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Aramis

A mensagem (musicada) dos poemas de Pessoa

Deve-se a Irineu Garcia, já falecido, o privilégio de se poder ouvir poetas como Cecília Meireles, Manuel Bandeira, Augusto Frederico Schmidt, Vinícius de Moraes e tantos outros dizendo seus textos. A partir de 1957, quando inaugurou a sua etiqueta "Festa" (com o histórico "Canção do Amor Demais", com Elizeth Cardoso cantando as primeiras composições de Tom & Vinícius), Irineu voltou-se para a produção de discos culturais, inicialmente em 45 rpm e depois em elepês - numa preciosa documentação sonora de nossa literatura. Um projeto que conduziu às suas custas e que até hoje não foi devidamente valorizado. Só nos anos 70, retomou-se esta preocupação de registrar os poetas dizendo seus poemas - com as produções que Marilda Pedroso realizou na Sigla (João Cabral de Mello Neto, Thiago de Mello, Ferreira Gullar) e Suzana de Moraes fez na Polygram (Vinícius, Carlos Drummond de Andrade), por onde também saiu o documental álbum de Mário Quintana. Mais recentemente, a sensível Olívia Hime realizou dois belos projetos: o cinqüentenário da morte de Fernando Pessoa (1888-1925) inspirou o belíssimo "A Poesia em Pessoa", no qual alguns dos melhores compositores, a seu convite, musicaram textos do autor de "Poema em Linha Reta", num projeto também editado pela Sigla. A idéia de musicar poetas levou Olívia a um novo projeto - desta vez homenageando o pernambucano Manuel Bandeira (1886-1968), num dos 10 melhores discos de 1986, lançados pela Continental. O cinqüentenário da morte de Fernando Pessoa não ficou, sonoramente, apenas na produção de "A Música em Pessoa". Em produção executiva de Sérgio Campanelle, gravada inicialmente como disco-brinde da Gradiente - mas posteriormente lançado pelo Estúdio Eldorado - tivemos o excelente "Mensagem", com arranjos, regência e teclados de Francis Hime, que arregimentou um excelente grupo instrumental (incluindo um coral) para dar um grande amparo às interpretações musicais que nomes proeminentes da MPB fizeram em torno de textos de Pessoa: Caetano Veloso ("Padrão"), Elba Ramalho ("O Infante"), Ney Matogrosso ("Os Avisos..."), Zé Ramalho ("A Última Nau"), Elizeth Cardoso ("O Desejado"), Moraes Moreira ("O Bandarra"), Gilberto Gil ("Prece"), Gal Costa ("Nevoeiro"), Belchior ("Epitaphio de Bartolomeu Dias"), Glória de Lurdes ("Noite"), Cida Moreira ("Dona Philippa de Lencastre"), e André Luiz Oliveira - autor de todas as musicalizações do projeto e intérprete do "Mar Portuguez". Alguns outros projetos de levar a poesia ao disco seja na voz dos autores ou em interpretações de atores e atrizes (o mesmo Estúdio Eldorado lançou há pouco um álbum com Paulo Autran dizendo poemas de Drummond), tem ocorrido, mas ainda são poucos para a nossa literatura - tão necessária de registros. E quando realizados, há a sabotagem dos medíocres lojistas de discos que insistem em recusar a vender o produto cultural. Façam a experiência! Tentem encontrar o "Poeta in New York" - de Lorca, ou "Mensagem", de Pessoa em nossas lojas! A resposta dos vendedores (sic) será no mínimo desatenta: - "O que? Não temos". Alguns até se atrevem a dizer: - "Não conheço. Acho que não existe!".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
1
09/02/1988

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