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Bradesco vai financiar nova sede da Cinemateca

Como gerente de agência Marechal do Bradesco, Antoninho Bornia ajudou muito o grupo de Amador Aguiar a conquistar a liderança nacional. Nos anos 60, quando o Bradesco ainda não era o campeão do ranking bancário, Bornia, com seu jeito afetuoso e amigo de fazer clientes, destacou-se na gerência local do Bradesco, catipultuando [catapultando] uma carreira que o faz hoje um dos principais executivos da organização. Pelo visto Bornia não esqueceu Curitiba. E acaba de dar mais uma prova disto ao se empenhar para que o Bradesco venha a participar com uma sólida ajuda para que o prefeito Jaime Lerner possa realizar um projeto que acalenta há um ano: transformar um antigo casarão na rua Mateus Leme, ao lado da Casa da Memória, na nova sede da Cinemateca. Em apenas três dias, os arquitetos Abrão Assad e Angel Walter Bernal - que além de dirigir a Administração Regional da Matriz - está também auxiliando Lerner na área de promoções culturais assumindo funções da maior importância (inclusive a coordenação das festas populares para voltar a movimentar o centro da cidade) desenvolveram um projeto que poderá dar à cidade uma Cinemateca-modelo. Abrão Assad, reconhecidamente um dos mais criativos arquitetos do Paraná (do Teatro do Paiol ao mobiliário urbano da Rua XV, sua griffe está em alguns dos mais bem sucedidos projetos) tem o senso do equilíbrio e do bom gosto e Angel um boliviano que se curitibanizou há duas décadas, são profissionais do maior gabarito e sólida formação cultural. Juntos desenvolveram um primeiro estudo que, agora nas mãos do Bradesco, deverá receber uma injeção inicial que seria, em valores atuais, ao redor de NCz$ 10 milhões - mas que, obviamente, deve ser corrigida com o passar do tempo. A Cinemateca do Museu Guido Viaro foi implantada graças à iniciativa de Valêncio Xavier, cineasta, tv-man, escritor, hoje com sua energia criativa no Museu da Imagem e do Som. Valêncio não só idealizou e implantou a Cinemateca - na administração do engenheiro Saul Raiz - como consolidou o cine Groff, aos quais se acrescentariam, posteriormente, os cines Ritz, Luz e Guarany, fazendo com que o município se transformasse num circuito de exibição - concorrendo, inclusive, com a iniciativa privada. Valêncio Xavier, graças ao seu relacionamento e visão , fez a Cinemateca estruturar-se de forma adulta, sedimentando convênios com as outras duas instituições congêneres - a do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e a Fundação Cinemateca Brasileira, em São Paulo. Pesquisador incansável reuniu o que foi possível da memória filmada do Paraná e, mesmo com limitações financeiras, formou um acervo básico de muitos clássicos para a Cinemateca programar regularmente. Infelizmente a saída de Valêncio da Cinemateca, há alguns anos, desestruturou hoje sofrendo vários problemas - desde o critério de programação das salas do circuito oficial (nos quais há desperdícios dos melhores filmes, muitas vezes cortados em suas carreiras) até a necessidade de uma restruturação de ordem legal - com destinação de percentual da renda dos cinemas a produção cinematográfica e em vídeo local. Existe uma central de vídeo, transferida no final da administração Roberto Requião para a Fucucu que, até hoje, não teve uma utilização racional, quando já poderia ter estimulado a formação de uma nova geração de vídeo-makers. Problemas aos quais o prefeito Jaime Lerner não pode, ainda intervir com o rigor necessário, mas que merecem atenção e já justificaram, inclusive, pedidos de informações por parte do vereador Mário Celso, sempre atento com a política cultural do município. Apreciador do bom cinema - semanalmente, ao menos duas noites são reservadas para assistir os melhores filmes em exibição na cidade - Lerner preocupa-se com péssimo estado da Cinemateca. Incômoda, com poltronas desconfortáveis, deixando inclusive muito a desejar nos aspectos, de limpeza e segurança, a improvisada sala que foi montada há 11 anos no Museu Guido Viaro há muito necessita de uma ampliação. Agora, mais do que uma reforma a Cinemateca terá uma nova sede, ampla, talvez até com duas salas de projeções e espaços para arquivo, exposições, palestras etc. xxx Generosamente o Bradesco vai ajudar a financiar o projeto - que, evidentemente, ultrapassará os NCz$ 10 milhões inicialmente doados. Entretanto, algo será feito - de forma a que fisicamente a Cinemateca venha a ter melhores instalações. Mas assim como o cine Groff - hoje a pior sala de exibição da cidade (e cuja reforma há muito vem sendo cobrada pelos escassos espectadores que o freqüentam) - poderia ser transformado na Cinemateca (inclusive com utilização de lojas da galeria Schaefer, ociosas, para os setores de pesquisa e arquivo), a idéia de reutilizar um casarão na rua Mateus Leme é válida. Mas tão importante quanto a reforma física do prédio é que novos tempos marquem a coordenação de cinema, para que os investimentos feitos se justifiquem e haja um real aproveitamento pelo público. LEGENDA FOTO - Abrão Assad: projeto para uma nova Cinemateca.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
21/02/1990

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