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Aramis

Com o poder da Ariola talvez o Brasil conheça a nossa Denise

Por incrível que pareça, só agora, com a implantação de uma poderosa multinacional fonográfica no Brasil - a Ariola, pertencente à Bertelsmann Corporation, sólido grupo empresarial alemão que só em 1979 faturou Cr$ 92 bilhões - uma compositora e cantora paranaense (de Ponta Grossa) terá sua vez de ser mais conhecida no Brasil: Denise de Kalafe, há 10 anos radicada no México, é desde princípios do ano passado, contratada da Ariola por onde já fez dois elepês, um dos quais intitulado "Cuando hay amor... no hay pecado", com suas composições, foi incluído como um dos melhores do ano daquele país. xxx Desde que começou a mostrar suas primeiras composições, em shows e programas de tv, em São Paulo, na segunda metade dos anos 60, num movimento meio hippie, na base do "flor-amor", em que se apresentava com longas batas brancas, descalça, interpretando canções antimilitaristas (em plena escalada da guerra do Vietnã), que acompanhamos Denise. Mas só fixando-se no México, a partir de 1969, foi que teve chances de fazer uma bela carreira. Gravando no RCA, contratada por muitos punhados de dólares para shows em vários países da América Latina, Denise fez no Exterior uma carreira que lhe possibilitou, aos 30 anos, uma total independência financeira. Há 2 anos veio rever parentes e amigos no Brasil e esteve em Curitiba, onde apenas por amizade fez 3 memoráveis apresentações no Mouraria Show Place (por sinal, agora novamente com direção de Osmar Sokolowski e Naumir Belegardes), acompanhada pelo violonista Célio Malgueiro e apresentando um novo cantor, o simpático "Júnior", que, posteriormente, foi visitá-la no México. Personalidade encantadora e simpática, Denise de Kalafe tem recebido generosamente todos os amigos e inclusive procurado apoiar os novos artistas, como Célio Malgueiro, que em breve deverá passar uma temporada num de seus apartamentos na Cidade do México. Quando a Ariola se instalou no México - e exemplo do que esta fazendo agora no Brasil - contratou, a peso de ouro, os artistas de maior prestígio e uma das primeiras a integrar o seu "cast" foi Denise. Isto basta para mostrar o quanto ela significa em vendas. xxx A Ariola Discos surgiu há 8 anos, quando a Bertelsmann Corporation, já atuando em clube de livros e discos, editoras, gráficas, fábricas, etc., decidiu também disputar o amplo mercado fonográfico. Se posicionou com força na Alemanha e a partir de 1973 se estendeu a 9 países. Em 1979 adquiriu a Arista Records - por onde, aliás, Flora Purim e o catarinense-paranaense Airto Moreira fizeram lps, antes de contratados pela WEA - e com isso acresceu ao seu elenco nomes como Dionne Warwick, Barry Manilow, Lou Reed e outros superstars. E como disse sexta-feira, 11, a jornalista Cleusa Maria, do JB, "ao se repetir, no Brasil, o mesmo fenômeno do México, que se cuidem as gravadoras que atuam no mercado brasileiro: em dois anos de funcionamento, a Ariola detém hoje o segundo lugar no mercado mexicano". xxx Nas últimas semanas, a imprensa nacional tem se ocupado das contratações bilionárias da Ariola. Primeiro formou um quadro executivo, arregimentado profissionais da maior experiência como Adail Lessa (22 anos da EMI/ Odeon), para o cargo de gerente de elenco. Outro experiente profissional da Odeon, Antônio Carlos Duncan, também foi atraído por salário fascinante (mas não revelado), e cuidará do elenco internacional. Marco Aurélio da Silva, o Mazzola, ex-Polygram e que foi para a WEA, quando o experiente André Midani assumiu sua presidência, há 4 anos, também não resistiu à proposta e será um dos "tycoons" nacionais da nova gravadora, que já está instalando duas excelentes sedes administrativas - uma na Gávea, RJ e outro no bairro Paraíso, em São Paulo. Mas, obviamente, são os nomes dos artistas - e os valores dos contratos - que fizeram a Ariola ser notícia: Milton Nascimento, há 11 anos na Odeon, teria recebido Cr$ 30 milhões para passar ao seu elenco. Chico Buarque de Hollanda, que após uma tentativa de assumir (junto com um grupo de amigos-artistas: Maurício Tapajós, MPB-4, Quarteto em Cy, Paulinho da Viola etc) a Mocambo, da família Rozemblit, no Recife, e fazer uma associação com a Arlequim, do conhecido Corisco, em São Paulo, seria a próxima grande aquisição, para um elenco que já conta com os nomes de Vinícius de Moraes e Toquinho (contratados desde o ano passado e que já fizeram um elepê, a ser lançado em março, no primeiro suplemento da Ariola), MPB-4, Alceu Valença, a novata Marina (curiosamente a primeira cantora contratada da WEA e na qual aquela multinacional investiu mais de Cr$ 1.500.000,00 em 1979) e Cristina Buarque, entre outros. Outros nomes que estão sendo tentados na dança de milhões e milhões para ingressarem na Ariola, tão logo vença os contratos com suas atuais fábricas: Maria Bethania, Simone, Beth Carvalho, Nei Matogrosso e Moraes Moreira. A Ariola vai oferecer uma série de vantagens para ter os nomes de maior popularidade, pois sua filosofia é de que uma gravadora que deseja conquistar o mercado não pode perder tempo formando novos artistas e executivos: contrata - custe o que custar - os melhores. Com um pequeno elenco, a Ariola vai dar atenção especial a cada lançamento: um divulgador particular, durante 90 dias, na época do lançamento, um mini-serviço de imprensa durante o ano e cobertura especial. Ou seja, ao invés de ter dezenas de artistas contratados mas com pouca atenção, a Ariola fará de cada um dos nomes de seu elenco, um nome de prestígio cada vez maior. Por isso, até julho, serão apenas 7 artistas no elenco. De julho de 1980 a julho de 1981, mais cinco serão acrescentados e, em 1983, terá 15 nomes nacionais. Para promover esse elenco, a Ariola prevê uma venda média de pelo menos 100 mil discos por lançamento (em 1980 quer vender um milhão de cópias). Em termos internacionais, tem fortes pontos de venda e promoverá, inicialmente o "reggae" jamaicano - com Bob Marley, entre outros. xxx Até agora, não foi dito nada em relação a Denise de Kalafe. Mas se está contratada na Ariola mexicana, é natural que venha a ter agora sua vez e hora no Brasil. Curiosamente, há 2 anos, a RCA brasileira não se interessou em aqui lançar seus discos e mesmo a Sigla/ Som Livre, com toda a visão do mercado fonográfico e poderio da Rede Globo, também não soube aproveitar a disposição que Denise demonstrou ao executivo Joaço Araujo de fazer um disco em seu país. quando esta paranaense de Ponta Grossa se tornar uma das superstars também aqui, muitos executivos vão perder os cabelos de arrependimento. Afinal, burrice e estupidez provocam calvície.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
9
13/01/1980

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