Água só chegava a 3 mil casas em 1924
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 30 de maio de 1980
Seria interessante que os tecnocratas que ocupam hoje a Companhia de Saneamento do Paraná se preocupassem em conhecer o estudo de 231 páginas que o engenheiro Francisco Saturnino Rodrigues de Brito elaborou no início do século para o << Saneamento de Curitiba >> e que na íntegra, constou do relatório que o secretário geral d`O Estado, Alcides Munhoz, apresentou em 1924 ao então << Presidente do Estado >> Caetano Munhoz da Rocha. A leitura do relatório que o engenheiro Saturnino de Brito desenvolveu no início do século oferece preciosas informações sobre a cidade - e de como o problema de saneamento (até hoje desafiando os administradores) era colocado. De princípio, Saturnino de Britto fazia resumo histórico, dividindo << os serviços de distribuição de água potável e de esgotos >>, em 3 fases distintas. Na primeira - 1904-1907, foram contratados o projeto e a execução ficando a conservação e a exploração fase (1908-1916), rescindido o contrato com a empresa construtora (dos engenheiros Álvaro de Menezes e Machado de Oliveira), foi lavrado novo contrato com uma empresa paulista (dirigida pelos engenheiros Vasconcelos e Dias da Silva), que se encarregando dos mesmos serviços, viria ter seu contrato rescindido em 1917, quando então começou a terceira fase - objeto do pormenorizado estudo desenvolvido pelo engenheiro.
Sem entrar nos aspectos técnicos do imenso relatório, não deixa de ser curioso um trecho de uma citação feita a propósito do comentário do médico Reynaldo Machado, sobre os perigos que a falta de saneamento ofereciam à cidade em relação à epidemia de tifo, causada pelos << lançamentos de despojos no Rio Belém, a falta de limpeza nos arroios que travessam a cidade, o lixo nos terrenos baldios, nas principais ruas da cidade, a falta de asseio nos quintais, as cachoeiras sem fiscalização, ONDE AS MOSCAS SE REPRODUZEM AOS MILHÕES, PARA INVADIREM AS HABILITAÇÕES COM A SUA NOJENTA E PERIGOSA VISITA, a falta de exame rigoroso nos gêneros alimenticios, todos esses factores, podem e devem forçosamente favorecer a propaganda da epidemia >> (página 117, conservada a grafia original). A rede de distribuição d`agua na época tinha o total de 66.727 metros, com canos que variam de 12 a um centimetro de diâmetro. Ou seja, apenas 2.978 casas, numa área de 4 km recebia água, o que levava o engenheiro Saturnino a afirmar: << se considerarmos que a cidade tem cerca de 6.000 prêdios, conclui-se que estão sem suprimento regular 3.000 habitações, sujeito ao perigo de recurso às águas dos poços contamináveis pelas fossas absorventes dos despejos das respectivas habitações >>.
Se fosse feita uma comparação hoje - com o crescimento de Curitiba, ao menos em termos de saneamento - se observará que o problema não foi reduzido. Ao contrário, o << Boom >> da cidade faz com que os dados que preocupavam há 56 anos o engenheiro saturnino de Brito, pareçam até pequenos face à nova realidade. No mínimo, o seu estudo detalhado deste aspecto de Curitiba mereceria constar dos arquivos da Sanepar. Isto é se a mesma tiver interesse de um levantamento histórico sobre a evolução dos serviços de saneamento e abastecimento d`água em Curitiba.
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