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Marlos, Música & Cia.

A revista "Isto é, que circula segunda-feira, vai publicar uma entrevista, do maestro Marlos Nobre que deve esclarecer - ou ajudar a - vários pontos relacionados com a inesperada substituição do internacionalmente compositor, pianista e regente da direção do Instituto Nacional de Música, por ato que tomou conhecimento no dia 1º de maio, ao desembarcar no aeroporto internacional do Galeão. Marlos retornava da Venezuela, onde representava oficialmente o Brasil na I Tribuna de Música da América Latina e do Caribe - e no qual sua obra "In Memorian", composta há 3 anos, em homenagem ao seu pai, Carlos Nobre (1891-1969) foi a primeira classificada entre as 72 peças de música contemporânea apresentadas por 14 países da América Latina e do Caribe. Na categoria de música folclórica, o Brasil classificou-se em 2º e 3º lugares, respectivamente, com Fandango do Paraná e Samba do Caboclo, entre 220 seleções folclóricas de todos os países participantes. A demissão de Marlos Nobre provocou uma crise de grande repercussão, inclusive internacional, haja vista o número de telegramas e mensagens de solidariedades, haja vista o número de telegramas e mensagens de solidariedades dos nomes mais expressivos da música e mesmo autoridades de vários governos recebidos até a última terça-feira pelo maestro, uma vez que ele próprio, a 21 de março último, havia confirmado perante o Conselho Estadual de Cultura, no Rio de Janeiro, sua disposição de deixar o INM - e voltar a dedicar-se apenas à carreira de compositor, intérprete e maestro. Só atendendo a solicitação pessoal do diretor executivo da Funarte, Roberto Parreiras, Marlos decidiu permanecer no cargo - de forma que frente à sua exoneração - e substituição pelo violinista e maestro Cussy de Almeida, ex-integrante do Quarteto Guaíra e regente da Orquestra Armorial, de Recife - a surpresa foi grande. Com mais de 70 horas executadas, gravadas e editadas internacionalmente. Marlos Nobre foi quem, a convite do então ministro Ney [Braga], da Educação e Cultura, implantou e desenvolveu o Instituto Nacional de Música, realizando projetos dos mais amplos e voltados a uma real integração da música no País, sem elitismos, voltado a uma realidade nacional - e que teve, no Projeto Espiral, cujos resultados foram apresentados no último fim de semana, em Fortaleza, uma prova concreta do acerto de sua política - cuja continuidade, evidentemente, é uma incógnita, já que vários de seus colaboradores foram substituídos nesta semana. Mesmo trabalhando uma média 12 a 14 horas por dia no INM, Marlos não deixou de compor, de forma que agora, liberto de compromissos oficiais, já pode aceitar convites internacionais - comprobatórios do prestígio que desfruta hoje em todo o mundo. A partir de sábad0, 26, estará em Paris, participando da Tribuna Internacional de Compositores, onde sua obra "In Memorian" - já editada em lp no Brasil, pela Philips - será novamente executada. De 1º a 6 de junho, na Colômbia, regerá a Sinfônica de Bogotá, em setembro integrará o júri internacional de violinistas, em Paris, onde, em primeira audição mundial, no encerramento, como obra de confronto, será apresentada sua mais recente composição, uma peça para violão em homenagem a Heitor Villa-Lobos (1877-1959), de quem, para muitos críticos internacionais, é considerado um legítimo sucessor. Em outubro regerá uma série de concertos na Austrália, e, de 15 a 19 de novembro, estará apresentando seu "Concerto Breve para piano e orquestra", em Roma, com a Sinfônica da Rádio e Televisão Italiana. Na Alemanha, sairá nos próximos dias um livro de 150 páginas analisando sua obra, edição da Tonos, da cidade de Darmestdat, como homenagem aos seus 40 anos de idade - completados dia 18 de fevereiro último - e 20 de regular atividade musical. Em abril, no encerramento da I Tribuna de Música da América Latina e do Caribe, na Venezuela, Marlos recebeu o convite para coordenar o programa de música do Projeto das Nações Unidas para a América Latina e o Caribe, na qualidade de único membro latino-americano do Comitê Executivo do Conselho Internacional de Música da Unesco, cargo para o qual foi eleito em assembléia de 52 países, no Canadá, em 1975. Marlos Nobre deixa o Instituto Nacional de Música com um saldo admirável de trabalhos - aliás, como toda a Fundação Nacional de Artes, que, através de seus institutos, centro de documentação e, especialmente a bem estruturada coordenadoria de projetos especiais, foi uma das razões da administração de Ney Braga, no MEC, ter sido tão produtiva - haja vista o número de eventos, cursos, congressos, edições e projetos iniciados e concluídos. A mostra de atividades editoriais da Funarte - discos, livros, monografias, cartazes, etc. - apresentada no dia 3 último, no Teatro São João, da Lapa, e agora em exposição no Museu da Imagem e do Som - onde deverá funcionar uma loja de vendas de edições da Funarte - é uma prova insofismável desta bem sucedida política cultural. Que, agora, o governador Ney Braga quer implantar, em nível estadual - preocupado em que a cultura deixe de ser sinônimo de erudição e elitismo. xxx Falando em cultura, o ex-prefeito Saul Raiz, que trocou a continuidade em Curitiba pela fabulosa proposta do grupo Klabin, parece que não teve tempo de informar ao seu amigo, Israel Klabin, de que em Curitiba, há 5 anos, já existe uma fundação cultural, criada pelo arquiteto Jaime Lerner, em sua primeira administração para difundir atividades artísticas e de lazer. Pois o "Jornal do Brasil", edição de quinta-feira, noticiando que o prefeito Klabin, assinando a mensagem enviada dia 17 à Câmara de Vereadores propondo a Fundação Rio, "entidade que terá por fim facilitar a difusão e prática de atividades artísticas, uma espécie de Funarte a nível municipal", acrescentou que "a Fundação é a primeira a ser criada no Brasil, em termos municipais", e que, segundo declarações do diretor do Departamento Municipal de Cultura do RJ, escritor Rubem Fonseca (autor de "Feliz Ano Novo", até agora proibido pela Censura e que já venceu um dos [concursos] de contos do Paraná) em São Paulo já está pensando em fazer o mesmo. Aliás, uma das preocupações de áreas mais lúcidas no planejamento cultural, no RJ, é a diversificação de entidades culturais - como a Femurj (museus), Funterj (teatros), além da própria Funarte e Serviço Nacional de Teatro - cuja absorção pela Funarte, embora prevista em lei, vem encontrando sérias resistências - com o crescimento do movimento para que seja transformada na Fundação Nacional das Artes Cênicas. xxx Pela primeira vez o compositor Sidney Miller, 34 anos, ("A Estrada e o violeiro", 1967; "O Circo", 1967; "Pede Passagem", 1965; "Pois é, pra quê", 1968, entre outras) está na cidade, apresentando, desde ontem, ao lado de Alaíde Costa e Antonio Adolfo, o show "Faces", no Paiol. Ligado bastante ao teatro - onde escreveu e dirigiu muitos musicais, ex-coordenador do setor musical da Sala do Corpo e Som do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Miller é agora o principal coordenador da Feira Pixinguinha, idealizada por Herminio Bello de Carvalho e cuja experiência piloto está se desenvolvendo em Brasília, de onde Miller chegou somente ontem à tarde. A Feira Pixinguinha deverá se estender ao Paraná, conforme interesse demonstrado pelo governador e secretário, Luís Roberto Soares, no lançamento do Projeto Acorde - que inclui, aliás, alguns itens, cuja programação se integra ao espírito global e sólido da Feira Pixinguinha, destinado a abrir espaço para talentos de todas as partes do Brasil, Alaíde Costa, uma das mais belas vozes do Brasil, participou, em 1977, do melhor de todos os espetáculos do Projeto Pixinguinha - ao lado do violonista Turibio Santos e do flautista Copinha - enquanto Antonio Adolfo, idealizador do chamado disco alternativo, faz agora o show no Paiol, e retorna na próxima semana, para participar do I Encontro da Produção Cultural Alternativa - MPB, Antonio Adolfo já autoproduziu 3 elepês - o 3º dos quais, "Vira Lata", está lançando agora - e abriu uma nova opção para os instrumentistas-compositores mostrar sua obra de qualidade, muitas vezes recusada pelos esquemas industriais das gravadoras. xxx Para encerrar: Egberto Gismonti, hoje um dos 3 criadores musicais brasileiros de maior prestígio em termos internacionais, chega, amanhã, junto com sua Academia de Danças, para a única apresentação do "Tropical Jazz Rock", que acontecerá segunda-feira e terá lugar no Círculo Militar, tendo na segunda parte o guitarrista John McLaughlin, de quem, esta semana, a CBS, lançou "The One Truth Band/Eletric Dreams". A Odeon atrasou a edição do penúltimo lp de Gismonti, "Sol do Meio Dia", gravado no ano passado, em Oslo, onde ele fez também, em 19976, "Dança das Cabeceiras, elogiado pela crítica mundial e premiado com o "Grammy", "Stereo Review" e outras publicações das mais importantes. Os ingressos para a única apresentação do "Tropical Jazz-Rock" estão se esgotando rapidamente.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Tablóide
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19/05/1979

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