Login do usuário

Aramis

Classe solidária com o injustiçado Gerson

Na próxima semana, um grupo de artistas, especialmente ligados à música popular, pedirá uma audiência ao prefeito Jaime Lerner para lhe entregar um importante documento. Trata-se de um abaixo-assinado, já com mais de 50 assinaturas, nos quais os nossos artistas solicitam ao prefeito de Curitiba informações e esclarecimentos sobre a violência e o constrangimento sofrido pelo compositor, violonista, cantor - além de administrador formado pela Universidade Católica, Gerson Bientinez. Administrador do Teatro do Paiol, no qual vinha desenvolvendo um notável trabalho, Gersinho foi surpreendido ao ser demitido da Fundação Cultural de Curitiba, da qual era funcionários há três anos. A assistente social que ocupa a direção administrativa da Fucucu / Secretaria Municipal de Cultura - pessoas aliás que não pertence aos quadros do município - lhe apresentou esfarrapadas desculpas para a sua substituição e demissão, com alegações injustificáveis. Coincidentemente, na mesma semana, a Fundação havia contratado uma nova funcionária a qual destinou o cargo que Gersinho vinha desempenhando com eficiência. O que mais chocou a classe artística, especialmente músicos, compositores e intérpretes, foi o fato de Gersinho ser atingido pelo arbítrio e intolerância da Fucucu justamente quando vinha realizando um trabalho sério, correto e valorizando os artistas paranaenses. Ao lado de seu amplo relacionamento nacional no meio artístico - uma das razões pelas quais o Paiol pode voltar a merecer alguma credibilidade de nomes que não queriam mais nem ouvir falar em Fucucu - Gersinho sempre preocupou-se em promover espetáculos nos quais os paranaenses tivessem destaque. xxx No curriculum artístico de Gerson Bientinez, destaca-se a preocupação de sempre valorizar os artistas paranaenses, integrando-se inclusive em espetáculos com nomes nacionais. A partir de 1987, Gersinho idealizou, organizou e apresentou mais de uma dezena de espetáculos, participando de alguns, ficando nos bastidores de outros. Extrapolando nossas fronteiras, levou "Coisas do Coração", ao lado do pistonista Saul e da cantora Giselle à Salvador, em outubro do ano passado. Seu mais recente trabalho foi o show "Quando a Saudade Vier", com Fernando Oliveira (percussão), a cantora Solamy, o grande compositor e violonista Claudionor Cruz e tendo, como convidado especial, o cantor Moraes Neto, 72 anos, que foi um famoso cantor de rádio, no Rio de Janeiro, nos anos 40/50, e hoje vive anonimamente em Curitiba. Leon Barg, da etiqueta "Revivendo", produziu um elepê com 4 faixas gravadas por Moraes Neto, e Gersinho foi o único animador de nossa área cultural a ter sensibilidade para valorizá-lo num show. Infelizmente, como denunciamos na época, sofrendo já uma marginalização por parte da Fucucu, teve que apresentar "Quando a Saudade Vier" no asfixiante Teatro Universitário, na Galeria Júlio Moreira - pois o Paiol havia sido destinado a mais um grupo de artistas cariocas. xxx Artistas de expressão nacional - a começar por Sebastião Tapajós, com quem Gersinho tem parcerias e que veio várias vezes em produções por ele realizadas, e Claudionor Cruz, 80 anos completados dia 1º de abril - um dos últimos sobreviventes da época de ouro da MPB - e que também tem encontrado em Gersinho (e no radialista Cláudio Ribeiro, produtor do programa "Almoço à Brasileira", na Rádio Estadual), os poucos curitibanos que valorizam seu trabalho - estão entre os primeiros a assinarem o documento a ser entregue ao prefeito Lerner. Entretanto, numa representatividade de quanto Gerson é estimado, dezenas de instrumentistas da noite, profissionais que se dedicam a nossa vida musical, também estão entre os que indagam por que uma pessoa como Gersinho é vítima do arbítrio, justamente numa administração cujo prefeito sempre se preocupou em demonstrar ser um amigo dos artistas. Sem questionar o direito da administração municipal, fazer as escolhas que quiser para os cargos de confiança, a classe artística quer, entretanto, a mínima satisfação e respeito de um colega que, até prova em contrário (e se acusações há contra Gerson Bientinez, que sejam devidamente provadas), merece a admiração e amizade de todos. Com mais de 80 composições, premiações em vários festivais e, sobretudo, o reconhecimento pelo seu trabalho, Bientinez, 42 anos, não está sozinho neste momento e, se não fosse por sua elegância pessoal, a injustiça que sofreu já teria ganho denúncia pública feita por políticos da oposição. Gersinho não quer nada mais do que o respeito e dignidade que merece. LEGENDA FOTO - Compositor-cantor-violinista, Gersinho Bientinez foi injustamente demitido da administração do Teatro Paiol - no qual vinha realizando um trabalho em favor dos artistas paranaenses. Recebe a solidariedade da classe artística que, na próxima semana, encaminhará abaixo-assinado ao prefeito Jaime Lerner.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
11/08/1990

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br