Rosa, Estrelas e o terrir nas estréias
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 12 de junho de 1987
Algumas estréias importantes quebram, afinal, a mesmice cinematográfica das últimas semanas - além de um oportuno festival de filmes brasileiros inspirados em peças do teatro nacional. De longe, a melhor estréia é "O Nome da Rosa" (Palace Itália/Itália), de Jean Jacques Annaud - que pode desagradar aos que leram o livro (190 mil exemplares vendidos no Brasil, editora Nova Fronteira) e pretendiam uma enfadonha transcrição. Entretanto, como cinema, este filme inspirado no best-seller do semiólogo italiano Umberto Eco é obra vigorosa e merecedora da maior atenção.
Para os que curtem "Star Treks" desde os tempos da televisão - nos anos 60 -, a sofisticada saga espacial, hoje em 35mm, chega ao seu quarto momento com "Jornada nas Estrelas - A Volta para a Terra", a exemplo do terceiro episódio, dirigida pelo ator Leonard Nimoy (o orelhudo alienígena Mr. Spock). Em exibição no Condor, desde ontem.
Com uma campanha promocional muito bem orquestrada, "Sexo Frágil", de Jessel Buss estreou nacionalmente ontem, em várias capitais (Curitiba, Lido II). Apesar de parecer, não é pornofita: é uma comédia pretensamente erótica, com nomes até conhecidos no elenco - Edson Celulari (o astro de "A Ópera do Malandro"), Maitê Proença e Monique Evans.
Já "As Sete Vampiras", de Ivan Cardoso - terrir (terror & riso), que obteve algumas distinções em Gramado, há dois anos, finalmente chega às telas (São Paulo), homenageando os filmes classe "b" do cinema dos anos 40 e ressuscitando gente dos tempos das chanchadas da Atlântida (Wilson Grey, Zezé Gonzaga, Ivon Curi), que o diretor Cardoso (realizador de "A Múmia", também premiado em Gramado há alguns anos) tanto curte.
Coincidentemente, outra estréia também é na linha terrir: "Lua de Mel Assombrada" (Cine Plaza, desde ontem). Gene Wilder, um dos autores da turma do irreverente Mel Brooks que passou também a diretor (realizando, aliás, o grande sucesso "A Dama de Vermelho", há três anos), é o diretor desta comédia em que interpreta um ator de novelas de rádio, Larry Abbot, que sofrendo de ansiedade e às vésperas do casamento com Vickie Pearle (Gilda Rainer), decide submeter-se a um drástico tratamento, num prazo de 36 horas, à base do que possa sentir. Trocando em miúdos, o único meio de curá-lo é "matando-o de susto". E o local escolhido para o tratamento é uma sinistra mansão de propriedade da matriarca da família, tia Kate (Dom De Lusie, outro ator egresso do grupo de Brooks). Larry leva sua noiva e, naturalmente, às mais divertidas situações acontecem.
O tupiniquim "As Sete Vampiras" - em cujo elenco também se destaca o curitibano Ariel Coelho (hoje um ator com espaço nacional, atualmente em cartaz no elenco de "Dalva", Teatro João Caetano, Rio de Janeiro) -, e o americano "Lua de Mel Assombrada" são duas comédias de fácil agrado, que alcançarão o público específico.
CANDEIA, O VIGOR
Em contraposição a comédia de Ivan Cardoso, um sério e sólido filme nacional: "As Belas de Billings", de Ozualdo Candeias - um dos mais importantes cineastas brasileiros. Marginal, underground, maldito, "inventivo" - como o classifica seu amigo Jairo Ferreira -, Candeias tem uma obra extremamente pessoal. Há alguns meses, quando esteve em Curitiba orientando um curso prático de cinema (e do qual resultará um curta-metragem, ainda em fase de finalização), Candeias fez a pré-estréia nacional deste novo filme. Uma história com toques sociais, sobre marginalizados na sociedade urbana. Atores conhecidos como José Mojica Marins (o Zé do Caixão), ao lado da normalmente sofisticada e sensual Claudete Joubert (ex-porno-atriz, valorizada em filmes de Walter Hugo Khouri) e até o compositor-violonista - cantor Almir Sater fazendo sua estréia, como razoável ator. Um filme interessante, com gosto de Brasil e que merece ser visto (Cine Groff, 5 sessões).
Também no Luz, uma boa amostragem de cinema brasileiro. Francisco Alves dos Santos conseguiu encontrar cópias de sete filmes marcantes, inspirados em textos teatrais. Os dois primeiros são de Anselmo Duarte: o ultrapremiado "O Pagador de Promessas" (Exibido ontem), e "Vereda da Salvação", da peça de Jorge de Andrade - programado para hoje. Amanhã, o emocionante "Em Família", que Paulo Porto realizou com base num dramalhão de Oduvaldo Viana, pai (1892-1972) e que está entre os bons momentos do cinema brasileiro. Domingo, "Toda Nudez Será Castigada", de Arnaldo Jabor, da peça de Nelson Rodrigues e que trouxe Darlene Glória (hoje a irmã evangélica Helena, que há pouco esteve em Curitiba fazendo pregações apocalípticas) na melhor interpretação de sua carreira. Segunda-feira, 15, o ótimo "A Flor da Pele", de Francisco Ramalho Jr., da peça de Consuelo de Castro, premiado em Gramado há 11 anos em várias categorias. Dia 16, "A Rainha do Rádio", de R. Goulart, que passou despercebido no mesmo Groff, há mais de dois anos. Finalmente, na quarta-feira, "Eles Não Usam Black Tie", de Leon Hirzmann, da peça de Gianfrancesco Guarnieri - possivelmente um dos 5 ou 6 melhores filmes da história do cinema brasileiro.
Estes filmes estão sendo exibidos apenas às 15 e 20 horas, seguidos a noite de debates. Espera-se que a classe teatral compareça.
OUTRAS OPÇÕES
A divertida "Por Favor Matem Minha Mulher" continua divertindo no Lido I. "Máquina Mortífera" (Lethal Weapon), de Richard Donner - um thriller excitante e movimentado continua no Astor, enquanto "Platoon", de Oliver Stone se mantém no Ritz. No auditório Paul Garfunkel (Biblioteca Pública, 3º andar), que em breve deve ganhar uma cabina de 35 mm (que há anos estava enferrujando no Palácio Iguaçu), o Goethe Institut promove - como evento paralelo da mastodôntica "Ler Faz a Cabeça" - uma excelente mostra de filmes inspirados em obras literárias. Sessões às 14 e 18 horas, com programas diferentes. Nesta sexta-feira, serão exibidos, "Effi Briest", de Werner Fasbinder - do texto de Theodoro Fontane (144', legendas em português), às 14 horas e "Anjos de Ferro", de Thomas Brasch (108', legendas em português). A promoção reinicia terça-feira com "Tadelloser & Wolf", de Eberhard Fechner, do romance de Walter Kempowski (14 horas) e "João de Ferro", de Takred Dorst, de sua própria peça.
Já no Groff, amanhã à meia noite e domingo, às 10h30min, o segundo filme da retrospectiva de Andrz Wajda: "A Terra Prometida". No domingo, 10h30min, para a criançada, no Luz, "Mil Façanhas do Lobo Bom".
LEGENDA FOTO - Um "terrir" - terror com riso - ao estilo americano: "Lua de Mel Assombrada", de Gene Wilder, com a bela Gilda Radner.
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