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Aramis

Dia 23, "Ain't Misbehavin", um musical da Broadway no Guaíra

"Ain't Misbehavin", que estreou há 10 anos, se insere numa categoria especial da Broadway: os espetáculos que homenageiam os grandes nomes da música americana. Três anos depois da homenagem a Fats Waller, estrearia no Lunt-Fontanne Theatre, "Sophisticated Ladies" sobre Duke Ellington (1899-1974), e "Funny Girl", estreado no Winter Garden, em 26 de março de 1964, lançaria então a desconhecida Barbra Streisand para o sucesso, revivendo a estrela da Broadway, dos anos 20, Fanny Brice (1891-1951), num êxito tão grande que chegaria ao cinema, pelas mãos de William Wyller em 1968, dando a Barbra o Oscar de melhor atriz. O musical da Broadway e o cinema se interligam e mesmo se confundem ao longo de uma história riquíssima, plena de clássicos espetáculos, nos quais foram lançados pelo menos 60% do melhor do cancioneiro americano. A bibliografia a respeito é imensa e não é num registro de jornal que se pode esgotar o assunto - tão amplo e que, com a próxima apresentação de "Ain't Misbehavin" justifica digressões a respeito. Desde que os produtores William Wheatney e Henry Jarret apresentaram no Niblo's Garden, na noite de 12 de setembro de 1866 "The Black Crook", com libreto de Charles Barras e músicas de vários autores, mais de 300 espetáculos brilharam nos teatros da Broadway, criando-se assim um gênero único e que, curiosamente, apesar de todo o seu glamour e fascínio, só é possível assistir, em sua grandiosidade, em Nova York ou Londres - embora, muitas produções, antes ou depois das temporadas principais nestas cidades, sejam levadas a grandes metrópoles - capazes de absorvê-las, já que seus custos de produção são enormes. Mas através do cinema - que passou a ter nos musicais da Broadway um material fascinante, especialmente após o advento do som e da indústria fonográfica, o fascínio e as músicas lançadas nos musicais tornaram-se populares em todo o mundo. No Brasil, só no ano passado, o empresário Henrique Sverner, da cadeia Breno Rossi, encorajou-se a propor a RCA - uma das etiquetas nos Estados Unidos que lança os álbuns (hoje em laser, inclusive) com as trilhas integrais dos musicais - a edição de seis musicais dos mais conhecidos, incluindo os da dupla Rodgers/Hanmerstein, "O Rei e Eu" (que estreou em 29/3/51, com Yul Brynner e Gertrude Lawrence) e "Oklahoma!", (estréia em 31/3/53, no St. James Theatre). A série não teve a receptividade esperada, o que talvez explique que a própria RCA não tenha se animado a lançar o álbum duplo com 30 canções da Fats Waller, com diferentes parceiros de "Ain't Misbehavin", nos EUA, em catálogo há dez anos. Em compensação, quem quiser conhecer a música de Fats Waller, em versões instrumentais, poderá recorrer a um álbum esplêndido, gravado há mais de 30 anos por Louis Armstrong (1900-1971), que a CBS colocou nas lojas no ano passado. A magia do mundo musical da Broadway teve, recentemente duas preciosas edições no Brasil, Mel Tormé (Chicago, 13/9/1925), considerado um dos melhores cantores de jazz dos anos 60 - embora, no Brasil, ainda pouco conhecido - gravou para Verve, acompanhado da orquestra de Marthy Paich, há alguns anos, um álbum reunindo apenas os standards que saíram de musicais estreados no Shubert Alley, um dos principais teatros da Broadway e palco de montagens históricas. Assim, neste "Mel Tormé Swings Shubert Alley" (Verve/Polygram, janeiro/88), estão clássicos como "Too Close for Comfort", do musical "Mr Wonderful" (1956, de Jerry Bock, Larry Holofcenter e George Weiss), onde Sammy Davis Jr., teve sua primeira grande oportunidade: "A Sleepin'Bee", que em 1954, estava no musical "House of Flowers", resultado do encontro do compositor Harold Arlen com Truman Capote (além de romancista, também letrista). Quem não se lembra de "On the Street Where You Live", do musical "My Fair Lady", que também estreou no Shubert Alley, assim como a belíssima "Hello, Young Lovers", do musical "O Rei e Eu", ou "Old Devil Moon", de Burton Lane/E. Y. Harburg, do musical "Finian's Rainbow", que teve sua estréia em 10 de janeiro de 1947 - e, há 20 anos, seria levado ao cinema por Francis Coppola, com Fred Astaire e a inglesa Petula Clark (no Brasil, o filme se chamou "A Caminho do Arco-Íris" e ainda recentemente foi reprisado pela televisão). Outras jóias musicais como "Just In Time" (de "Bells Are Ringing", 1956), "The Surrey Withe The Frenge On Top" (de "Oklahoma!"), "Whatever Lola Wants" (de Richard Adleer/Jery Ross, de "Damn Yankees", 1955); "Too Darn Hot" (de "Kiss Me Kate", 48) e "Lonely Town" (de "On The Town", 44, musical de Leonard Bernstein, com letras de Betty Comden e Adolph Green) também estão neste álbum primoroso. Sinatra na Broadway Apesar de todas as propostas, Frank Sinatra, 73 anos, jamais aceitou fazer um musical na Broadway. Afinal, o maior nome do show business está além de ser um entre outros cantores e, talvez após a sua morte (ou ainda em vida) mereça um musical em sua homenagem. Mas foi na Broadway que Sinatra encontrou aquilo que os americanos chamam de material - ou seja, canções - para criar sucessos imortais. Chegou a gravar um álbum belíssimo, "The Broadway Kick", que agora a CBS acaba de editar no Brasil, junto com outro de seus discos ("Adventure of the Heart") na série "Retrato de Artista" (CBS/Breno Rossi), dois elepês num único envelope, Cz$ 1.600,00. "The Broadway Kick" vale já também como uma homenagem a Irving Berlim - cujo centenário de nascimento transcorre no próximo dia 11 de maio e que, ao longo de mais de 70 anos de carreira criou milhares de canções. Assim, a música é o próprio hino dos espetáculos - "There's No Business Like Show Business", que Berlim escreveu para "Annie Get Your Gun" (estreou no Imperial Theatre, 16/5/1946) abre o disco, no qual temos mais duas canções de Berlim ("The Say It's Wonderful/The Girl That I Marry"), como todas as demais extraídas de musicais. Da dupla Rodgers/Hannerstein, o então jovem Sinatra (o disco é de 1957) cantava "Sone Enchanted Evening" e "Baliha'i" (de "South Pacific", 1949), "I Whistle A Happy Tunne"; de Sammy Cahn. Jules Styne, "You're My Girl" e "Can't You Just See Yourself"; de Anderson-Kurt Weill, "Lost In The Stars" 91949); de Cole Porter, "Why Can't You Behave"; de Lerner/Fresericl Loewe, "There But For You Go!" e, finalmente, de Heyward/George Gershiwin, "Where Is My Bess?", do mais famoso de todos os musicais, (já ópera) - "Porgy and Bess", que estreou no Alvin Theatre, em 10 de outubro de 1935. LEGENDA FOTO 1 - Frank Sinatra nunca fez musical na Broadway mas gravou centenas de canções que ali foram lançadas e fez filmes baseados em espetáculos como "Higher and Higher", 1944, ao lado da jovem Michele Morgan - que com ele aparece nesta foto. LEGENDA FOTO 2 - Yul Brynner e Gertrud Lawrence em "O Rei e Eu". LEGENDA FOTO 3 - Howard Kell e Betty Hutton em "Annie Get Your Gun". LEGENDA FOTO 4 - Kurt Weill (1900-1950) e Maxwell Anderson (1888-1959).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Nenhum
29/04/1988

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