Cantores
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 13 de abril de 1980
Curioso o que ocorre com a carreira de Johnny Mathis. Aos 44 anos - a serem completados a 30 de setembro, 25 de carreira (foi descoberto em 1955, por George Avakian, quando atuava amadoristicamente na boate "Black Hawk", em são Francisco), neste quarto de século de tantas transformações musicais experimentou fases de ascensão e declínio, mas nunca deixou de ter um público fiel, que lhe assegura o consumo de milhares de cópias de seus habituais elepês semestrais na CBS, gravadora na qual se encontra desde julho de 1963. Sua voz adocicada, romântica, ganhou muito ao interpretar temas de filmes de sucesso, como "Wild Is The Wind", de "A Fúria da Carne", 57, de George Cukor) ou "A Certain Smile" ("Um Certo Sorriso", 58 de Jean Negulesco). No Brasil, após uma primeira temporada (junho/65) retornou inúmeras vezes, inclusive decaindo de circuito, chegando a cantar em churrascarias e clubes de periferia, num índice de que as coisas não pareciam estar indo bem para o seu lado. Mas no ano passado, sua interpretação da belíssima "The Last Time I Felt Like This" (Marvin Hamlisch/Marilyn & Alan Bergman), do filme "Tudo Bem No Ano Que Vem" (Same Time, Next Yer, 79, de Robert Mulligan), em dueto com Jane Olivor, valeu a "nomination" desta balada para o Oscar de melhor canção e, há 3 semanas, quem viu o filme (inspirado na peça de Bernard Slade) não deixou de se emocionar com a beleza da música, especialmente, da interpretação.
Infelizmente, esta canção não está em "Mathis Magic" (CBS, 138163, fevereiro/80), o mais recente lp de Mathis a aparecer no Brasil, mas não deixa de ser um disco reconciliador com a sua melhor fase. Ao invés de gravar apenas sucessos da parada - como vinha acontecendo nos seus últimos álbuns - o produtor Jack Gold e, por certo, com influências do arranjador e maestro Gene Page, conseguiu valorizar a nunca negada boa voz de Mathis, para interpretar clássicos que nunca se deixa de ouvir com emoção como "Night And Day" (Cole Porter), "That Old Black Magic" (Johnny Mercer/Harold Arlen), ao lado de outras músicas menos conhecidas, mas igualmente apropriadas ao timbre perfeito de Mathis, como "She Believes In Me" (S:Gibb), "You Save May Life" (C.Arnold/G.Morrow), "To the ends Of The Earth" (N.J.Sherman) e "Heart, Soul, Body And Mind" (B. Peters), afora "New York State Of Mind" (B.Joel)
Da geração de intérpretes surgidos nos últimos 10 anos, o inglês Cat Stevens (Londres, julho de 1948) está entre os mais talentosos, suaves e românticos. Na verdade, Steven Georgiou, descendente de gregos, em dezembro de 1966 conseguia uma primeira gravação, "Matthew and Son", ao qual se seguiria, três meses depois, "I'm gonna get me a gun". Mas só em 1969, reapareceria nas paradas com "Lady d'Arbanville", dedicada a uma jovem atriz. Seu estilo suave, de baladas com uma espécie de "country" refinado, o faria ter uma grande empatia com a faixa de público cansada do som estridente, especialmente em elepês como "Tea for the tillerman", "Teaser and the firecat" e "Catch bull ar four", todos na Phonogram, onde esteve até fazer na Atlantic, "The View from the Top", "Back To Earth", já na Island Records - e que está no pacote do primeiro suplemento internacional da Ariola, nos traz o mesmo compositor-violonista-cantor que busca valorizar as palavras, num estilo dos mais suaves e agradáveis. Particularmente, deste suplemento de estréia dos discos internacionais da Ariola, o de Cat Stevens é um dos que mais nos enternece, merecendo nossa entusiástica recomendação. O elepê, exclusivamente com músicas próprias, incluindo o "Daytime", que Estevens dedicou em seus direitos autorais a Unicef, numa contribuição ao Ano Internacional da Criança. "New York Times" é uma "fotografia" da pobre megalópolis, tão encantadora, mas também tão assustadora, "Last Love Song", "Randy" e "Father", são provas do lirismo de Stevens. A capa do elepê uma [foto] de um riacho transmite o clima de paz e descanso que Stevens nos oferece. Tanto o disco de [Johnny] Mathis, como este de Stevens são daqueles que se ouve com satisfação - que fazem bem ao corpo e alma.
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