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Aramis

Gere, o que não quer ser mito de consumo

Apesar da aparência física que o transformou em menos de dois anos a maior esperança do cinema americano para entrar no Olimpo dos grandes galàs dos anos 80, ele não admite fotografias. << É muito simples: eu sou ator e acho que as fotos que devem ser publicadas são as que mostrem o meu trabalho, não da minha vida pessoal >> justificava a Dulce Damasceno de Brito, jornalista, que residiu 15 anos na época de ouro em Hollywood, e hoje escreve << gossips >> sobre cinema e televisão para as revistas do grupo feminino da Editora Abril. Ao lado de Dulcia, autora de um livro cor-de-rosa sobre Hollywood e seus ídolos - e que na próxima semana, em férias volta, em férias, a Los angeles, um grupo de críticos e jornalistas especializados em cinema, conversou durante 40 minutos com Richard Gere, 30 anos, 23 peças e 5 filmes - cuja presença no Brasil, levou a CIC antecipar a estréia de << Gigolô Americano >>, por certo também fará com que a United Artists programe para as próximas semanas a estréia de << Os Ianques estão Chegando >> - os dois filmes mais recentes estrelado por Gere. Quem viu << A Procura de Mr. Goodbar >> deve lembrar-se da ponta que faz no final do filme, como o assassino de Tereza Dunn (Diane Keaton), no maravilhoso filme de Richard, Já em << Cinzas no Paraíso >> (Days of Heaven, 78), de Terence Mallick - premiado em Canes há 2 anos e Oscar de melhor fotografia (Nestor Almendros) no ano passado - Richard Gere fez o papel central. Quem ainda nào assistiu ao belíssimo filme, ambientado no início do século e rodado no Canadá, terá uma nova chance: segunda-feira, << Days of Heaven >> deve ser reprisado no Vitória. *** Após terminar as filmagens de << American Gigolô >>, Richard Gere estreou a 2 de dezembro do ano passado, no New apollo Theatre, na Broadway, a peça << Bent >>, de Martin Sherman, dirigido por Roberto Ackerman. A interpretação de Max, um homosexual que se faz passar por Judeu em um campo de concentração da Alemanha durante a II Guerra Mundial, não o faz apenas cortar seus longos cabelos, mas o exigiu um << tour-de-fprce >> exaustivo: o denso personagem, 8 representações semanais, o levara a uma exaustão e assim, em princípios de junho, foi substituído na peça por Michael York, mas a peça que vinha tendo casas lotadas saiu de cartaz na semana passada. Mesmo com modéstia, Gere admite que a maior parte do público ia ao Apollo Theatre (234, West 43 erd) para assisti-lo. Como o Brasil já havia surgido em sua vida através do relacionamento com uma bela artista plástica, a gaúcha Silvia Martins - que conheceu numa festa em Nova Iorque, há alguns meses, Gere aceitou a sugestão de vir ao nosso País e ao México. Chegou aqui há algumas semanas, foi a Búzio e depois viajou ao Rio Grande do Sul, para descansar numa fazenda da familia de sua namorada, em Bagé. Fazendo questão absoluta de manter total descrição, o casal chegou a Porto Alegre e devido a um congresso empresárial que ali se realizava, não conseguiu vaga em nenhum hotal. Até os de alta rotatividade foram tentados. Inutilmente. Silvia telefonou a uma parente e passaram a noite na casa de uma prima. *** Richard Gere não fala de assuntos pessoais. silvia ficou o tempo todo afastado de seu encontro com os jornalistas - além de Dulcia, reuniram-se numa mesa do << Bife de Ouro >>, do Copacabana Palace, Rio, crítics da expressão de Ruben Ewald Filho (do << Jornal da tarde >>, autor do básico << Dicionário de Cineastas >> e também da telenovela << Drácula >>, que agora será apresentada pela Rede Bandeirante, a partir do dia 21 de julho); Jairo Ferreira, da << Folha de São Paulo >>, Ivo Stigger, do << Correio do Povo >>, Fernando Spencer, de Recife e Paulo Arbex, de Belo Horizonte. Richard Gere falou sobre o seu trabalho como ator, reafirmou seu interesse pelo cinema alemão - conhece quase todos os filmes dos novos realizadores, e disse que não tem um plano definido para quando voltar aos Estados Unidos. A impressão dos que o conheceram é de que é um ator sincero, discreto e que não deseja ter confundido sua vida pessoal com um trabalho profissional. Por isso só aceitou comparecer a uma sessão badalativa do << Gigolô americano >>, no Consulado dos Estados Unidos, no sábado passado, e conversar com alguns poucos jornalistas. Condição primeira: que assistissem antes ao filme, << pois não tem sentido abordar um assunto que não se conhece >>. *** Luxuoso, sofisticado, audacioso. Estes adjetivos se aplicam a << Gigolô americano >>, que estreou há 8 semanas nos estados Unidos e é o terceiro longa-metragem de Paul shrader a chegar ao Brasil: excelente roteirista (<< Taxi Driver >>, de Martin Scorcese, por exemplo), seus filmes passaram quase desapercebidos: << No submundo do Sexo >> (Harccore), com George C. Scott- denuncia pornográfico em Los angeles - passou uma semana no Rívoli, sem maior bilheteria. E o excelente << Vivendo na Corda Bamba >> (The Blue Collar), bem-humorado e caustica crítica da corrupção sindical ficou apenas 2 dias no Cinema 1, conforme aqui registramos. E pela importância deste filme, o mesmo merece ser relançado. << Gigolô americano >> deve faer melhor carreira. abordando um tema audacioso - a prostituição masculina na Califórnia, com Gere interpretando Julian Kay, um << profissional >> que cobra US$ 1.000 para oferecer satisfação sexual a senhoras solitárias, o filme tem, ao menos em mais de 60%, os ambientes mais sofisticados: lojas luxuosas, hotéis e apartamentos de Westwood (o melhor bairro de Los Angeles, atualmente), e uma direção de arte (Ed Richardson) e decoração (George Gaines), que junto com a guarda-roupa o faz parecer um desfile da maior sofisticação de interiores de elegância masculina. Afinal, Julian se veste na mais cara loja da Califórnia, dirige um mercedes-Bez 79 e tem a classe para ser << programado >> as melhores clientes. Há um crime e para não envolver a esposa de um político, Michele (Lauren Hutton) - Kay acaba preso. O final do filme - que não convém revelar, é moralista. O próprio Gere admitiu que schrader << é um moralista romântico >>. Antes de tudo um filme profissionalmente bem feito e acabado, com uma fotografia inteligente de John Bailey, composição buscando uma criação visual quase de artes plásticas, colocam << American Gigolô >> na classe de filmes-luxo, lembrando, em alguns momentos, a << shampoo >> (com Warren Beatty), e focalizando, com bom gosto, até um nu lateral de Gere. O que já significa que o público feminino (e o << gay >>) vai garantir uma boa frequência a esta produção que marca também a estréia de Giorgio Moroder, o primeiro músico a utilizar o som-discotheque, como criador de trilhas sonoras. e a banda musical acompanha o ritmo do filme: nervosa, sofisticada, romântica a surpreender para quem não esperava mais de Moroder. *** Richard Gere não corre, ao menos por enquanto, o risco de ser << atacado >> pelas fãs nas ruas: emboras com muito boa pinta, elegante, passa desapercebido. Tanto é que pode frequentar a praia e almoçar tranquilamente na pergula do Copacabana-Palace sem ser assediado. a sua descrição em relação a vida particular e serenidade em colocação profissional explica porque após fazer uma ponta em << A Procura de Mr> Goodbar >>, quatro cineastas importantes o convidaram para papéis centrais: Mallick em << Cinzas no Paraíso >>, Robert Mulligan em << Bloodbrothres >> (Irmãos de Sangue, que a warner deve lançar também logo no Brasil), o inglês John Schlessinger em << Yanks >> (grande sucesso na Europa) e, por último, Schrader em << Gigolô americano >>. << Não é apenas uma questào de sorte: é também poder escolher os papéis >>, explicou Gere, acrescentando que somente fará personagens com os quais se identifique. Tanto é que foi convidado para atuar em << O Expresso da Meia-Noite >> e não aceitou. Apesar dos prêmios e sucesso mundial naquele filme, acha que não oferecia o que deseja. Discreto também em termos de posicionamento político, insistindo em que não aceita a imagem que alguns setores do << marketing >> cinematográfico lhe pretendem impor - o de um novo símbolo sensual/sexual, Gere diz simplesmente: << Sou um ator que procuro fazer bem o meu papel >>. E , por certo, assim será: Paul Newman, Robert Reford, Al Pacino, Robert de Niro, Dustin Hoffman - entre tantos atores-chamariz estão envelhecendo. E o cinema, em sua engrenagem cruel, exige sempre novas caras. E quando possuem talentos, então não deixa passar desapercebido. É o caso de mr. Gere, um ator que não gosta de ser fotografado. Como Greta Garbo. FOTO LEGENDA - Richard Gere: férias no Brasil.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
27/06/1980

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