Cinema jornalístico e cinema oportunista
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 03 de junho de 1980
O cinema pode (e deve) ser jornalístico em muitas ocasiões. Em << Dias de Fogo >> (Medium Cool), 69, por exemplo, o excelente fotógrafo Haskell Wexleler (Oscar em 65 por << Quem Tem Medo de Virginia Woolf? >>) documentou os incidentes políticos ocorridos em Chicago, na convenção do Partido Democrata, em 1968 - incluindo numa história em que atuavam Robert Foster e Verna Bloom. Mas Wexler, 54 anos, é um cineasta político, com posições definidas, tanto é que fez posteriormente documentários sobre o Vietnã, o Brasil e o Chile - obviamente, todos inéditos entre nós. Já um cineasta como o mexicano René Cordona Jr. É um oportunista: há alguns anos fez << Os Sobreviventes dos Andes >>, a respeito da luta que enfrentaram os atletas uruguaios que sobreviveram ao desastre aéreo e que chegaram à antropofagia. Em 1979, quando o mundo ainda não estava refeito do brutal suicídio em massa que o pastor fanático Jim Jones levou a centenas de pessoas na Guaiana, após ter matado o deputado Lee Ryan e 3 jornalistas que o acompanhavam, Cordona já pensava em faturar sobre o fato. Assim rodou a toque de caixa << O Massacre da Guiana - O Crime do Século >>, que com Stuart Whitman no papel de Jim Jones e << ressuscitando >> veteranos como Gene Barry, Joseph Cotten, John Ireland e até Yvone de Carlo. Está em exibição no Cine Lido.
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