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Aramis

A Sanepar explica viagem do técnico. E as outras?

Pela primeira vez um órgão público tem a dignidade de encaminhar um esclarescimento sobre a razão pela qual um de seus técnicos viajou ao Exterior com mordomias oficiais. Normalmente não há o menor comentário oficial em relação às viagens de servidores do Estado que, com mais ou menos vantagens, saem do país, para participarem de cursos, seminários congressos, etc. - muitos dos quais de discutível necessidade. Álvaro Dias, desde que assumiu o governo, tem tentado brecar o turismo oficial mas apesar de tudo continua ainda a ser obrigado a conceder autorizações - embora estas tenham sido reduzidas. No âmbito federal, conforme a coluna "Mural" (página 4, primeiro caderno) não se cansa de denunciar, o turismo oficial é um verdadeiro escândalo - e só agora, face às medidas de contenção advindas do Plano Verão o presidente José Sarney proibiu viagens de funcionários, com despesas pagas pelo governo, ao Exterior. *** Uma questão interessante seria a Secretaria da Administração, tão bem orientada pelo deputado Mário Pereira, levantar quantos servidores do Estado se encontram atualmente no Exterior e em que condições. Mais interessante ainda: levantar nos últimos 5 ou 10 anos os funcionários públicos que após fazerem cursos na França ou Estados Unidos, ganhando seus salários do Estado, não voltaram mais aos seus cargos alegando "falta de condições" para aqui aplicarem seus conhecimentos que, a custa do dinheiro público, foram buscar lá fora. Há casos curiosos: ainda recentemente o irmão de um assessor de uma Secretaria de Estado foi autorizado a permanecer um ano em Lisboa (onde reside sua família), com todas as vantagen que aqui recebia, oficialmente, para fazer "um curso de informática". Será que no Brasil já não tinha mais nada a oferecer ao brilhante assessor que, por coincidência, foi justamente para o país onde moram seus parentes? Enfim, exemplos de gente que aproveita qualquer brecha para deixar o Brasil, mas levando suas vantagens financeiras, não faltam. Há casos justificáveis de viagens, cursos e presenças em outros países, mas, em 90% das vezes o que se vê mesmo são modomias oficiais - indesculpáveis numa época em que há cortes de funcionários, enxugamento da máquina burocrática e necessidade de se evitar despesas supérfulas. *** Voltemos, porém, ao exemplo positivo que uma empresa de economia mista do governo dá para justificar a viagem de um de seus técnicos - aqui noticiada. O engenheiro Didio Rocha Loures, presidente da Sanepar, sempre cavalheiro e bem-educado, nos explicou as razões pelas quais o engenheiro Luiz Renato Pereira viajou, com todas as suas despesas pagas, para a Guatemala, em dezembro último. É que a Sanepar, consorciada com três empresas de consultoria (uma brasileira, uma americana e uma terceira israelense) está participando de licitação internacional para a modernização dos serviços de saneamento básico da cidade da Guatemala. Caso a proposta da empresa seja aprovada, receberá US$ 187 mil para organizar uma divisão de treinamento da Empagua, empresa que administra o sistema de abastecimento da capital guatemalteca. Assim, diante desta perspectiva, o governador Álvaro dias autorizou que dois técnicos da Sanepar viajassem a Guatemala. No final, só foi um - Luiz Renato Pereira. Alfredo Gusso, embora autorizado, não foi. *** Executivo cuja competência tem provado em todos os cargos que tem ocupado nos últimos anos, Didio Rocha Loures está procurando levar o know-how da Sanepar a outros países. Assim explica que a licitação da qual agora a empresa estatal paranaense participa foi aberta pela Empagua para a realização de um projeto global de desenvolvimento institucional, onde se incluem subprojetos específicos de diversas áreas, como operação e manutenção de sistemas, projetos de abastecimento, perfuração de poços subterrâneos, desenvolvimento organizacional, entre outras atividades. "A Sanepar - diz Didio - participa com um trabalho específico para a área de treinamento." Além da Sanepar, fazem parte do consórcio a Comsip Engenharia S/A, de São Paulo; a E.T. Archer Corporation Consulting Engineers, de Kansas City, EUA e a empresa israelense Tahal Consulting Engineers, de Tel Aviv, líder do consórcio. Como o acordo das empressa pressupõe o intercâmbio de tecnologias, a Tahal ofereceu à Sanepar, com todas as despesas pagas, um curso de Prospecção e Gerência de Recursos Hidrícos Subterrâneos, para o qual foi designada a geóloga Jurema Feltrin (o curso ainda não tem data marcada). Com orgulho Rocha Loures diz: - O conceito internacional da Sanepar vem se consolidando em função dos modelos e tecnologias desenvolvidos no Paraná. Delegações estrangeiras costumam, freqüentemente, visitar a empresa para conhecer essas tecnologias, por recomendação do Banco Mundial e de outras instituições. O interesse de outros países levou Rocha Loures a fazer com que a Sanepar se estruturasse melhor, voltando-se também ao mercado externo com serviços de consultoria "que proporcionam retorno financeiro de milhões de dólares". O primeiro contrato deste tipo foi assinado com o governo do Uruguai, através do qual a Sanepar elaborou todo o planejamento para a melhoria dos serviços de água e esgotos da O.S.E. - Obras Sanitárias del Estado. - Agora, aguardamos a aprovação de um segundo contrato no valor de US$ 75 mil - diz Rocha Loures. *** É ótimo que a Sanepar se preocupe em trazer dólares para seus cofres. Mas mais importante é que os serviços que deve prioritariamente fazer sejam melhorados - e que a exploração na cobrança das taxas d'água e saneamento não sejam tão escorchantes para com os pobres contribuintes.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
03/02/1989

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