Fó chama Denise para ir a Milão
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 18 de fevereiro de 1986
A pianista Dayse Stocklos recebeu uma inesperada responsabilidade na semana passada: cuidar por três semanas de seus sobrinhos, Piatã, 5 anos, e Thaís, 7, enquanto a famosa mãe - a mímica Denise Stocklos - permanecer na Europa.
É que Denise encontrava-se no Rio de Janeiro, em temporada de sucesso com "Um Orgasmo Adulto Escapa do Zoo" - (repetindo aliás o êxito que já vem fazendo há quase dois anos em São Paulo com este mesmo texto), quando recebeu um telefonema que quase a fez desmaiar de emoção: de Milão, o autor da peça, Dario Fó, a convidava para ir à Itália para uma troca de idéias sobre uma possível montagem de um novo texto. Denise, mulher decidida e que não joga fora as boas oportunidades, não pensou duas vezes: interrompeu a temporada, despachou os filhos para Curitiba (afinal a mana Dayse adora os sobrinhos) e está em Milão, contente da vida em finalmente conhecer o anarquista dramaturgo do qual vem sendo uma das maiores divulgadoras no Brasil com "Um Orgasmo Adulto Escapa do Zoo" - coletânea de sketches que também teve outra versão, a cargo de Marília Pera. Antes de voltar, Denise deve passar por Paris e Londres, onde morou por alguns anos. Em abril, nova viagem ao Exterior: desta vez representará o Brasil no Festival Internacional de Teatro do Uruguai.
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Enquanto a iratiense Denise Stocklos internacionaliza-se, o grupo Delta, de Londrina, felizmente mostra que no Paraná - ao menos no Norte - existe vida inteligente em cena. Depois das montagens de Nitis Jacom (sem dúvida, rsponsável pelo que de melhor se tem feito em teatro em nosso Estado - foi José Antonio Teodoro que fez uma inteligente encenação de "Toda Nudez Será Castigada", já levada no Festival Amador de São José do Rio Preto e único espetáculo a representar o Brasil no Festival Latino de Nova Iorque, em agosto. A versão do grupo Delta de "Toda Nudez Será Castigada" entrou dia 14, no Teatro Dulcina, com boa acolhida da crítica. Já premiada em vários festivais de teatro no Brasil, esta versão dirigida por José Antônio Teodoro traz certas mudanças. A começar pela época da ação da peça: passou do início dos anos 60 para 1949, com o pós-guerra servindo de moldura mais adequada - segundo o diretor - para o esfacelamento de uma família brasileira classe média.
Mas a montagem trouxe outras novidades, segundo diz o diretor:
- " A tragédia foi literalmente musicada e inventou-se um casal de dançarinos de tango que liga as cenas. Assim é uma tragédia permeada por tangos, rumbas, salsas e boleros nacionais."
Em 1973 houve uma adaptação ao cinema desta peça de Nelson Rodrigues, com direção de Arnaldo Jabor e que deu à atriz Darlene Glória - hoje a irmã Helena Brandão, da Igreja Pentecostal - a oportunidade de ter a melhor interpretação de sua carreira, interpretando a prostituta Geni, que provoca o esfacelamento na família do puritano Herculano - personagem vivido na tela por Paulo Porto, ator hoje gravemente enfermo.
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