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Aramis

Bituca e as veredas do encontro mundial

O mix com "Homo Sapiens" e "Feito Nós", é apenas um projeto especial para Milton e o RPM. Agora, cada um estará trabalhando em discos solos. O de Milton começa a ser gravado em julho e terá uma produção internacional para o seu lançamento mundial - em busca de um mercado que há quase 20 anos procura - tanto é que, em 1968 já gravara nos EUA, o álbum "Courage" (A&M). - "No início meu mundo era Três Pontas. Depois, Belo Horizonte, São Paulo, o Rio, e chegou a todo o Brasil. Agora o mundo começa a acontecer. A gente vai se conhecendo, descobrindo pessoas. Cada descoberta é uma coisa linda." Milton fala sobre encontros e amigos. Sem timidez, mas ainda modesto, responde as perguntas que jornalistas lhe fazem sobre sua internacionalização. Alega que não há muita novidade: - "Hoje, já li, no jornal, aquilo que poderia contar..." Contar, por exemplo, que em seu próprio disco, terá a participação de estrelas de primeira grandeza da música internacional. Sting, que conheceu em Londres, está fazendo uma parceria e dividirá a interpretação de uma das faixas. Quincy Jones fará o arrranjo para "Morro Velho", - que ele conheceu em 1967, quando esta parceria com Fernado Brandt ganhou o sétimo lugar no II FIC, na qual "Travessia" foi a primeira classificada e "Maria, minha fé", classificou-se entre as 15 finalistas. Enfim, o ano em que Milton deslanchou nacionalmente. Paul Simon será parceiro em outras duas músicas - uma inédita, outra a ser gravada também pelo grupo Manhatan Transfers. Com Cat Stevens, uma música que terá arranjos e a presença ao piano de Herbie Hancock. Enfim, um time de primeira - para dar a este projeto condições de repercussão mundial. Milton não falou, mas se comenta que até Miles Davis tem sido sondado sobre uma possível participação. "Encontros & Despedidas", seu último álbum pela Barclay/Polygram, lançado em laser, "mesmo sem ter uma maior pretensão", acabou chegando ao 5º lugar entre os discos mais vendidos da "Billboard" e considerado um dos melhores do ano. Portanto, não é sem razão que a CBS, encontrando Milton no passado, esteja agora preparando-o para o definitivo salto no mercado exterior, como aliás, outros artistas de seu caste selecionado. xxx Milton fala efetivamente de projetos que o emocionam. Lamenta a falta de condições para desenvolver uma escola de musicalização infantil em Belo Horizonte - cidade na qual voltou a residir e onde a sua empresa, Quilombo, produz inclusive programas de rádio, coordenados por seu amigo Marcio Ferreira, amigo de muitos anos. O projeto de voltar a trabalhar em missas com seus amigos, bispos Dom Pedro e Casaldáliga e Pedro Tierra também é grande: - "O projeto eram três missas. A Missa das Terras Sem Males, dos Quilombos e uma terceira sobre o Terceiro Mundo. D. Pedro ainda não decidiu a respeito deste terceiro projeto, mas espero participar." O jornalista José Luciano Sá, de Fortaleza, traz uma informação: a Câmara daquela Capital fez uma campanha contra a prefeita Fontanelle, usando a música "Maria, Maria" - que na campanha da candidata do PT, tinha sido usada com autorização do próprio Milton. Milton, sério, diz: - "É a falta de respeito total. Usaram a música e até a minha voz. Quando nunca concordaria com isto. O processo já está em andamento e vamos exigir todas as indenizações possíveis. Além de tudo, uma declaração, também na televisão, de que a música foi usada indevidamente!" Outro jornalista, o mineiro Kiko Ferreira, do "Diário de Minas", traz nova denúncia: a Rádio Inconfidência, pertencente ao governo do Estado, sofreu uma intervenção branca e o diretor artístico, Fernando Brandt, foi afastado. De uma emissora especial, que prestigiava a melhor MPB, com o nome de "Brasileiríssima", se transformou agora em "Popularíssima", na busca de pontos no Ibope. Vários artistas - inclusive Gilberto Gil - protestaram publicamente. Milton Nascimento até agora nada falou. Sua resposta não poderia ser mais mineira. - "Acredito que é uma questão de negociação. Não quis fazer protestos contra isto, porque o assunto morreria no dia seguinte. Acho que é uma questão de conversar, mostrar que as linhas musicais podem ser bem conjugadas e encontrar um resultado feliz."
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
12/06/1987

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