Empresários, a busca de uma melhor imagem
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 24 de março de 1987
Tão grave quanto a ação dos cambistas de ingressos e a questão da reserva das melhores datas do auditório Bento Munhoz da Rocha Neto para espetáculos de importância cultural ou, no mínimo, comercial.
Bloqueando datas para, posteriormente, revendê-las a outros empresários, atravessadores que se acostumaram com o beneplácito oficial acabam, muitas vezes impedindo que espetáculos de alto nível aqui aconteçam. Entre outras razões alegadas para que um dos maiores violonistas do mundo, o espanhol Paco de Lucia, e o lendário pistonista de jazz, Miles Davis, não tivessem passado por Curitiba, no ano passado, foi a impossibilidade da diretoria de arte e programação, Marlene Montenegro (que, agora, continuará como assistente da nova diretora, Lucia Camargo), em encontrar datas que "acomodassem" estas apresentações.
E Curitiba ficou fora do roteiro de dois dos melhores espetáculos que vieram ao Brasil em 1986. Em compensação, grandes mediocridades ocuparam datas do Guaíra.
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Tom Gomes (Antonio Carlos Gomes), paulista da capital, 42 anos, superintendente da Inter Show, de São Paulo, foi o fundador e primeiro presidente da Associação Brasileira de Empresários e Produtores de Espetáculos Musicais, criada em agosto de 1985 e hoje com 250 sócios em todo o País. Atualmente presidida por Hermínio Santos Filho e com Tom em sua diretoria de relações internacionais, a Associação vem desenvolvendo um sério trabalho para melhorar a imagem do empresário artístico. Quatro "picaretas" já foram formalmente expulsos e há outros processos em andamento para extirpar da categoria "todos aqueles que não observarem nosso código de ética" diz Tom Gomes. Sua preocupação é transformar a Associação em Sindicato, criar a médio prazo, uma Ordem semelhante as existentes junto a advogados, médicos e outras categorias profissionais para, no futuro, a profissão de empresário artístico ser regulamentada. Assegurando-se os direitos adquiridos por que efetivamente se encontra no mercado há mais de cinco anos, com atividades honestamente desenvolvidas, mas evitando que os chamados "bicos" continuem a dar a profissão de empresário artístico a imagem de "picareta" e desonestidade que, infelizmente, tem marcado esta atividade até agora desenvolvida sem qualquer legislação.
Ex-professor e executivo educacional - foi sócio-diretor dos Colégios Clareteano e Pindorama, compositor com mais de 30 músicas gravadas e, há 6 anos associado a Franco Scornavacca (o ex-cantor "Franco") e Cláudio Lizza, dono de uma empresa que tem realizado boas produções artísticas, Tom Gomes pensa, inclusive, que a formação de "empresário e produtor artístico" poderá vir a ser uma das especialidades do curso de comunicação.
Há vários segmentos na carreira do chamado empresário artístico - desde o simples "tirador de pedidos", que procura os clubes das capitais e Interior para venda de atrações e conjuntos de bailes para determinadas festas até os "personal" e "profissional managers" que atendem diretamente os superstars. Na atual temporada, a empresa de Tom comercializa as apresentações de Toquinho - que, pessoalmente tem como empresário o respeitado e estimado Fred Rossi, 41 anos, há 12 anos trabalhando com o compositor-cantor Antonio Pecci Filho (e anteriormente com Vinícius de Moraes). Há que ter cacife para ser um grande empresário e, no ano passado, a empresa de Tom arcou com US$ 150 mil de prejuízos na temporada brasileira de Trini Lopez, "um erro de cálculo, pois ele veio muito tarde no revival nostálgico de superstars dos anos 50/60 que na euforia do Plano Cruzado I chegaram ao Brasil e no qual também fracassaram Chuby Checker e José Feliciano, trazidos por outros empresários".
Avelar Amorim, 49 anos, cearense de Juazeiro do Norte, há 20 anos no setor, hoje o mais forte empresário artístico do Paraná tem bancado excursões de superstars como Elba Ramalho e mesmo Gal Costa, é um dos poucos profissionais do Paraná filiados a Associação fundada por Tom Gomes. Avelar, com seu jeito tranquilo de nordestino bem sucedido, está amargando ainda prejuízos de mais de um milhão de cruzados, como outra vítima do Plano Cruzado II. Investiu parte de seu patrimônio num circo para 8 mil pessoas, armado no balneário de Camboriú, na última temporada e mesmo ali levando atrações de dimensão de Milton Nascimento, Moraes Moreira, Alceu Valença, Borghetinho e os grupos Roupa Nova e Camisa de Vênus, amargou prejuízos - que outro empresário, sem o seu cacife, não suportaria. Tranquilo, Avelar não se deixa abater e continua na luta, com muitos projetos para 1987. Afinal, há tempos que o seu principal concorrente no Paraná, ao menos oficialmente, desativou seu escritório: o garboso vereador Neivo Beraldim, recém empossado sub-chefe da Casa Civil, trocou os riscos da profissão de empresário artístico pelas benesses do poder e da política.
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