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Milton pesquisa os anos de repressão

Se depender do entusiasmo do secretário René Dotti, da Cultura, a data de 21 de abril terá um lançamento editorial do maior significado político: a distribuição dos primeiros exemplares de "Resistência Democrática / A Repressão no Paraná", projeto coordenado pelo jornalista Milton Ivan Heller e que está sendo desenvolvido há apenas três meses. Uma grande pesquisa sobre a repressão política no Paraná entre 1964/1984, com análise dos processos que foram vítimas centenas de pessoas acusadas genericamente de atividades subversivas e que nestas duas décadas sofreram perseguições, prisões e mesmo torturas - algumas sendo obrigadas a se exilar no Exterior. xxx Há muitos anos que Milton Ivan Heller, 56 anos, curitibano do Cajuru, 29 anos de imprensa, pensava em realizar aquilo que, modestamente, classifica de "uma grande reportagem sobre a repressão no Paraná". Ele próprio vítima da ditadura - foi um dos 22 jornalistas que respondeu ao demorado processo militar, instaurado em 1965 contra profissionais da imprensa acusados de atividades subversivas - Milton Ivan preocupava-se com a falta de uma informação, organizada, sobre este longo período de arbítrio e violência. A feliz coincidência da Secretaria da Cultura estar hoje estar hoje ocupada por um advogado e professor que, nos anos 60/70, esteve entre os mais corajosos defensores de presos políticos - René Ariel Dotti - contribuiu para que Milton Ivan pudesse levar adiante o seu projeto. Assim é que com uma pequena ajuda oficial, Milton iniciou um trabalho amplo e cansativo, mergulhando em milhares de páginas de processos na Justiça Militar, pesquisando em coleções de jornais e, sobretudo, entrevistando o máximo possível das pessoas vítimas de processos e prisões a partir de 1964. Ao contrário do que fez a equipe responsável pelo projeto "Brasil: Nunca Mais", coordenada pelo advogado Luís Eduardo Grenhalg, que estabeleceu em 15 de março de 1979 como a data limite para as investigações que resultaram num documento de mais de 5 mil páginas (reduzido para as 312 páginas do livro lançado pela Vozes em 1985, já com várias edições), Milton Ivan decidiu levar sua pesquisa até 1984, pois admite que o último caso de arbitrariedade política-militar foi a condenação do jornalista Juvêncio Mazzarolo. Assim, inicialmente num trabalho solitário, mas agora com o precioso auxílio da professora Lígia Vieira César, filha do advogado e professor José Rodrigues Vieira Neto (comunista, já falecido, uma das pessoas mais perseguidas pelos militares no Paraná), Milton Ivan vem trabalhando mais de 12 horas por dia neste projeto - inicialmente previsto para se estender por muitos meses, mas que, devido ao entusiasmo do secretário René Dotti, deverá ter, ao menos, uma síntese, publicada até 21 de abril próximo. xxx Bom repórter - a partir de 1959, quando entrou no extinto "Correio do Paraná", passou por todos os veículos de divulgação de Curitiba, exceto a "Gazeta do Povo" - Milton Ivan tem ouvido as pessoas que, a partir de 1964, foram presas - ou que simplesmente responderam a processos políticos. Um jovem repórter, Justino Vilela, o tem auxiliado nas entrevistas com pessoas que residem no Interior do Paraná, enquanto que ele próprio vem se deslocando ao Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e outros Estados nos quais vivem atualmente os personagens que, há 20 anos passados, residindo em nosso Estado, aqui foram presos e processados. O trabalho tem uma visão histórica, agrupando os diferentes "ciclos" de violência, em contrapartida a resistência democrática, que teve, no entendimento de Milton Ivan, nos estudantes, o último bastão da resistência. Neste sentido, confessa sua admiração pela participação de líderes políticos dos anos 60, especialmente após 1964/65, como Carlos Frederico Marés de Souza, que era presidente do DCE-UFP quando teve que se exilar na Europa (terminando depois na África), Vitorio Sorotiuk e Geraldo Magela, hoje presidente da Fundação Cultural, advogado do Instituto de Terras e Colonização e fotógrafo da Assessoria de Imprensa da Secretaria da Saúde, respectivamente. Apenas três, entre dezenas de outros exemplos de jovens que enfrentaram os dias mais terríveis na repressão militar. xxx Por coincidência, muitos dos advogados que tiveram a coragem de defender os presos políticos - quase sempre sem nada cobrar ou tendo honorários reduzidíssimos (considerando que a maioria dos acusados eram pessoas pobres, sem maiores recursos) ocupam hoje funções de destaque. René Dotti, na Secretaria da Cultura, o advogado Acir Breda na Chefia da Casa Civil, após ter sido Secretário da Justiça; Otto Luís Sponhols, o mais jovem desembargador do Tribunal da Justiça - entre outros profissionais do Direito que, enfrentando hidrófobos promotores militares conseguiram vitórias na Justiça, livrando centenas de acusados em Inquéritos Policiais Militares. xxx Entre fatos dramáticos - inclusive morte de algumas pessoas - Milton Ivan está também descobrindo o lado anedótico da revolução de 1º de abril. Como, por exemplo, o processo contra o ex-deputado Miguel Dinizo, acusado de ter apresentado numa rádio que possui em Cambará (município do qual é atual prefeito), o líder comunista Gregório Bezerra. Só que Dinizo provou que no dia e hora em que teria aberto espaço na sua emissora para o famoso líder comunista, quem na verdade ali estava catituando um de seus discos, era o hispano-brasileiro Gregório Barros, famoso cantor de tangos & boleros. LEGENDA FOTO 1 - Milton Ivan. LEGENDA FOTO 2 - Oto Sponholz. LEGENDA FOTO 3 - Acir Breda. LEGENDA FOTO 4 - René Dotti.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
24/01/1988
Prezados Senhores: Sou aluna do sexto período do curso de Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo das Faculdades Unibrasil. Em redação, estamos desenvolvendo uma revista que aborda vários assuntos, entre eles, a Imprensa e o Poder Público do Estado do Paraná. Solicito aos senhores a gentileza de me passar o contato do Sr. Milton Ivan para que eu possa entrevista-lo. Afirmo que são perguntas breves e ja me contentaria em faze-las por e-mail. Aguardo a resposta. Atenciosamente, Flavia Bueno

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