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Aramis

a ficção científica de Wells ao <<Buraco Negro>>

Unir a ficção-cientifica, o suspense, o policial, H.G. Wells, Jack, O Estripador, a Londres com seu << fog >> e ruas sombrias do final do século passado à trepidante San Francisco, com turísticas visão exteriores e sem deixar sequer de incluir uma corrida automobilística - marca registrada dos filmes ali rodados a partir de 1968, quando << Bullit >> (do inglês Peter Yates) se tornou o maior sucesso de bilheteria por esta seqüência já representa um << tour-de-force >> dor roteiristas Karl Alexandre e Steve Hayes. Uma salada-rissa como esta poderia ter resultados terríveis mas, surpreendentemente, << Um Século de méritos, que se assiste com atenção e mesmo. Confesso que na ficção-cientifica o tema << máquina do tempo >>, ao qual o inglês George Herbert Wells (Bromley, Kent-1866- Londres, 1946) decidiu um romance em 1895, sempre me fascinou: a possibilidade do homem viajar pelo tempo, voltar ao passado ou conhecer o futuro, é estimulante a imaginação e vários outros escritores de ficção-cientifica se voltaram ao assunto. Mas o romance que Wells publicou há 85 anos continua a ser um clássico, em sua simplicidade mas colocação de um assunto tão excitante a imaginação. Há 20 anos, George Pal, então com 52 anos, e que há havia produzido a excelente trasnposição à tela do mais famoso romance de Wells (<< A Guerra dos Mundos >>, publicado em 1898, filmado em 1953, com direção de Byron Haskin), em seu segundo longa-metragem como diretor fez uma excelente adaptação de << The Time Machine >>, com Yvete Mimieux e Rod Taylor. 19 anos depois, << Um Século em 43 Minutos >> (Time After Time) é uma fita inspirada no romance de H.G. Wells, mas especulando livremente sobre o seu posicionamento na Inglaterra citoriana, como um dos primeiros socialistas, co-fundador da Fabiam Society e defensor de idéias pacifistas e de reformas sociais, acreditando num mundo melhor no futuro. E justamente esta colocação otimista de Wells (excelente interpretação de Malcolm McDowell) é posta em contradição a uma idéia no minímo original: Jack, O Estripador - a mais lendária figura da criminologia inglesa (e que nunca teria sido, na verdade, identificado) é colocado como um médico, Stevenson (David Warner), que após assassinar mais uma prostituta - na seqüência inicial do filme, é recebido por Wells e seus amigos, quando este anuncia ter inventado a << máquina do tempo >>. A scotland Yard o descobre e para de fugir usa a máquina e vai parar em San Francisco, Califórnia, em novembro de 1979. wells segui-lo e o choque ao chegar o futuro e sentir que suas idéias/esperanças de um mundo melhor e mais pacífico eram ilusão, dá um toque político-filosófico. Stevenson/Jack, ao contrário, diz sentir-se identificado com a violência do século XX, que mostra em imagens de televisão, no apartamento do Hotel em que está hospedado. A partir da primeira tentativa de Wells em tentar levar o ex-amigo a Londres, << para pagar pelos seus crimes >>, desencadea-se uma trama policial e de suspense: a ficção-cientifica para a um segundo plano e o << Thrilling >> adquire um ritmo normal, mas o diretor, o desconhecido Nicholas Meyer, consegue, entretanto, manter o << timimg >> do filme: a personagem Anne (Mary Strenburgen, fascinante em muitos momentos), que passa a auxiliar Wells, completa o triplé para que a ação se desenvolva numa linguagem capaz de manter o espectador atento à tela. A trilha sonora de Miklos Rosza falecido há poucos meses, e portanto este deve ter sido um de seus últimos trabalhos - não poderia ser mais perfeita: as passagens nervosas, para as seqüências mais emocionantes, um tema melódico bonito, dão a << sound track >> o ritmo ideal, e justificam que a mesma seja adquirida - mesmo que se tenha que recorrer a um álbum importante (já que no Brasil a mesma dificilmente terá lançamento). San Francisco, ao lado de Nova Iorque e Paris, uma das cidades que mais tem sido utilizadas como cenários de filmes, desta vez foi bem aproveitada em seus exteriores. Ao invés de usar apenas as ruas e ladeiras, para perseguições automobilística, o roteiro de Alexander/Hayes - e por certo com sugestões do diretor Meyer, buscou aspectos até hoje não vistos, ou pouco fotografados, como a bela construção comemorativa a exposição pan-americana de 1929. Psicologicamente, o personagem Anderson/Jack, O Estripador - tantas vezes colocado no cinema, não chega a ser mais aprofundado, inclusive na razão psiquiátrica de sua cruzada sangrentar contra as prostitutas, embora o relógio com a imagem de sua mãe surgirá implicações freudnianas. Mas Herbert George Wells é colocado em sua posição de intelectual preocupado com o mundo, pacifista e socialista, que ao lado de obras de ficção-cientifica - que a exemplo de Jules Verne (1828-1905), anteciparam conquistas do homem em alguns campos (<< The First Man in the Moon >>, 1901). Embora as idéias de viajar pelo tempo ou da invisibilidade humana )<< The invisible man >>, 1987) ainda não tenham passado da FS, Welles também defendeu suas idéias pacifistas e reformas sociais em seus romances no mundo contemporâneo, caracterizados pelo realismo moderado e fino humor: << Love and Mr. Lewisham >> ((<< O amor e o senhor Lewisham >>, 1900), << Kipps >> (1905), << The History of Mr. Polly >> (1910) e << The World os William Clissold >> ( O Mundo de William Clissold >>, 1926). Wells foi também um historiador sério, deixando uma obra respeitabilíssima e, por outro lado, como pessoa humana, era um amante fogoso, apreciador de uma boa bebida e que em plena Inglaterra vitoriana defendia a liberação feminina e o amor livre. Há 3 anos, uma nova biografia trouxe novas luzes para melhorar entendimento de sua vida, suas idéias e suas obras. Assim, um intelectual e homem tão múltiplo, oferece, realmente, condições para um argumento tão fantástico, como curioso neste << Um Século em 43 Minutos >>, que pode ser visto com restrições por parte do público não adeptos ao gênero - mas que tem muitos elementos de interesse. Justificando plenamente que se assista ainda hoje ou amanhã, este filme em exibição no Cine João. *** a propósito de cinema: como a CIC, que representa os interesses da Universal - MGM - Paramount em todo o mundo, exceto nos Estados Unidos e Canadás, tem uma série de grandes produções para lançar nos próximos meses, chega quarta-feira ao Rio os srs. Pano Alafouzo e Jorge Canizares, presidente mundial e supervisor para a América Latina da CIC, respectivamente. Junto com Paulo Fucs, o gerente geral da empresa no Brasil, tratarão dos << marketing >> para garantir as melhores bilheterias de 13 grandes filmes: << Gigolô Americano >> (cujo astro, Richard Gere, já está no Rio), << Fama >>, << Nijinski >>, << Flash Gordon >>, << A Garotinha que Caiu do Céu >>, << Urban Cowboy >> (o novo filmecon John Travolta), << A Ilha >>, << Xanadu >> , << O Caçador Implacável >>, << Popeye >>, << The Blues Brothers >>, << A Fórmula >> e << Abismo Negro >>. A propósito deste último, trata-se de uma ficção-cientifica baseada num livro que a Francisco Alves colocou nas livrarias brasileiras na última semana (<< Buraco Negro: O Supremo Desconhecível >>, de John Taylor, 169 páginas, Cr$ 33,00). Seu autor, John Taylor, inglês, 49 anos, ex-ator de cinema e teatro, produtor de rádio, hoje cientista, professor no King`s College, em Londres e dramaturgo, estuda a descoberta do buraco negro, um dos grandes mistérios do mundo, que tem seu ponto de partida no pai da teoria da Relatividade, Albert Einstein (que agora vem sendo contestada pelo cientista paranaense Cesar Lattes). Gravidade e Cosmologia auxiliaram Taylor a tentar destrinchar o enigma de mais esta descoberta científica. O << buraco negro >> provoca horror e surpresa, chegando a ameaçar grande parte do fundamentos cultivados pelo homem em sua luta contra o desconhecido, as questões básicas de vida e morte (reencarnação, imortalidade, espaço, tempo, mente), de matéria animada e inanimada. Taylor aborda ainda em seu livro as possibilidades oferecidas para que o buraco se torne uma fonte de energia opcional na crise que o mundo atravessa atualmente. Um dado para provar o interesse que o << Buraco Negro >> despertou: publicado em 17 línguas, só no Japão vendeu 500 mil exemplares.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
24/06/1980

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