A guerra necessária conta os cambistas
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 24 de março de 1987
Mesmo antes de assumir, os novos diretores da Fundação Teatro Guaíra já estão com um abacaxi na mão que, espinhento e incômodo, não pode ser descascado, de forma conveniente, por seus antecessores: a ação dos cambistas que, acintosamente, agem nas barbas da administração do teatro oficial, explorando o público sempre que acontece um espetáculo com maior atração.
Sob a cômoda alegação de que "o problema existe em teatros de Londres, Nova Iorque e Paris", sem esquecer exemplos do Rio e São Paulo, a convivência com os cambistas tem sido tolerada pela administração que agora se encerra. Felizmente, por sua integridade e competência, o novo secretário da cultura, René Dotti - homem acostumado a freqüentar teatros em muitos países - mesmo admitindo a existência de cambistas em outros lugares, não deseja pactuar pela omissão com este problema. E, uma das primeiras missões que confiou a Constantino Viaro, superintendente da FTG e seu homem de maior confiança, foi a de, a curto prazo, reprimir os cambistas e investigar, a fundo, até onde existem conexões internas que favoreçam o comércio ilegal na venda de ingressos. Para tanto, René está disposto mesmo a solicitar a ajuda de seu amigo particular, o promotor Antônio Lopes de Noronha, secretário da Segurança Pública.
As denúncias levantadas em reportagem em O Estado do Paraná, na semana passada, em relação ao câmbio negro dos ingressos das duas apresentações de "Gal Costa In Concert" (hoje e amanhã, 21 horas, ingressos oficialmente a Cz$ 300,00, Cz$ 250,00 e Cz$ 150,00) acabaram atingindo a empresária Vera Walflor, proprietária da Hanny Baby Produções Artísticas e que através de acordo operacional com o produtor Alexandre Queirola Barros, de Belo Horizonte - proprietário da AQB Produções, de Belo Horizonte, é o responsável executivo por esta excursão de Gal Costa. No domingo, de São Paulo, Verinha Walflor procurava, telefonicamente, esclarecer sua posição a respeito, já que foi, injustamente acusada de ter favorecido a ação dos cambistas. Paranaense de Foz do Iguaçu, 36 anos, há 17 na área da produção e empresariamento artístico, Verinha é pessoa das mais queridas e bem relacionadas no meio artístico local e que longe de compactuar com os cambistas há muito espera que haja, de fato, uma ação repressiva contra sua ação "que só tem prejudicado a quem honestamente se dispõe a trazer bons espetáculos a Curitiba".
Em 1986, Verinha foi pessoalmente escolhida pela atriz Fernanda Montenegro para cuidar da produção executiva na excursão de "Fedra", de Racine, nas apresentações fora do Rio de Janeiro, num reconhecimento ao seu trabalho que comprovou sua competência profissional - fato que com satisfação aqui registramos. Também o casal Eva Wilma e Carlos Zara, satisfeitos com o que Verinha realizou por ocasião da temporada de "Quando O Coração Floresce", em Curitiba, a contrataram para coordenar a nova temporada. Assim, iniciando uma excursão para levar a belíssima encenação da peça de Aleksei Arbusov a várias cidades do interior de São Paulo, Paraná, Espírito Santos e Minas, Verinha se encontrava ontem em Sertãozinho, interior paulista - mas hoje, para deixar bem claro seu posicionamento em relação ao caso das vendas dos ingressos para o show de Gal Costa deverá estar em Curitiba.
Em sua ausência, o também experiente Fernando Bonim, pessoa de sua confiança, está coordenando a promoção local de "Gal Costa In Concert", espetáculos que, pelo próprio carisma da superstar, atrai grande número de espectadores.
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