Milton ao vivo, como sempre, indispensável
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 15 de março de 1987
Como Milton Nascimento não resistiu aos milhões de cruzados oferecidos pela CBS e agora está no selecionado elenco da superstar que lhe prepara um lançamento internacional, a Polygram acabou não dando muita atenção ao último disco que o Bituca ali fez - encerrando um contrato de alguns anos.
Gravado ao vivo em abril de 1986, quando Milton participou do projeto São Paulo, "A barca dos Amores" é, entretanto, um álbum marcante dentro da discografia de Milton. Claro que muitas canções já são conhecidas mas como um cantor que tem uma criatividade excelente, Milton nunca se repete. Ainda mais quando tem a participação de músicos excelentes como Robertinho Silva (bateria/percussão), Ricardo Silveria (guitarra), Nico Assumpção (baixo) e Luiz Avellar (teclados), além da presença especial do saxofonista Wayne Shorter - com quem já havia gravado um marcante álbum nos Estados Unidos.
O lançamento deste novo disco de Milton coincidiu com sua excursão nacional, apresentando-se em ginásios para milhares de pessoas. Uma turné comemorativa aos vinte anos de seu aparecimento nacional, quando com "Travessia" e "Morro Velho", foi a grande revelação do Festival Internacional da Canção, em 1967, no Rio de Janeiro.
Milton Nascimento é um dos artistas mais generosos da música brasileira. Compositor notável, dono de uma sonoridade única em suas interpretações, encontrando sempre os parceiros capazes de melhor externarem sua poesia - como Ronaldo Bastos, e especialmente Fernando Brandt - a sua obra extensa e marcante. Especialmente neste álbum-documento, com todo o calor de uma gravação ao vivo, é emocionante ouvir Milton interpretar "Nuvem Cigana" (parceria com Ronaldo Bastos), "Pensamento" (com Fernando Brandt), "Nós Dois" (parceria com Luiz Avellar), "Lágrima do Sul" (parceria com Marco Antonio Guimarães, falecido há um ano), "Louvação a Marina" (a espiritual música que fez com os bispos Pedro Casaldáliga e Pedro Tierra), "Maria Maria"(com Brandt), "Tarde" (com Márcio Borges) e a própria faixa-título do disco-show, de seu encontro com o compositor português Sérgio Godinho.
Um belo disco. E nem poderia ser diferente!
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