Auditório Algacyr Maeder, uma homenagem há muito merecida
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 13 de janeiro de 1980
Dentro de algumas semanas, o prédio que há anos era ocupado pela Secretaria de Finanças estará liberado, possibilitando a que o projeto de reciclagem da área, desenvolvido pelo arquiteto Sérgio Todeschini Alves, possa ser executado. Localizado entre as ruas Dr. Muricy/ Cruz Machado/ Saldanha Marinho, como parte do edifício erguido no início do século como sede do Instituto Paranaense - depois Colégio Estadual do Paraná, a área que sediava a SF - agora em novas instalações, no prédio no Centro Cívico - possibilitará que a Secretaria da Cultura e do Esporte tenha mais espaço, compatível aliás com as múltiplas atividades já desenvolvidas e as novas a serem implantadas em 1980.
Ao lado da área administrativa, com a incorporação do prédio haverá possibilidade de ser utilizado um excelente espaço para um auditório de cerca de 250 lugares. Central, com boa acústica, pode vir a se tornar em uma área alternativa de promoções culturais - teatro, música, cinema, cursos etc. - teatro, música, cinema, cursos, etc - assim como é a Sala Funarte, no Rio de Janeiro - com intensa programação. E para patrono deste auditório, há chance do governador Ney Braga, através do secretário Luís Roberto Soares, prestar uma homenagem que já tarda há 4 anos: dar o nome de Algacyr Munhoz Maeder.
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Por incrível que pareça, enquanto centenas de ruas de Curitiba têm nomes de pessoas das quais não se tem a menor informação - e que o diga a incansável pesquisadora "Maria Nicholas", que fez o básico "quem foi quem" para os 3 volumes de seu "Almas de Ruas" (dicionário biográfico dos patronos das ruas e logradouros da cidade) - até hoje nem um vereador, ou mesmo os homens que ocupam a Prefeitura - lembraram-se de homenagear Algacyr Munhoz Maeder (22 de abril de 1903 - 29 de dezembro de 1975), com a designação de uma rua - ou mesmo uma praça - com o seu nome.
E o curioso é que tanto Jaime Lerner como Saul Raiz, prefeitos neste período, foram não só amigos de Algacyr, como milhares de outros paranaenses. seus discípulos. Só isto já justificaria que tivessem tido a lembrança de homenageá-lo, o que, infelizmente, até hoje não aconteceu. Poderá caber ao secretário Luís Roberto Soares, deputado estadual, formado em direito, propor esta válida forma para que o nome de Algacyr Munhoz Maeder fique presente num espaço cultural.
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É difícil encontrar algum brasileiro com mais de 35 anos que não tenha estudado matemática nos 18 livros didáticos que o professor Algacyr escreveu e que por mais de 30 anos foram adotados oficialmente na maioria dos Estados brasileiros. Só mesmo com as reformas introduzidas no ensino da matemática, é que suas "Lições de Matemática", "Curso de Matemática" e "Matemática Comercial" - lançados pela Companhia Editora Nacional, em milhões de exemplares, deixaram de constituir volumes obrigatórios no ensino de todos os jovens.
Assim, é natural que sempre que Clotilde ou Jordão Maeder, filhos do professor Algacyr, ou algum de seus 5 netos, conheçam alguma pessoa, de qualquer parte do Brasil, imediatamente venha o reconhecimento: "Mas eu aprendi matemática nos livros do professor Algacyr". Engenheiro, físico, professor, educador, pesquisador, Algacyr Munhoz Maeder deixou 20 livros publicados, duas dezenas de teses, ensaios e estudos da área de ciências exatas. Mas sua atividade não se restringiu aos números, às equações: poeta da maior sensibilidade, crônicas de estilo saboroso, escreveu muito em sua juventude, publicou textos saborosos, carinhosamente conservados em álbuns por um de seus netos, Heitor Maeder Gurgel do Amaral Valente, 31 anos, poeta e letrista, parceiro de Cesar Costa Filho em mais de 50 músicas, atualmente um dos principais responsáveis por atividades na área de música popular da Secretaria da Cultura e do Esporte. Durante toda sua vida, o professor Algacyr sempre foi um homem sensível à cultura e quando foi nomeado pelo então ministro Jarbas Passarinho, da Educação e Cultura, para reitor da Universidade Federal do Paraná, teve a felicidade de convidar o professor Alceu Schwaab, para a direção do Departamento de Cultura - hoje transformado em Pró-Reitoria, período em que importantes realizações tiveram lugar, inclusive a edição de um elepê da Orquestra Sinfônica da UFP, e um compacto com a orquestra juvenil. A sexagenária Universidade nunca foi ativa em promoções culturais - muito pelo contrário, tem se caracterizado por uma condenável omissão (embora o atual reitor Ocyron Cunha preocupe-se em reparar esta falha), mas nos quase 4 anos em que o professor Algacyr foi reitor, as iniciativas culturais ali tiveram boa acolhida.
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Não é preciso desfilar o longo e expressivo curriculum para justificar a importância de que se dê o seu nome ao futuro auditório da Secretaria da Cultura e do Esporte - e que também poderia motivar a algum dos vereadores (ou mesmo o prefeito Lerner) - para lembrá-lo como nome de uma importante rua da cidade.
Mas em sua vida - que incluiu também uma participação esportiva, desde fundador do Graciosa Country Club até integrante do selecionado paranaense de futebol nos anos 20 e medalha de ouro nas olimpíadas - há dois itens que tornam indispensável todas as homenagens possíveis: em 1925, com apenas 22 anos, já era diretor do Instituto Paranaense (hoje CEP), no mesmo prédio onde agora haverá o auditório. E, em 1947, foi prefeito de Curitiba. Portanto, sem meias palavras. Não é fazer nenhum esta homenagem ao professor Algacyr. É justiça e reconhecimento a um grande paranaense. Reparando aliás uma omissão de muitos que já deveria ter ocorrido há mais tempo, mas que pela modéstia da família - sua viúva, dona Iva, filhos, netos, jamais permitiram que se tocasse no assunto - ficou esquecida. Aliás, muitos dos homens que momentaneamente ocupam o poder no Paraná infelizmente têm memória fraca e necessitam tomar mais fosfato do que "scotch" para lembrarem-se de que há muita gente esquecida, enquanto nulidades são constantemente bajuladas e reverenciadas. Mas felizmente há pessoas também que não se curvam e sabem reconhecer os méritos a quem de direito.
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