus botões-decalques, criados para cada evento e atento ao calendário está sempre com novas propostas. No Carnaval deste ano, saiu às ruas com a Excola (com "x") de Samba Unidos do Botão, com um desfile de carros alegóricos minimalistas e homenageando a nossa poeta maior Helena Kolody. Agora, Hélio anuncia que a abertura da estação das flores em 14 de setembro será com a PACU - Passeata Assobiática de Curitiba, reunindo membros do Fiu-Fiu Sport Club. Explica: - A cada ano é grande a variação de participantes, inclusive com simpatizantes de outras cidades que para cá acorrem. À noite celebraremos o culto anual da Igreja da Salvação pela Graça, no Teatro Universitário de Curitiba. No ano passado, o deputado Greca de Macedo - que pretende ser candidato a prefeito - tentou censurar este evento, por achar "um ato blasfêmico" a partir do nome da igreja e do Slogan "Deus é Humor". A tentativa falhou e com isto perdeu votos de mais uma faixa da juventude curitibana. A última novidade de Hélio Lettes é a ACABA - Academia Brasileira de Alternativos, fundada em 22 de abril de 1921, no "Sanatório Central" durante o II Congresso Brasileiro de Poesia em Nova Prata, Rio Grande do Sul, na qual Hélio liderou a bancada paranaense. Explica as finalidades desta academia "com fins de lucros artísticos". - Tem por objetivo afogar, já na fonte, o desejo, explicável dos alternativos de entrar para a Academia Brasileira de Letras. Poderá também, se tornar uma espécie de Bolsa de Valores Culturais, com intenso intercâmbio de ações poéticas e valores artísticos. Sempre com bom humor - e maestria em trocadilhos - Hélio continua a explicar as regras da ACABA. - O Participante recebe a alcunha de Acadêmico e a ele é vedado participar de outras academias oficiais, com as devidas exceções, para as academias de judô, karatê, chutô, oiquedô, sumô, espremô, jaz, etc. Podem participar todos os poetas e escritores "que não integrem a Academia Brasileira de Letras" e o critério da eleição é o sorteio simples. A ACABA nasceu com 25 poltronas, "mas esse número pode aumentar ilimitadamente". Cada poltrona tem um patrono ou uma matrona, "acervo este constituído de poetas falecidos para a vida ou para a literatura". Há promessa de edição de um vernabito (sic) simples, denominado "ACABASE" com a produção poética dos associados desta academia que não tem sede física mas poderá se reunir durante eventos coletivos. O primeiro presidente é um poeta de Rondônia, Eliakim Rufino e entre os poetas curitibanos foram admitidos os seguintes - alguns apenas identificados por pseudônimos: Stella de Resende, Jake, Vica (cuja cadeira tem como matrona a poeta Ana Cristina Cesar, que se suicidou há alguns anos), Rollo de Resende e Estrela Leminski - cujo pai, Paulo Leminski (1944-1989) é patrono da cadeira ocupada por dona Olímpica, Nova Prata. LEGENDA FOTO - Hélio Lettes funda academia alternativa, entre Valêncio Xavier (à direita) que conclui biografia afetiva do nosso mais notável artista, Poty (esquerda). (Foto Alice Varejão).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
28/08/1991

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