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Aramis

Só 90 viram o filme premiado mas há outros bons programas

Como se diz, seria cômico se não fosse sério: quando finalmente obras como << Mimi, O Metalúrgico >>, 72, de Lina Wertmuller e << A Classe Operária Vai ao Paraíso >>, também de 72, de Elio Petri (1929-1978) são liberadas e relançadas - trazendo nas telas o operário como personagem central, um corajoso filme que também mostra o mundo dos operários, em Detrit - a capital da indústria automobilística americana - fica apenas dois dias em cartaz. << Vivendo na Corda Bamba >> (Blue Collar) ganhou em 78 o grande prêmio do festival do filme em Paris, foi recebido com entusiasmo pela crítica internacional: escrito e dirigido por Paul Schrader (o roteirista de << Taxi Driver >>), que desenvolveu a história em colaboração com material semi jornalístico colhido por Sidney A. Glass, << Blue Collar >> é uma visão profundamente crítica da vida dos operários de uma fábrica de automóveis, seu trabalho pesado, seus problemas pessoais e o relacionamento com um sindicato corrupto. Há 26 anos, Elia Kazan - então no vigor de seus 35 anos (mas já com 10 anos de cinema) realizava um clássico sobre o tema << sindicalismo >>: << On The Waterfront >> (Sindicato de ladrões), que conquistou vários Oscar: ator (Marlon Brando, que então não o recusária), filme e direção, entre outros. Acusado pelas patrulhas ideológicas americanas (sim, lá elas também existem), por mostrar a face corrupta um filme que resiste a periódicas revisões. Comparar << Vivendo na Corda Bamba >> a << On The Waterfront >> talvez possa parecer exagero, embora Schrader tenha conseguido realizar um filme crítico, cortante, amargo - e que mereceu a atenção de crítica e do público mais interessado em muitos países - e mesmo no eixo Rio/São Paulo encontrou boa acolhida. lançado 2.ª feira no Cinema 1, teve no primeiro dia apenas 40 espectadores e como na terça-feira o borderauz encerrou com Cr$ 2.700,00, João Aracheski não teve outra solução: tirou-o de cartaz, substituindo-o por << Além do Silêncio >> (Voices) de Robert Markowitz, um semidramalhão de alguns méritos, ainda recentemente projetados no cine Lido - e que estará em cartaz até domingo (segunda-feira retorna no Cinema 1 o << Kramer >>). Numa coincidência irônica, está sendo projetado no Cinema 1 o trailer do excelente << la Classe Operaria va in Paradiso >>, que Petri realizou há 8 anos, com Gian Maria Volonté e Florinda Bolkan e que lançado no Brasil, a exemplo de >>Mim >>, << Sopro no Coração >>, << Saco e vanzetti >> e << Queimada >>, entre outros filmes políticos, teve sua liberação cassada. Agora << A Classe Operária Vai ao Paraíso >> retorna às telas e deverá interessar a uma faixa de público mais ampla. Entretanto, << Vivendo na Corda bamba >>, embora produção americana, distribuída pela multinacional CIC (Universal) é um filme político, honesto dentro de uma realidade e com valores que justificariam sua permanência em cartaz ao menos uma semana. Um excelente elenco - Richard Pryor (um dos melhores atores negros da nova geração), Harvey Keitel, Yaphet Kotto (excelente como << Smokey >>), Ed Begley, Jr. (filho do veterano coadjuvante), Lane Smith - excelente trilha sonora de Jack Nitzsche (o mesmo de << Um Estranho no Ninho >>), a fotografia apropriada de Bobby Byrne, são créditos que fazem com que << Blue Collar >> seja o exemplo do filme a ser programado, futuramente, pelo Museu da Imagem e do Som, quando iniciar uma intensa atividade cinematográfica - possivelmente no cine (teatro) Ribalda, dentro de, um ciclo de filmes em que os operários e os sindicatos são enfocados. E onde não faltará o maravilhoso << Norma Rae >>, 79, de Martin Ritt - que valeu a Sally Field o Oscar de melhor atriz, e quem passou desapercebido no Astor. Enfim, o fracasso de público de << Vivendo na Corda Bamba >> veio provar que os que tanto << defendem >> o cinema como arte, acusam exibidores e distribuidores de todos os males existentes e se queixam da programação, estão acomodados e só sabem aparecer nos cinemas quando o filme vem << Recomendado >> pelos grandes veículos de comunicação. Real cultura e interesse cinematográfico parece inexistir. Se assim não fosse, não teriam aparecido apenas 90 espectadores para ver << Blue Collar >>. Aliás para confirmar o que acima falamos esta aí o caso de << Zabriskie Point >>: produzido em 1968/69 nos EUA, com direção de Michelangelo Antonioni, proibido por 10 anos no Brasil, consagrado pela crítica e nem mesmo com a tarja de ter sido vetado pela Censura por uma década fez com que tivesse maior número de espectadores. A renda foi tão pequena que, mesmo a contra-gosto. Egom Prim o substituiu, ontem pela pornochanchada << Por Um Corpo de Mulher >>, de Hércules Brezegollo, com Armando Bogus e duas belas mulheres despidas: Silva Salgado e Helena Ramos. Aliás, os fãs de pornofilmes têm um programa nesta semana: << A Virgem Camuflada >>, de Célio Gonçalves, com fotografia de J. Marreco (o espertalhão que há 4 anos realizou o << Emanuelle Tropical >>) com outra campeã de horas nuas frente às câmaras: Zélia Diniz. << a Virgem Camuflada >> está no cine Plaza e no Rívoli, que mantém em cartaz até domingo o lírico e belo << Irmão Sol, Irmã Lua >> (72, de Franco Zeffirelli), na segunda-feira deve estrear << Os Rapazes da Difícil Vida Fácil >>, outra apelativa produção nacional. << Emmanuelle, A Verdadera >>, de Just Jaeckin, com Sylvia Krystel, fica até domingo no tela ampla do Vitória e depois passa para o Bristol - já que a sua nudez, no caso, foi menos fotografada com mais bom gosto. No Bristol, depois do interessante << A Ponte do desejo >> (Ode To Billy Joe), de Max Baer, está em exibição um filme tão modesto quanto importante: << Um Passe de Mágica >> (magic), de Richard Attenborough. Ator roteirista e diretor inglês, Attenborough, 57 anos, depois de uma longa carreira como intérprete e produtor de filmes de sucesso nos anos 60 (como << O vento também tem segredos >>, de Bryan Forbes), se revelaria um bom diretor, a partir de seu primeiro longa-metragem (<< Oh, Que Beleza de Guerra >>, 69). Depois de uma superprodução sobre um episódio da II Guerra Mundial (<< A Bridge Too far >>, 76), << Um Passe de Mágica >> é uma realização modesta: de uma história de William Goldman, sobre a solidão ( e o terror) de um ventríloquo - interpretado por Anthony Hopkins - Attemborough construiu um << trilling >> de horror, que merece ser verificado. No elenco há uma belíssima mulher - Ann Margret - e um ótimo coadjuvante, Burgess Meredith - afora a trilha sonora ser do inspirado Jerry Goldsmith, que com a << sound track >> que fez para << Jornada nas Estrelas >> (agora lançada no Brasil pela CBS) concorreu ao Oscar. Outro filme que merece atenção nesta semana é << Um Pequeno Romance >> (Astor), de Geoge Roy Hill, no mínimo um artesão seguro e de bom gosto. Com o veterano Laurence Olivier e Sally Kellerman, ao lado de gente menos conhecida como Arthur Hill, Diane Lane e Thelonious Bernard, << A Little Romance >> - baseada na novela << E=mc2 , Mon Amour >>, de Patrick Gauvin, tem trilha sonora do excelente, compositor francês Georges Delerue, que concorreu também ao Oscar pelo seu trabalho (até agora inédito em disco no Brasil, mas que Jorge Carlos Sade já deve ter adquirido na Bruno Bloiss em edição importada). Pasquale Festa Campanile, 53 anos, 27 de cinema, não chega a ler a competência de Monicelli mas em sua imensa filmografia inclui alguns momentos de bom humor, como << Adultério à Italiana >> (66). << O Cinturão de Castidade >> (67) e << O Mundo é das Mulheres >> (68). a popularidade que a série Trinity deu a Bud Spencer faz com que << II Soldato Di Ventura >>, realizado há 4 anos, chegue agora às telas do Brasil e desde ontem atraia bom público no São João. O título que recebeu em português é << Os 14 Que Eram 5 >> e o tema é o mesmo da melhor comédia de Monicelli (<< O Incrível Exército de Brancaleone >> 65): A sátira às Cruzadas. Vale a pena ver por quem gosta de comédias descompromissadas. Já o mexicano Rene Cardona Jr. é um espertalhão na escolha dos temas: há 4 anos, logo após o desastre do avião que transportava uma equipe de atletas uruguaios ao Chile, e cujos sobreviventes chegara, à antropofagia para resistir até encontrar socorros nos Andes, fez um filme que esteve entre as maiores bilheterias de 78. E o suicídio coletivo provocando pelo misticismo religioso de uma seita americana, na Guaianas, há 2 anos - após o assassinato de congressistas e jornalistas que ali estiveram investigando acusações, motivou outro comercial filme de Cardona. << O Massacre da Guiana >>, que por sua contemporaneidade deve ficar por duas semanas no Lido. No elenco, um grupo de veteranos que há muito não se via na tela: Gene Barry, John Ireland, Joseph Cotten e até Yvonne de Carlo. Stuart Whitman é o violão da história - o reverendo James Johnson que provoca a tragédia, Bradford Dillman é Dr. Garry shaw e há até uma bela atriz - Jennifer Ashley. Nas sessões da meia-noite, dois filmes da maior importância: hoje, no Astor, << Manhattam >>, 78, de Woody Allen, do qual só basta dizer o seguinte: já está na relação dos melhores do ano. Amanha, oportunidade de rever << O Poderoso Chefão - n.º >>, 74, de Francis Ford Coppola, que conquistou vários Oscar. E para as crianças, domingo, às 10h30min, no mesmo cinema. << Bernardo e Bianca >>, um bom desenho animado. FOTO LEGENDA 1- As Cruzadas em ritmo de comédias << Os 13 Que Eram 5 >> no São João. FOTO LEGENDA 2- Um filme de terror que promete: << Um Passe de Mágica >> no Bristol. FOTO LEGENDA 3- Sensacionalismo e oportunismo: << O Massacre da Guiana >> no Lido. FOTO LEGENDA 4- << O Poderoso Chefão, 2ª parte >>: amanhã à meia-noite, no Astor.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
1
30/05/1980

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