A doce Norma diz razões do aplauso
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 02 de abril de 1980
A atriz Norma Benguell, que passou vários dias em Curitiba e que foi uma das personalidades a prestigiar a concentração do movimento da mulher contra a carestia, realizada domingo, 23/3, no ginásio do Clube Atlético Paranaense, é mais uma das centenas de pessoas que aprenderam a respeitar e admirar a professora e socióloga Maria de Lourdes Montenegro, idealizadora do movimento. Em gentil bilhete endereçado à coluna, a propósito da referência que aqui fizemos sobre a humildade de norma, em comparecer naquela reunião apenas como mulher consciente da necessidade de defender os pontos-de-vista, ela diz, referindo-se aos aplausos que dedicou às presentes: "Achei ótimo alguém reconhecer que existe amor num gesto como o que eu fiz, de aplaudir as mulheres que estavam ali presentes numa reunião importante. Creio que V. tem razão em dizer que foi um gesto de humildade, mas o gesto foi mais de igualdade. Quero que nestas reuniões exista igualdade entre Norma e todas as mulheres que lutam por uma causa, que lutam para serem reconhecidas como indivíduos, que lutam e ajudam a fazer crescer um Brasil melhor, contra a opressão, miséria, o racismo tanto de cor como de sexo. O meu aplauso foi do fundo do coração. Foi um aplauso agradecendo o carinho que as pessoas presentes à reunião que a Maria de Lourdes presidia me fizeram. O meu aplauso foi o abraço e o beijo que sempre tenho vontade de dar quando reconhecem o meu valor artístico político". E, em relação à sua temida agressividade, Norma confessa que "de fato ela existe, mas não a uso na maioria dos casos. Quando eu a uso, a agressividade fica mais evidente porque sou famosa e porque sou mulher. E a mulher foi feita para ser passiva, não reclamar, aceitar tudo conformada e como eu me surpreendo diante dessa "passividade", questionando e tentando ser livre, fico agressiva diante de tanto conformismo. Sou a doce Norma e por isto questiono. Sou a doce e fiel amiga e escuto os inimigos que nunca pensei que os tivesse até o dia que vi meus direitos serem violados".
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Norma é uma mulher de idéias e posições definidas. Sincera e coerente. Há quase dois anos, com Ítala Nandi - outra mulher admirável da mesma têmpera, fez um espetáculo intitulado "Fico Nua", onde colocava ao lado de recordações da infância, um diálogo franco e sincero com o público, recebendo os mais [diversos] tipos de agressão. Brigou com um velho amigo e colega, Daniel Filho (com quem, em 62, fez "Os Cafagestes", de Ruy Guerra), na Rede Globo, e tem aparecido pouco em teatro e feito apenas filmes em cujos personagens acredita. Um deles foi "Mar de Rosas", contundente obra de Ana Carolina, cineasta de vigor que promete logo um novo filme: "Das Tripas Coração". O projeto de Norma em levar ao cinema uma visão diferente de "Maria Bonita", a companheira de Lampião, foi temporariamente, congelada. Em compensação, está entusiasmada com "A Idade da Pedra", de Glauber Rocha, seu grande amigo, atualmente em fase de montagem. E Norma tem muitos planos para voltar a Curitiba, onde deixou um grande número de amigos. Os inimigos locais, se existem, ainda não apareceram...
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