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Aramis

Casamento em crise continua a ser bom tema para novos filmes

Depois de << Uma Mulher Descansada >> (An Unnmarried Women, 77, de Paul Mazursky) e da << versão >> masculina do mesmo tema - << Encontros e desencontros >> (starting Over, 79, de Alan J. Pakula) - exibido apenas uma semana, há menos de um mês, no Condor, temos mais uma fita abordando a crise conjugal: << O Último Casal Casado >> (The Last Married Couple In America), desde ontem em exibição no cine Condor. Vários fatores tornam esta estréia da Universal das mais interessantes, embora alguns críticos o tenham recebido com pedradas. De princípio o tema não deixa de ser atualíssimo: um casal casado (e feiz) - Mari e Jeff Thomas (Natalie Wood e George Segal) é o único que ainda acredita na instituição e a infidelidade e desencontros de tantos casais amigos os levam a colocar em dúvidas a << felicidade >> que desfrutam. Tratado em ritmo de comédia, o roteiro de John Herman Shaner não deixa de, a exemplo dos filmes de Mazurski e Pakula, para só citar dois filmes vistos recentemente, oferecer dados para reflexão. O diretor, Gilbert Gates, desde o segundo longa-metragem, vem se firmando como um sensível analista de dramas intimistas: << Meu Pai, Um Estranho >> (I Never Sang for My Father, 71), com Mellyn Douglas e Geme Hackmann, foi um dos mais belos estudos sobre o relacionamento pai-filho. << Lembranças >> (Summer Wishes, Winter Dreams, 73), com Joane Woodwad e Sylvia Sydney, entrou, tranqüilamente na lista dos melhores filmes de 1974. Bastam estes dois filmes para recomendar incondicionalmente << The Last Married Couple In América >>, com excelente George Segal, Richard Benjamin e a ainda desejável Natalie Woos, que Cates dirigiu anteriormente em << Ensina-me a Esquecer >> (The Affair, 73) ao lado de Robert Wagner - com que casou na década de 50, divorciou-se e voltou a se casar recentemente. Há 11 anos, a mesma Natalie estreou outro filme discutindo o casamento - que alguns críticos, aproximam deste << O (Último Casal Casado >>: << Bob & Carol & Ted & Alice >>, 1969, de Paul Mazursky - uma das primeiras tentativas de colocar o << Swingle >> (troca de casais) em ritmo de comédia sociológica. Se alguém esqueceu daquele filme (lançado recordar-se de sua bela trilha sonora com a canção de Burt Bacharach/Hald David, << What The World Needs Now Is Love >> , no final. Em << O Último Casal Casado >> a trilha sonora é de Charles Fox e Maureen McGovern, uma cantora que WEA está promovendo no Brasil, interpreta a canção > (Foz/Norman Gimble). Enfim, um filme de visão obrigatória nesta semana. O segundo lançamento importante desta semana - merecendo inclusive que os pais, educadores e comunicólogos não só procurem assisti-lo, mas inclusive o discutam é << Perigosos Inocentes >> (Attention, Les Enfants Regardent), de Serge Leroy. De uma novela de Laird Koenig/Peter Dixon (<< The Children Are Watching), roteirizada por Christopher Frank, Alain Delon e Norber Saada produziram este filme de tema atualíssimo: quatro crianças (Sophie Renoir, Richard Constantini, Thierry Tutcher e Thipanie Leroux), de 12 a 5 anos, numa luxuosa vila da Costa Azul, na França, enquanto seus pais viajam, passam o dia defronte a televisão. a violência do video os inspira a praticar uma série de crimes. Quando se discute, mais do que nunca, os males que a violência causa aos espectadores, especialmente as crianças, esta produção francesa chega em excelente ocasião. Um filme sério, inteligente, que merece toda atenção. << Anchieta, José do Brasil >>, de Paulo Cesar Sarraceni, realizado há 3 anos, numa produção das mais complicadas, está sendo relançado em várias cidades e chegando a outras - como Curitiba - onde até agora a Embrafilmes não tinha conseguido datas para a sua exibição. Afinal, a vinda do Papa João Paulo II e beatificação do Apóstolo do Brasil, são excelentes apoios mercadológicos para que o grande público se interesse por este filme bem intencionado, realizado com esmero e reunindo um elenco expressivo: Nei Latorraca (Anchieta), Luiz Linhares (Nóbrega), Maurício do Vale, Joel Barcellos, Hugo Carvana, Paulo Cesar Pereiro, Maria Gladys, Vera Barreto Leite, Ana Maria Magalhães, Ana Maria Miranda, Roberto Bonfim, Manfredo Colassanti, Fregolente, Dedé Veloso e até Albino Pinheiro, o simpático criador da Banda de Ipanema, no papel de << Dom Duarte da Costa >>. a trilha sonora de Sérgio Guilherme Sarraceni, executada por grande orquestra, com participações especiais de nomes como Nana Caymmi (vocal em << Namoro Com o Brasil >>; Zeca Assumpção, baixo em << Epopéia dos Aimorés >> e uma grande orquestra, foi editado pela WEA/Bandeirantes Discos, numa produção que merece ser recolocada agora nas lojas. Programados para uma semana no Rivoli - onde estreou 2.ª feira - << Anchieta, José do Brasil >>, mereceria 2.ª semana. Isto é, se o público compareceu, com a Embrafilmes e a Fama Filmes esperavam. Bud Spencer, que ficou famoso pela série << Trinity >> - ao lado de Terence Hill, pode ser visto em seu papel-solo em << Chamavam-no O Demolidor >>, de Michele Lupo, no cine Lido - no mesmo esquema de tanatas outras comédias-pastelões, ou revisto no festival Trinity, que o Avenida iniciou no sábado passado: depois de << Par ou Impar >>, de Sérgio Corbucci e << Dois Missionários do Barulho >>, temos agora << A Dupla Explosiva >>, de Marcelo Fondato, onde ao lado de Hill e Spencer, está até o inglês Donald Pleasence. Dia 2, o << Festival Trinity >> prossegue com << Dois Tiras Fora de Ordem >> e << Trinity Ainda é Meu Nome >>. << Um Pequeno Romance >> (A Little Romance), 79, de Goerge Roy Hill, afinal parece que foi descoberto pelo público: rendeu tanto na semana passada que João Aracheski decidiu mantê-lo por mais uma semana no Cinema 1, retardando << Ifigênia >>, de Cacoyannis, da tragédia de Eurípides, com sua atriz favorita - Irene Papas, que há 2 anos concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro. No caso, o adiamento se justifica: realmente, << Um Pequeno Romance >>, com Laurence Oliver, Sally Kellermann, Broderick Crawford e os adolescentes Diane Lane/Thelonious Bernard, é o tipo do filme que - a exemplo de << O Vencedor >> (de Peter Yates, que ficou apenas uma semana no Rívoli), parece indicar o início de uma nova tendência no cinema americano: a volta a pureza, a ternura. Pena que a trilha sonora de Georges DeLeRue, indicada ao Oscar-80, até agora não tenha sido ainda editada no Brasil. Também << Um Estranho no Ninho >> (One Flew Over Cuckoo`s Nest), 78, de Milos Forman - vencedor dos 5 principais Oscars em 1976 (filme; ator; Jack Nicholson; diretor: Milos; atriz: Louise Fletcher; roteiro adaptado: Lawrence Hauben/Bo Goldman), no Astor, parece repetir o sucesso conseguido há 3 anos: filas imensas mostram que este estudo sobre a violência & a loucura, magnificamente fotografado pelo mestre Haskell Wexler, tem agora ainda maior interesse. Com isto, << A Rosa >> (The Rose), de Mark Rdell, com Betty Midler, uma cantora-sensação do final dos anos 70, vive uma personagem inspirada em Janis Joplin (1943-1970). Muito rock e drogas farão este filme ser curtido pela garotada, mas após o vandalismo que cafajestes (de ambos os sexos) fizeram há uma semana, na sessão da meia-noite, no Astor, quando da exição de << Woodstock >> (o documentário de Michael Wadleigh sobre o primeiro dos superfestivais pop, em agosto/69, em Nova Iorque), levaram João Aracheski a não só suspender projeção de filmes sobre rock/pop nas sessões da meia-noite, como cancelar a pré-estréia que << A Rosa >> teria na semana passada. Também << Rock é Rock Mesmo >> (The Song Rameins The Same, de Peter Clinton e Joe Massot), sobre uma apresentação do Led Zeppelin no Madson Square Garden, NY, que seria reprisado hoje, foi cancelado. Em seu lugar teremos provavelmente o excelente << Em Louvor à Mulher Madura >> (In Praise of Older Women), do húngaro George Kaczender, desperdiçado há um mês no cine avenida, e que desde então - quando aqui chamamos a atenção do público para esta fita - Aracheski vem prometendo relançar no Bristol. Independente da exibição de hoje, a meia-noite, este filme sobre as experiências sexuais de um jovem (Tom Berenger), com 5 diferentes mulheres - Karen Black, Susan Strasberg, Helen Shaver, Alexandra Stewart e Monique Lepage - deverá substituir a << Emanuelle >>, quando o primeiro dos 3 filmes estrelados por Silva Crystal, deixar de faturar o que está conseguindo há mais de dois meses. Para a sessão de amanhã, à meia-noite, salvo substituição de última hora, o sempre atual << Taxi Driver >> (Motorista de Taxi), EUA, 76, com Rogert De Niro, Peter Boyle, Jodie Foster, Harvey Keitel e Albert Brooks, que recebeu a Palma de Ouro em Cannes-76 e foi o último filme com música do grande Bernard Hermann. Uma reprise sempre justificável. Outra reprise que sempre tem público é<< ...E o Vento Levou >> (Gone With The Wind) que David O. Selznick produziu há 42 anos, baseado no romance de Margaret Michel e que, em 1939 receberia quase uma dezena de Oscars, entre as quais de melhor filme, atriz (Vivien Leight), atriz coadjuvante (a magnifica Hattie McDaniel, a preta << Mammy >>) e diretor (Victor Fleming). Mas embora Fleming (1888-1949) tenha concluído esta superprodução da MGM, dois outros diretores participaram: Sam Wood (por coincidência, nasceu e morreu no mesmo ano que Flemming) e George Cukor. Praticamente, quase todos os que estiveram ligados a esta fita que até 1968 era o campeão de bilheteria - e que hopje, em cópia em 70mm, continua a faturar - já faleceram: Clarck Gable, Leslie Howard, Thomas Mitchel etc. Restam apenas Cukor, hoje com 81 anos, e Olivia de Havilland, na época quase adolescente. Planejamento de produção de William Cameron Menzies, fotografia de Ernest Haller e inesquecível trilha sonora de Max Steiner fazem de << Gone With The Wind >> um clássico que sempre merece ser revisto. Caso não permaneça em segunda semana - como merece - na segunda-feira, o Vitória reprisa o filme com a mais bela fotografia dos últimos anos: << Cinzas no Paraíso >> (Days of Heaven), 78, de Terence Malick, que deu o Oscar ao fotógrafo Nestor Almendros e mostrou ao público brasileiro Richard Gere, o novo galã americano dos anos 80 - e que na quarta-feira, no Rio, falou sobre seus dois novos filmes, << american Gigolo >>, de Paul Schreider e << Os Ianques Estão Chegando >>, de John Schelessinger, que a CIC lança nos próximos dias. FOTO LEGENDA 1- O casamento (ainda) em questão: George Segal e Natalie Wood (ainda bela) em << O Último Casal Casado >>: cine Condor, até quarta-feira. FOTO LEGENDA 2- Gable e Vivien Leight num clássico que sempre merece ser revisto: << ... E O Vento Levou >>, novamente no Vitória. FOTO LEGENDA 3- Quando a televisão leva as crianças ao crime: << Perigosos Inocentes >>, filme indispensável, na São Paulo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
1
27/06/1980

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