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Denise: de Irati aos aplausos na Europa

Há algumas, a pianista Deyse Stocklos já nos havia comunicado, por telefone, a boa notícia: sua irmã, Denise, paranaense de Irati, 30 anos, há 5 anos fora do Brasil, começava a se projetar na Europa com um trabalho bastante pessoal na áres da mínima. Agora, num envelope postal em Londres, há 19 dias passados, recebemos uma cópia em xerox do programa que Denise apresentando em várias cidades da Inglaterra, intitulado << Beryl & The Perils >> - << a women`s theatre goup >>. Iniciado em março último, o espetáculo se divide em 12 temas - todos criados e interpretados por Denise, onde aborda desde a ecologia até a maternidade, e aos quais deu os títulos de: << Life at Night >>, << Stage Sweeper >> , << Black Sheep >> , << Talking Ad >> , << No Strings Attached >>, << Indian >> << These Strip >>, << Samba >>, << For No One >> e << The Word >>. O trabalho de Denise, embora só agora com maior regularidade profissional, já vem baseado em bastante estudou: na Demond Jones School of Mime, em Londres e, mais tarde, acrobacia com Eugenia Bala. Escreveu neste período artista sobre teatro para a BBC e teve editada uma peça, integrando-se ainda no Women`s Art Alliance - << a feminist meeting-place & cultural center >>. Em outubro do ano passado, levava seu espetáculo em Bruxelas, merecendo a classificação do crítico do << le Soir >>, como << uma comediante que mostra técnica, experiência e verdadeira precisão >>. Num festival artístico em Colônia, República Federal da Alemanha, o elogio foi mais entusiástico: << the best performance in the whole festival >>, segundo a crítica Manuel Reichart. Denise criou e interpreta os números, com guarda-roupa de Rebecca Nassauer e direção de Dee Welding. xxx O sucesso internacional que denise começa agora alcançar - seguindo exemplos de outros paranaenses (ou pessoas ligadas ao nosso Estado) - como sua xará, Denise de Kalafe, há 11 anos no México, cantora e compositora contratada da Ariola (até hoje inédita em seus lps no Brasil), o percussionista Airto Morreria (há 12 anos nos EUA), e Rauzinho, trombonista - desde 1970 nos EUA - só para citar alguns exemplos - não surpreende a quem a conhece, como nós, desde que chegou em Curitiba, na metade dos anos 60, vinda de Irati, onde nasceu e até hoje residem seus pais, Inquieta, criativa, no antigo Teatro de Bolso, em 1966, numa << sessão maldita >>, apresentava sua primeira peça, << Círculo na Lua, Lama na Rua >>, onde era também intérprete e diretora. Uma carreira que não seria mais interrompida: atriz de grande força, com o que pode aprender em aulas no Curso Permanente de Teatro da FTG, somado a sua sensibilidade, se destacaria em mais de 20 peças, entre montagens de Curitiba (várias dirigidas por Oracy Gemba, no áureo período de seu grupo Momento), depois em São Paulo e Rio de Janeiro, onde enfrentou períodos de vacas magras, mas sem fazer concessões maiores, apareceu, em papéis menores ou maiores, dependendo das oportunidades em várias peças e, em algumas pontas, em alguns filmes. Mas pelo seu espírito inquieto, Denise não ficaria restrita a uma carreira secundária no Brasil: após um primeiro casamento viajou ao Exterior, cruzou a Europa e acabou passando alguns meses na África do Sul, onde nasceu o seu filho. No ano passado - como aqui registramos - esteve anonimamente em Irati, apenas revendo seus pais. Evitou, inclusive, encontrar os velhos amigos de Curitiba - e, após << dar um tempo >>, como diz sua irmã. Dayse, se decidiu em retornar a Europa. E, pelo visto, a decisão foi acertada: com o talento, a coragem e a independência que a faz uma das pessoas que mais admiramos - ela já se vão 15 anos - Denise consegue abrir a primeira brecha num espaço onde se exige talento e competência de quem tenta a vida artística. Optando por uma arte difícil, com raros intérpretes em todo o mundo - a mínima (no Brasil, Ricardo Bandeira, um dos mais instáveis artistas é uma estrela solitária). Denise luta pelo seu espaço. E os aplausos que recebe, por certo, são merecidos. E sua alegria deve ser dividida por todos que a conheceram em Curitiba - brigando, amado, divergindo, mas sempre reconhecendo a sua garra, talento e disposição de não ficar apenas no trivial. Afinal, Denise não poderia ser apenas mais uma atriz amadora ou material e bem comportada dona de casa. Seu talento tem que ser dividido com o mundo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
03/06/1980

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