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Aramis

Celia, Bethania & Elza

1977 encerrou com um auspicioso retorno fonográfico: a paulista Célia, cantora das mais afinadas, segura e vigorosa, cuja estréia, no início da década saudamos com o maior entusiasmo, reapareceu após uma longa ausência, com um disco que entra em algumas das relações dos melhores do ano, que apresentaremos ainda este mês, aqui em O ESTADO. Célia é o exemplo de cantora do maior vigor, personalidade fascinante, mas que tem desperdiçado chances de maior sucesso, em termos de consumo, para não interferir em sua (agitada) vida pessoal amorosa. "Mãe, Eu Juro"(Continental, 1.01.404-167) é uma prova de que o relativo afastamento dos palcos não foi por problemas vocais, muito pelo contrário. Embora utilizando basicamente um repertório de regravações, Célia emociona com músicas como "A Mesma Estória" (Cartola-Elton Medeiros), "Violão Amigo" (Bide-Marçal), "Eu Queria" (Roberto Martins-Mario Rossi), "Era Ela" (Peter Pan-Ruço do Pandeiro), "Meu Pranto Ninguém Vê" (Ataulpho Alvez - José Gonçalves), "Folhas no Ar" (Elton Medeiros - Herminio Bello de Carvalho), "Ao Ouvir Esta Canção... Hás de Pensar em Mim" (José Maria de Abreu - Francisco Mattoso), "Minhas Madrugadas" (Paulinho da Viola - Candeia), "O Que Se Leva Dessa Vida" (Pedro Caetano), "A Primeira Vez" (Bide-Marçal), "Eu Gosto de Pandeiro" (Zé da Zilda/Zilda do Zé) e "Mundo de Zinco" (Nássara-Wilson Batista) e "Minha Embaixada Chegou" (Assis Valente). Como se vê um repertório do melhor nível, ao qual se acrescenta o lacrimogênico "Mãe, Eu Juro", creditado apenas a Peteleco e M. Filho e cuja estória merece ser contada. O sambista Noite Ilustrada, que como compositor usa o nome de Marques Filho, nos revelou há algum tempo que Adonirã Barbosa, nome respeitado do samba paulista, apropriou-se da harmonia que ele fez para uma música que, com letra de Vinícius de Moraes, viria se tornar um clássico dos anos 50: "Bom Dia Tristeza". Além deste fato, Adonirã usou em outra parceria com Noite, o pseudônimo de Peteleco, que era o nome de seu cachorro justamente esta "Mãe, Eu Juro" - cuja letra dramática, lacrimogênica - é bem mais para o tango - e que, não sabemos porque carga d'água, foi escolhida por Elifas Andreatto, como tema para a ilustração da contracapa. xxx Cada novo disco de Maria Bethânia tem um público seguro, entusiasta. E por isso "Pássaro da Manhã" (Philips, 6349333) por certo não deixará de atingir aquela imensa faixa que aceita o estilo amargo, rebelde - de um romantismo brabo, da baiana. Gravado em estúdio, com trechos do espetáculo que Maria Bethânia, com auxílio de fortes arranjos e dos músicos seguros que a acompanham - o Terra Trio (Zé Maria, piano, Fernando no baixo e Ricardo na bateria), mais Perinho Albuquerque (guitarra e arranjos de cordas), e Juarez Araújo no sax tenor - recria, com novas dimensões - músicas como "Tigresa" e "Gente" de mano Caetano, "Um Jeito Estúpido de Te Amar" (Isolda/Milton Carlos), o belíssimo bolero "Começaria Tudo Outra Vez" (Gonzaga Jr.), "Cabocla Jurema" (arranjo e adaptação de Rosinha de Valença), "O Que Será" (Chico Buarque) e "Há Um Deus" (Lupicinio Rodrigues). xxx Em relação aos trabalhos anteriores, "Pilão + raça = Elza" (Tapecar, X -47, dezembro/77) é um disco bastante significativo. Pois neste disco produzido por Gerson Alves/João Carlos Soares, a sambista Elza Soares Liberta-se dos cacoetes, encontra um repertório apropriado ao seu estilo de sambista e com a presença de bons instrumentistas alcança um nível artístico razoável. Cantora que explodiu artisticamente há quase 20 anos, com a samjazzística gravação de "Se Acaso Você Chegasse" (Lupicinio Rodrigues) é também uma cantora de carreira irregular, com altos e baixos em sua fonografia. Nos últimos anos vinha atravessando uma fase de declínio - que parece estacionar agora, frente a este razoável disco, onde há sambas interessantes, como "De Pandeiro na Mão" (João Roberto Kelly), "Sombra Confidente" (Gerson Alves), composições próprias ("Língua de Pilão", "Enredo do Piraça" e "Perdão Vila Isabel", estes dois últimos em parceria com Gerson Alves). Elza encerra com um ridículo e dispensável "discurso" agradecendo aos companheiros de produção e falando uma série de asneiras.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Jornal da Música
27
19/02/1978

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