Buarqueanas...
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 08 de dezembro de 1988
Verinha Wal-Flor, 37 anos, 18 de atividades ligadas a produção e promoção de eventos artísticos, desembolsou nesta semana mais de Cz$ 100 mil na compra de ingressos para o show "Francisco" (Teatro Guaíra, ontem). Foi a única forma que encontrou para atender aos jornalistas que há anos lhe prestigiam e que a procuraram pedindo entradas para a única apresentação do show de Chico Buarque de Holanda. A empresa paulista Socran Promoções Artísticas, pertencente ao empresário Júnior e a um dos filhos de Marcos Lázaro, simplesmente havia proibido a concessão de qualquer ingresso para jornalistas, alegando que "não precisamos da imprensa curitibana já que a casa está lotada" - na afirmação de um de seus assessores. Verinha Wal-Flor, que havia sido contratada (por apenas Cz$ 80 mil) para assessorar a produção local, pensa diferente: a imprensa que generosamente sempre acolhe os espetáculos aqui apresentados não pode - nem deve - ser desprezada, só porque o show de um superstar consegue lotação. Assim, gastando os Cz$ 80 mil que receberia - e mais Cz$ 30 mil - adquiriu os ingressos para atender aos profissionais que sempre apóiam os espetáculos que aqui promove.
Uma atitude bonita e coerente de Verinha, que tem ao longo dos anos dignificado a profissão de empresária artística - até hoje confundida com a ação de trambiqueiros e inescrupulosos que visam apenas o lucro fácil, prejudicando os artistas.
A única apresentação de "Francisco" em Curitiba (hoje, em Londrina) significou um gordo Natal para os cambistas: mesmo com toda disposição do superintendente Constantino Viaro em evitar ação dos aproveitadores contumazes, repetiu-se o óbvio: ingressos até a Cz$ 25 mil ( o preço máximo era Cz$ 10 mil, nas 4 primeiras filas da platéia) chegaram a ser oferecidos ontem à noite. Câmbio negro de ingressos para espetáculos de grande atração sempre existiu e, usando mil formas, os nossos cambistas conseguiram esgotar a lotação do Guaíra em poucas horas.
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Sem qualquer preocupação com este tipo de problemas - seu negócio é apenas cantar e fazer um belo espetáculo, numa produção que envolve quase 40 pessoas e tem um custo altíssimo - Chico Buarque pôde fazer o que mais gosta na tarde de ontem: jogar futebol com seus músicos. Na paradisíaca fazenda do bilionário J. Malucelli, entre generosas doses de scotch e cerveja gelada, Chico e seus amigos - e mais alguns privilegiados convidados do sr. Aldo Malucelli, da TV Independência, que coordenou a recepção, tiveram longos momentos de descontração.
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