Afinal um "happy end" no romance de Sérgio
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 09 de fevereiro de 1988
A primeira exibição de "Romance", o novo (segunda) longa-metragem de Sérgio Bianchi, ocorrido há pouco mais de uma semana, para um pequeno grupo de críticos paulistas, arrancou elogios. Edmar Pereira, do "Jornal da Tarde" - normalmente rigoroso e cáustico - se entusiasmou e na edição da última sexta-feira, 5, escreveu:
- "Um filme indignado, ultrajante, repleto de vida cinematográfica. O mais "glauberiano" dos filmes, dez anos depois da morte de Glauber Rocha, mas como diz seu autor, trata de um outro lado de Glauber, o que recusou o alinhamento ideológico imediatista para atirar provocações à esquerda burocrática".
Paranaense de Ponta Grossa, 42 anos completados no dia 24 de novembro, Sérgio Bianchi é, verdadeiramente, o grande cineasta do Paraná. Aqui nasceu e viveu até os 26 anos - grande parte em Curitiba, onde estudou e começou a fazer cinema. Do alto de seus quase dois metros, loiro, corajoso e, naturalmente, polêmico - sem fazer autopromoção e buscar vantagens pessoais - vem realizando uma obra assumidamente marginal, independente, "maldita" frente aos critérios tradicionais - mas reconhecida pela crítica (e públicos especiais) como do maior vigor.
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"Romance" ficou pronto há menos de um mês, após três anos de dificuldades - pois, como sempre, Bianchi é um guerrilheiro cultural que não abre mão de sua autonomia criativa. Com muitas seqüências rodadas em Curitiba, há dois anos, "Romance" teria no papel feminino central a atriz Fernanda Torres - então no auge de seu sucesso, que chegou a vir a cidade para algumas seqüências. Entretanto, desentendimentos com a produção a levaram a deixar as filmagens. Nomes importantes do teatro e cinema participam do filme - mais fraternalmente do que pelos salários, pois acreditam no talento de Bianchi: Sérgio Mamberti, Maria Alice Vergueiro (ambos já estiveram em seu primeiro longa, "Maldita Coincidência", 81, que inaugurou o cinema Groff), Elke Maravilha, Beatriz Segall, Ruth Escobar, Emílio Di Biase, Rodrigo Santiago, Isa Hopman, Hugo Della Santa, Cristina Mutarelli e Inara Reis - entre outros.
Preocupado com a política de lançamentos da Embrafilme, o próprio Bianchi está cuidando da exibição de "Romance" em São Paulo e Curitiba (Cine Groff, em março). Embora por sua própria concepção de "cinema de invenção", destinado a atingir basicamente platéias especiais, Bianchi não está querendo apenas comparecer a festivais. Irá a Gramado, se for o caso, mas quer mostrar o filme, "quase como uma resposta aos que não acreditavam que eu fosse capaz de concluí-lo".
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Quando ainda freqüentava o curso de cinema da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, Sérgio realizou dois curtas inspirados (livremente) em contos de Julio Cortazar (1914-1984): "Omnibus" (1972) e "A Segunda Besta" (1976). A produção de "Maldita Coincidência" estendeu-se por mais de dois anos, com mil lances que daria "um romance". Posteriormente realizou os documentários "Mato Eles?" (1982, sobre a questão dos índios) e "Divina Previdência" (1985, sobre o INPS), ambos terrivelmente críticos e premiados nos festivais de Gramado e Brasília. Há dois anos, em Curitiba, Sérgio fez outro cáustico filme - desta vez sobre a burocracia cultural e o blá-blá preservacionista, "Entojo", que, por razões pessoais, não permite a projeção pública.
Agora, nem lançado ainda "Romance", Bianchi mostra-se inquieto para começar um novo trabalho: com sua amiga Maria Bacelar, começa a trabalhar em novo roteiro. Bianchi é o que se pode chamar de um cineasta inquieto, com voltagem a mil - e que, enfrentando todos os problemas, vem realizando uma obra importante de ser vista e, sobretudo, discutida.
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